Pfizer apoia investigação da doença dos pezinhos

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Através do programa de bolsas médicas, a multinacional farmacêutica Pfizer financiou um projeto de investigação, no valor de 127 mil euros, para durante dois anos, a investigadora Márcia Almeida Liz, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), estudar os mecanismos que causam morte neuronal nos doentes com Polineuropatia Amiloidótica Familiar (PAF), também conhecida como “doença dos pezinhos” ou paramiloidose, comum na Póvoa de Varzim e Vila do Conde.

O objetivo é identificar novos mecanismos que precedem a morte neuronal, o que pode ter impacto numa intervenção precoce na doença.

A PAF, ou doença dos pezinhos, é uma doença genética rara causada por mutações na proteína Transtirretina (TTR), que provoca neurodegeneração. A PAF afeta aproximadamente 10 mil pessoas em todo o mundo e tem um impacto relevante em Portugal, tendo sido descrita pela primeira vez, na população portuguesa, na Póvoa de Varzim – motivo pelo qual há mais registos da doença nesta área. O mais recente estudo epidemiológico, realizado em 2016, identificou cerca de dois mil doentes em Portugal, o que representa cerca de 20% dos doentes em todo o mundo.

A doença manifesta-se inicialmente entre os 25 e 35 anos (podendo ocorrer depois dos 50 anos), nos membros inferiores, afetando a sensibilidade aos estímulos (por exemplo, térmicos) e a capacidade motora. Trata-se de uma doença hereditária, crónica, progressiva e fatal, com evolução em 10 anos. 

As opções terapêuticas para a PAF incluem o transplante de fígado (órgão onde a proteína TTR é sintetizada) e estratégias para estabilizar ou silenciar a TTR, com o objetivo de diminuir a progressão da doença.

Porém, estas opções não revertem a neurodegeneração causada pela acumulação da proteína TTR, ou seja, não curam as lesões já exisentes.

Assim, para a investigadora Márcia Almeida Liz, urge a “necessidade de caracterizar as vias celulares envolvidas na neurodegeneração”.

O principal objetivo deste projeto passa por “investigar a hipótese da TTR mutada interferir com o citoesqueleto neuronal”. Para testar esta hipótese, “vamos caracterizar alterações no citoesqueleto neuronal, assim como os mecanismos moleculares subjacentes, num modelo animal de PAF e em amostras de nervo de doentes”, projeta a investigadora.

Este trabalho, sublinha Márcia Almeida Liz, “poderá revelar um novo efeito da TTR mutada, assim como mecanismos que antecedem a progressão da PAF”. Adicionalmente, as conclusões deste trabalho podem, no futuro, “constituir a base para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas para a PAF”.

Denominado «Caracterização de defeitos no citoesqueleto de microtúbulos e em transporte axonal na Polineuropatia Amiloidótica Familiar», o projeto contou com o apoio da Unidade de Investigação e Inovação do i3S e será desenvolvido por uma equipa liderada por Márcia Almeida Liz, e da qual fazem também parte as investigadoras do i3S Joana Magalhães, Marina Silva e Mónica Sousa.

O projeto conta também com a colaboração do médico Ricardo Taipa, da Unidade de Neuropatologia do Centro Hospitalar Universitário do Porto.