250º Aniversário da Igreja da Lapa: “lembrar os que vivem do mar e saem para o mar” (fotos e vídeo)

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Este fim de semana, inauguraram-se as iluminações de celebração dos 250 anos da Igreja da Lapa, um edifício histórico e simbólico na Póvoa de Varzim.

Num “ano jubilar”, como referido pelo Padre Duarte Nuno Matos da Rocha, este foi o primeiro momento de vários outros eventos que irão decorrer, no ano do 250º aniversário da Igreja da Lapa. A cerimónia ficou marcada pelo apagar das iluminações das festividades da Senhora da Assunção, na fachada principal e o acender da nova iluminação, na frente virada a mar – carregada de simbolismo e que vai iluminar a igreja durante os próximos dose meses.

O artista Hélder Luís, que projectou esta obra de luzes, quis explicar à comunidade presente o simbolismo que circunda a iluminação. Em primeiro lugar, a iluminação assume a forma de um logótipo que representa tanto a igreja como a sua comunidade.

O primeiro desafio que se impôs durante o processo de projeção da obra foi decidir qual das frentes da igreja representar; na opinião de Hélder, representar ambas as frentes teria um resultado final no mínimo “dececionante”, pelo que em decisão conjunta com o Presidente da Câmara Municipal, Eng. Aires Pereira, com o Doutor Luís Diamantino e com o Pároco da Igreja, optaram por representar a frente virada para o mar, tanto pela importância histórica do farol como por se tratar da característica arquitectónica mais distintiva da igreja.

Assim, além do farol iluminado, o artista adicionou, ainda, dois elementos que não constam da arquitetura da igreja: as ondas – nas laterais do farol – que ajudam a identificar o edifício da igreja, mas que simultaneamente são uma alusão à proximidade do mar, à comunidade piscatória e a todos aqueles que perderam a vida no mar; e o anel de luz, que tanto representa a ligação da comunidade ao farol – durante muitos anos o farol era a entrada da barra na Póvoa de Varzim, pelo que a luz do farol era imprescindível aos pescadores -, mas que ao mesmo tempo representa a aureola santíssima, o que é divino e o caminho espiritual e individual de cada um.

No encerramento da cerimónia esteve o Presidente da Câmara Aires Pereira, que referiu a importância simbólica desta obra artística, aludindo à tragédia do 27 de fevereiro de 1892, onde “à entrada da barra, morreu muita gente”. Este “símbolo maior, que é a nossa igreja”, continuou o autarca, nas comemorações dos 250 anos da Igreja da Lapa, decorrerão ao longo do ano diversos eventos para assinalar a data desde “procissões, conferências, a emissão de uma medalha”, algo que “nos vai relembrar e fazer participar nesta comunidade”.

A cima de tudo, as celebrações dos 250 anos e, em especial, estas iluminações, são uma demonstração de “respeito pelos que vivem do mar e saem para o mar”, num local de “união” e que é também um “edifício tão marcante da Póvoa de Varzim”.

27 de fevereiro de 1892: Uma tragédia que há 129 anos mudou vida dos pescadores e da Póvoa de Varzim

Em 1892, 105 homens, a maioria da Póvoa de Varzim, perderam a vida no mar. Depois deste acidente famílias ficaram destruídas, as viúvas não tinham como alimentar os filhos. Uma tragédia que ficou para sempre conhecida como o 27 de fevereiro.

Nesse ano, janeiro foi um mês bom para a sardinha, mas faltava pescada. Numa quinta-feira antes do carnaval o tempo piorou, mas era preciso ganhar dinheiro e os pescadores mais novos aventuraram-se. Sessenta e dois barcos saíram para o mar, mas pouco depois o tempo piorou, com grandes tempestades e névoa cerrada. Os que estavam longe de terra tentaram regressar, mas os que foram para as Caxinas rebentaram-se nos penedos e os que vieram para a Póvoa também. Perderam-se 105 vidas, 70 poveiras e 35 de pescadores da Afurada.

Aquando da tragédia não havia registos, não se sabia ao certo quantos barcos saíram para o mar, nem quantos pescadores iam nas embarcações. Os registos, só aparecerem depois, quando saiu um decreto do Reino a obrigar os pescadores a registarem-se.

Mas o registo teve alguma dificuldade, pois, quem se registasse, tinha que cumprir o serviço militar obrigatório e muitos queriam fugir. Os barcos passaram a ser registados, construíram-se e reativaram-se faróis, e foi criado o Instituto de Socorros a Náufragos por ordem da Rainha D. Amélia.

Quase 130 anos depois a tragédia continua a ser recordada e os pescadores homenageados, durante muitos anos no dia 27 de fevereiro nenhum barco saía para o mar e as festas de S. Pedro – padroeiro da Póvoa de Varzim – foram canceladas.

As comemorações dos 250 da Igreja da Lapa são, uma forma de hoje recordar este dia que mudou não só a vida da cidade, como da atividade piscatória.

Vídeo – Facebook Orgulho Verde e Branco; Fotos de Johnny Silva