O vilacondense, que esta época estava ao serviço do Dnipro, na Ucrânia, contou os pormenores de uma fuga do país que está a ser invadido pela Rússia. O atleta andou mais de 24 horas a conduzir.
“Ontem e hoje foram dias muito complicados. Nestes três dias a partir do primeiro bombardeamento, foi este sentimento de medo. Só hoje (sábado), quando passei a fronteira para a Roménia, é que aliviei”, disse o atleta vilacondense, muito emocionado, na chegada ao Aeroporto de Lisboa, ontem à noite.
Nélson Monte descreveu como conseguiu fugir de Dnipro, cidade no sul da Ucrânia. “Foi de loucos. Nós, que vivíamos em Dnipro, organizámo-nos e fugimos para o centro de estágios do clube, para tentar perceber o que era para fazer. Disseram-nos para irmos para Lviv. Em casa tinha ouvido duas bombas. No centro de estágios explodiu outra e escondemo-nos num bunker”.
E continuou: “Quando estávamos na estrada tivemos a informação de que podíamos ficar no hotel do presidente do clube, que era um local seguro, mas para mim não havia lugares seguros. Aproveitámos para encher os carros e no dia a seguir, às seis da manhã, fomos Lviv para passar para a Polónia. Foi horrível. O GPS dava uma estimativa de 13 horas e eu conduzi durante 25 horas. Havia estradas principais cortadas, tínhamos de ir por secundários e muitas delas no meio do mato, andávamos a 20, 30 quilómetros/hora e isso para quem está em fuga é um desespero. Estávamos a fugir com dois ucranianos, era importante para receber informações via rádio, soubemos que Lviv estava a ser evacuada e alterámos a rota para fugir para Roménia”, esclareceu o antigo jogador do Rio Ave.
Nélson Monte explicou o quadro que ia encontrando no caminho da fuga. “Não sei se eram militares russos ou ucranianos, tivemos alguns checkpoints, tudo com a máxima calma. Era um momento de tensão, armas por todo o lado, quando abri a janela do hotel tinha um tanque em frente e ainda tive mais medo”, e prosseguiu: “Hoje foi muito complicado na fronteira. Quando cheguei de carro era uma fila incrível para fugir do país. Deixei o carro a dez quilómetros da fronteira e fiz o resto do percurso a pé. Quando lá cheguei, só deixavam sair mulheres e crianças e não nos davam justificação porque é que os estrangeiros não podiam sair. O inglês também era pouco, só diziam mulheres e crianças. Ali assisti a muita coisa. Fiquei quatro horas… A quantidade de ucranianos que tentavam fugir e depois não podiam… Os filhos e as mulheres iam e eles ficavam. Eu estou bem, vi muita coisa que sei que me vai marcar para o resto da vida”, relatou, garantindo que disponibilizou ajuda para as famílias dos colegas ucranianos.
“Informei que quem quisesse mandar famílias para Portugal ia ajudar”, disse, assegurando que os companheiros estão prontos para lutar. “Eles estão dispostos a ir para a guerra. Vão defender até morrerem a sua pátria”, garantiu Nélson Monte, deixando um apelo. “O que peço e que ajudem o povo ucraniano, não mereciam passar por isto. O meu coração está com eles”.
Foto JN