Descer de cotação com água a subir

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Dia 29 de Outubro. A Igreja católica celebra São Narciso e São Feliciano, santos da sua corte celestial. A nível internacional aponta-se que em 1863 foi fundada a Cruz Vermelha; em 1919 foi criado o Comité Olímpico Nacional; em 1936 as autoridades portuguesas (de má memória) inauguraram o campo de concentração do Tarrafal com a chegada de 252 presos políticos; em 1969 é enviada a primeira mensagem de correio eletrónico (email); em 1997 é inaugurado o novo Estádio Cidade de Coimbra com o jogo Académica x Benfica; e já que estamos a falar de futebóis, em 2022 o Varzim perde pela primeira vez esta época. Já tinha somado dois empates fora de portas, assim como averbado vitórias tangenciais e triunfos após prolongamento nas duas competições em que participou, mas esta foi a primeira derrota sofrida na Liga 3 dentro do seu historial.

Resultado: teve de abandonar o comando da série norte, a favor, de novo, do Vilaverdense que foi vencer a terras montanhosas de Barroso. Uma derrota varzinista que não pode deslustrar a sua carreira, pois ainda há muito caminho para palmilhar e o que é preciso, para já, é fazer contas à vida quanto à diferença pontual com o 5.º lugar, porque daí para cima o prémio, no final desta primeira fase, é igual para os quatro: apuramento para a decisiva fase final. Depois, sim, é arregaçar as mangas e lutar pelo regresso ao profissionalismo.

A derrota de sábado foi envolvida de uma das maiores humidades climatéricas deste princípio de Outono. Foi chover durante todo o jogo, tornando o relvado de tal modo encharcado que mais valia jogar ao jeito de ‘bola para a frente e fé em Deus’, na velha doutrina futebolística, do que procurar jogar o futebol mais credenciado. É certo que o futebol está cognominado como “desporto de inverno”, mas nem todas as equipas estão preparadas para enfrentar as intempéries climatéricas e pluviais. E o Varzim provou à evidência que a invernia não cabe nos seus esquemas, para já.

Serviu-lhe, sim, para no chamado “Mercado de Inverno” reforçar o plantel, com a aquisição de mais um jogador para o ataque, aumentando para 26 o número total para todos os sectores, onde se contam 18 portugueses – e só um, Ricardo Nunes, nado e criado nesta Póvoa de ‘bravos marinheiros’ – sendo 3 brasileiros, 2 colombianos, um nigeriano, outro espanhol e um da Guiné Bissau. João Vasco, nascido há 27 anos para os lados onde o folclore do alto Minho tem foros de excelência, depois de ter feito toda a formação no clube da sua terra, a vianense Darque, e, já sénior, ter dado um passo ao lado para o vizinho (e lendário) Vitorino de Piães, aventurou-se a descer pelo mapa de Portugal, passando por Mortágua, Tondela, subiu a Barcelos e voltou a descer para Castelo Branco, mais abaixo para o algarvio Portimão, e passando os últimos dois anos em Viseu.

Foi nas terras de Viriato que viria a entrar no rol dos desempregados, valendo-se de uma cláusula criada pelos entendidos das leis para que o Varzim o fosse buscar a “custo zero”, tirando-o do desemprego e dando-lhe direito a ganhar o pão com o seu trabalho. Foi inscrito quase no fim de semana, para estrear-se três dias depois em S. João de Ver. Entrou na segunda parte, ainda sem tempo para mostrar o que vale, e vistas bem as coisas não foi por sua culpa que o Varzim perdeu o jogo. Houve jogadores que não se deram bem com o estado do terreno nem com a forma da equipa atuar. Deste modo, para acontecer o primeiro desaire varzinista, não se pode atribuir culpas apenas aos elementos climatéricos.

A tão ambicionada (tempos antes) chuva que fazia falta às barragens e à agricultura, principalmente, passou de ansiada para ser indesejada para as pessoas, terras, haveres e, principalmente, para os males causados nas ruas, ruelas, avenidas e estradas principais, ao tornar-se mais intensa. E o mesmo aconteceu ao relvado que serviu de palco ao encontro que ditou a primeira derrota do Varzim. Mesmo assim, não faltou, vindo das bancadas, o apoio dos varzinistas presentes em número de mais de uma centena, semelhante aos da casa. Nem a exibição menos conseguida da equipa dos amores lhes tirou a vontade de apoiar de princípio ao fim, e mesmo na despedida a promessa de que melhores dias virão, andou de mãos dadas entre assistentes e jogadores.

O que prova que pode ser levada em conta a velha máxima herdada dos nossos avoengos de que “por morrer uma andorinha não acaba a primavera”. Neste caso a ‘primavera’ da esperança para satisfação de um desejo que se torna comum entre os lobos do mar – dentro e fora das chamadas ‘quatro linhas’. Neste sábado, de má memória para os varzinistas, os adeptos alvinegros foram até às paragens de Santa Maria da Feira com o desejo acalentador da vitória, mas acabaram por ver um S. João a festejar um dia de festa fora do seu tradicional solstício de verão, onde os dias são mais compridos e propícios a prolongar festerolas.

O Varzim tem agora pela frente três jogos seguidos no seu velhinho e alindado Estádio: frente à equipa B do Vitória de Guimarães (dia 4-11, sexta-feira) e ao Vilaverdense (dia 12-11, sábado) para a Liga 3, além de novo encontro com o S. João de Ver para a quarta eliminatória da Taça de Portugal (dia 8-11, terça-feira) – que até pode servir de vingança ao que aconteceu no sábado, embora essa palavra não seja muito apropriada para a linguagem futebolística. Esse trio competitivo pode tornar-se num teste valoroso à capacidade da equipa, projetando-a para um futuro que se torna (e se deseja) ambicioso, pois doutra forma não pode ser encarado como profícuo o trabalho desenvolvido por tudo quanto envolve o nome do Varzim SC.