Falta só um bocadinho… opinião de Luís Leal

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Há, por vezes, pequenos pormenores que se podem transformar em “pormaiores”, numa comparação muito usada pelo comentador futebolístico Carlos Brito nas suas intervenções televisivas. Pois aqui bem perto, também acontece o mesmo, embora não se trate de futebóis, mas sim de vias de acesso rodoviário.

Toda a gente reconhece que com a criação da Metro, a ligação entre as estações da Póvoa de Varzim e do Porto (esta “batizada” de Dragão) melhoraram em escala elevada no seu percurso de três dezenas de quilómetros. Certamente que ninguém podia antever, há anos atrás, que fosse possível a expropriação dos terrenos necessários para a construção de uma via ferroviária dupla, para a circulação das composições de transporte de passageiros e que liga os concelhos da Póvoa de Varzim até à capital do Norte, com passagens pelos concelhos de Vila do Conde, Matosinhos e Maia. Pois aquilo que à primeira vista parecia uma miragem que não saía dos papeis dos projetos, acabou por se tornar em realidade.

Só que a obra, passados tantos anos, ainda não está concluída. Faltam os tais “pormaiores” para que tudo esteja em ordem.

Vejamos: Quem seguir viagem rodoviária nas duas vias que ladeiam os trilhos do Metro, depara com um entrave no seu trajeto. Junto ao Farol de São Brás, existe uma parcela de terreno por expropriar impedindo a livre circulação de veículos entre a Póvoa de Varzim e Vila do Conde. Dizem os entendidos que são apenas 170 metros. Uma insignificância a ensombrar uma grande obra. A Câmara Municipal poveira sacode a água do capote, afiançando que não é nada com ela, mas sim unicamente do município vilacondense, não encontrando até motivos que sirvam de base para tão estranha situação. Quem explorou tanto terreno (baldio, de cultivo, ou até habitacional), não se pode escudar em pequenos-nadas para a obra não ficar completa. Talvez vontade política, já se ouve dizer. Mas que vontade política pode haver se estão em causa os interesses públicos?

Porque, está bem à vista, não houve qualquer entrave, nem político nem bairrista para que a ligação junto ao mar não fosse uma pura realidade. Os dois municípios bem unidos, com ajudas oficiais, deram as mãos para que a frente de mar se tornasse não só em acesso rápido na circulação, como alindando uma paisagem que ganhou formas turísticas de excelência, quando antes até se tornava num duro contratempo, sendo necessário dar a volta à extinta fábrica de conservas Póvoa Exportadora (erguida pela vontade férrea do poveiro Santos Graça) e esquivar os elementos marinhos para se poder entrar nas Caxinas como via de acesso não só ao mar como à sede do concelho vilacondense. Ao ver-se este exemplo, salta à vista que o mesmo poderá acontecer junto ao Metro. Sem necessidade da circulação (rodoviária e pedonal) ser interrompida desde o bairro poveiro de Regufe até Portas Fronhas, à entrada de Vila do Conde. Aquele “espaço morto” não só se torna em grande contratempo, como também exige uma circulação forçada por entre ruas apertadas.

Já é tempo dos dois municípios-gémeos darem as mãos, com o vilacondense a ter mais culpas no cartório, e tornar a ligação entre as duas cidades com tanta dignidade como a que, por força das vontades, aconteceu com a frente de mar, valorizada recentemente com polos de cultura, lavor e recreio, onde a ligação mar-terra se torna numa agradável realidade.

Vamos lá por mãos à obra, porque nunca é de mais fazer o que se torna necessário para bem dos povos. Acabar com um pormenor pode tornar-se numa obra maior do que à primeira vista parece. Até porque… falta apenas um bocadinho.

Opinião de Luís Leal – ‘O Meu Cantinho’