Um vírus chamado Homem

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Ao longo dos últimos anos, o país e o mundo têm vindo a assistir a um aumento exponencial de movimentos de apoio às causas ambientais. No último ano estes movimentos tiveram maior expressão com a entrada em palco da jovem ativista sueca Greta Thunberg, que deu início ao movimento global “Fridays for Future”, inspirando milhões, especialmente jovens, a lutarem contra as mudanças climáticas. O seu nome chegou mesmo à lista das 100 pessoas mais influentes do planeta, tendo sido considerada personalidade do ano pela revista TIME.

Contudo e num “piscar de olhos”, tudo isto parece ter passado para segundo plano. Observamos uma alteração abrupta das prioridades a nível mundial pois, de um momento para o outro, todos os países se veem envolvidos numa guerra contra um inimigo comum, invisível, mutável, contagioso, de forte propagação e que ataca as vias respiratórias, colocando muitas pessoas em risco – a SARS-CoV-2, o novo Coronavírus (COVID-19).

Com a sua rápida disseminação, a Organização Mundial de Saúde (OMS), foi apresentando várias medidas para o combate a esta doença e não tardou em considerá-la uma pandemia. Uma das medidas adotadas por vários países passou pelo confinamento da sua população, pelo encerramento de estabelecimentos comerciais e ainda pelo fecho das fronteiras para conter ou mitigar os seus efeitos sobre a saúde das pessoas e também sobre a economia mundial. A nível interno, a aplicação destas medidas teve como resultado num controlo generalizado da propagação do vírus permitindo ao SNS uma resposta adequada aos casos registados e que requeriam acompanhamento em meio hospitalar.

Contudo, as medidas que foram tomadas trouxeram grandes e graves consequências socioeconómicas, quer para a maioria das empresas, quer para as famílias em geral com a perda do rendimento mensal, indispensável para a aquisição de bens de primeira necessidade.

Com o confinamento foram surgindo notícias surpreendentes que davam conta de algumas alterações ao nível do ambiente e que tinham a ver com o aparecimento de animais selvagens em lugares inusitados (avistamento de javalis no centro de Madrid onde, por norma, o que lá se assistia era a confusão citadina), com a queda significativa de emissões de gases poluentes (o maior buraco na camada de ozono no Hemisfério Norte acabou por fechar) e com a despoluição das águas (os canais da cidade de Veneza começaram a apresentar águas límpidas como nunca antes visto).

Em poucos meses e enquanto duraram as medidas de confinamento, o vírus conseguiu fazer com que tivéssemos obtido resultados positivos ao nível ambiental e que já vinham a ser reivindicados pelos movimentos ambientalistas ao longo de vários anos, sem sucesso.

Com o aliviar dessas medidas e com as rotinas a voltarem ao que era habitual, o planeta voltará a ser igual. Voltaremos à “triste rotina” de poluir a casa de todos nós – o nosso planeta.

Será que não estamos na presença de um vírus ainda mais perigoso que a SARS-CoV-2? Não será esse o vírus de todos os vírus?

Conseguiu-se isolar por uns meses o Homo Sapiens Sapiens em laboratório e toda a natureza tendeu a regressar ao que foi anos a fio. Ao devolvê-lo de novo à natureza voltar-se-á novamente à agonia do meio ambiente. Que consequências advirão do regresso do vírus Homem?

Com a necessária retoma das atividades económicas assistiremos ao regresso das emissões de gases poluentes, entrando em contraciclo com a “lufada de ar fresco” que havia sido o confinamento para o nosso Planeta.

Com o desconfinamento, este vírus sofrerá mutações e apresentar-se-á agora de máscara no rosto (possivelmente mal colocada), de luvas calçadas e, em certos casos com viseira. O uso destes Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) que em grande parte são descartáveis, constituirão um grande problema ambiental e sanitário: Ambiental, uma vez que assistiremos à utilização desgovernada dos mesmos, acabando estes no chão das ruas, nas praias e nos oceanos. Sanitário porque poderão ser fonte de contágio do outro vírus (COVID-19) atentando, assim, contra a saúde pública.

Em suma, acredito que estes atos devam, hoje mais que nunca, ser bem fiscalizados pois, como já sabemos, constituem um perigo iminente para a população em geral. É urgente o combate a esta “nova estirpe” de vírus Homem que infelizmente tem e continuará a ter (se nada for feito) cada vez mais impacto na sociedade e no ambiente.

Pedro Carvalho