Ver os outros pelas costas

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O Varzim subiu ao cimo do ‘monte classificativo’, agora sem companhia, e já pode ver toda a concorrência pelas costas, do alto do pedestal. Não foi fácil lá chegar e será muito difícil manter essa posição até final da primeira prestação da terceira competição futeboleira do nosso país. É uma posição que não dá títulos para aureolar qualquer palmarés clubista. Mas é assim ao jeito de “candeia que vai à frente ilumina duas vezes”, como ensinam os ditados populares. Porque o mais importante para que se possa cantar vitória no final do Campeonato (e desta temporada desportiva), é conquistar uma posição que possa levar os varzinistas a exteriorizarem toda a sua fé clubista, num desejado regresso ao futebol profissional.

O clube poveiro, para se desenvencilhar da companhia dos representantes de Vila Verde na divisão do comando da série nortenha, teve de apanhar um grande susto, devido ao arreganho dos visitantes, e só depois pôde dar largas à sua satisfação dentro e fora do jovem e bem nutrido relvado do alindado estádio do clube. Porque a equipa transmontana que apadrinhou o Varzim no regresso a casa, foi um osso duro de roer, ao contrário do que aconselha a velha tradição dos saborosos presuntos lá das fraldas do Marão.

Só depois de ter sofrido um susto com os homens de Montalegre a criarem algumas dores de barriga aos varzinistas, é que os ossos deram lugar à saborosa carne transmontana (em sentido figurado, claro, sem qualquer ponta de desprestígio para quem desceu da serra até ao mar), servido em dose dupla. Mas para isso, para que a reviravolta no resultado se registasse, foi preciso esperar pela segunda parte da peleja, com o intervalo a ser bom conselheiro para o “comandante das tropas”, recorrendo ao ‘banco’ para se servir das ‘economias’ lá depositadas – dois elementos de credenciais valores atacantes, como são o luso-francês Ludovic e o brasileiro Gustavo Souza, senhores de cotações experientes na idade e nos seus historiais. Ambos deram mais força na procura de golos.

O natural de Maripá (Minas) abrilhantou ainda mais o seu estatuto de goleador ao apontar o segundo golo, o da confirmação do triunfo, e também protagonista no lance que deu força para ser aberto o caminho da vitória, cujo papel pertenceu ao defesa central Bruno Bernardo que subiu à ‘zona de conflitos’ contrária para sair de lá a dar largas ao seu contentamento de se estrear nas finalizações vitoriosas, de braços abertos para dividir os festejos com a ‘família varzinista’.

Aliás foram dois golos com cabeça, tronco e membros, como aconselham as boas normas futebolísticas: cabeça, porque foi com essa parte do corpo humano que os dois jogadores usaram para os remates vitoriosos; tronco, porque as jogadas não foram fruto de ocasião, mas sim construídas e concluídas com espírito coletivo de equipa; e membros, porque deu pernas aos Lobos do Mar para subirem a escalada de se instalarem no alto da montanha classificativa. O golo dos transmontanos, já no lavar dos cestos nesta época de vindimas, para além de servir de prémio de consolação pelo trabalho desenvolvido, provou à evidência o valor desta lusitana terceira competição, também evidenciado em campo na pouca diferença competitiva entre o primeiro e o último classificado da série A composta por equipas do Norte.

Depois de um regresso a casa assinalado da melhor forma, resta esperar pelo que reserva aos varzinistas o futuro que aí vem. A primeira missão é não sair, pelo menos, do ‘quarto’ onde se vai instalar o quarteto de pretendentes à segunda e decisiva fase na mistura de nortenhos com sulistas para formarem uma série e oito lutadores pelos dois lugares de acesso ao profissionalismo. A segunda missão, é manter a chama ardente que reina no seio varzinista, e dar corpo ao “orgulho e vida” tão apregoado em termos cantantes (e não só) pela “família alvinegra”.

Até esta altura, só estão cumpridas 6 das 22 jornadas. Faltam, portanto, 16 para ser atingido o final da primeira estrada. Depois, se as coisas não correrem mal (“chega para lá essa boca suja…”, na gíria popular poveira), há pela frente mais 14 jornadas para serem cumpridas em busca dos lugares de honra com direito a prémio de subida e título a atribuir.

Se sonhar é fácil, sonhar acordado pode tornar-se em pesadelo. Vamos lá dar um passo de cada vez, como aconselham as caminhadas desportivas e acima de tudo não pôr para trás das costas o tão apregoado amor clubista e bairrista.