Já lá vai o longínquo tempo em que a amora se tornava numa iguaria saborosa, muito apetecida principalmente em casas menos abastadas. Daí se tornar numa azáfama, por parte da rapaziada, num tempo que medeia os meses de verão, percorrer terrenos mais ou menos baldios, onde havia silvado para colher o que se tornava num dos frutos mais saborosos da época. Saborosos e baratos, pois o que mais custava era aguentar com os arranhos que os picos das silvas distribuíam por quem se aventurava introduzir-se na colheita dos negros frutinhos. Até era costume, quando o verão estava no seu auge, mulheres das aldeias apregoarem a venda de amoras que carregavam à cabeça em cestas de vime forradas com fetos campestres para que a frescura se mantivesse o mais possível a envolver os frutos. A venda estendia-se não só pela periferia das povoações, mas também nas zonas mais centrais. Tudo isso acabou e o fruto silvestre já não tem procura… e, a bem dizer, locais apropriados para o crescimento de silvados.
Pois no Varzim, na sua tarefa de preparar malas e bagagens para a próxima temporada futebolística, com o desejo ardente de que não seja para dar tantas dores de cabeça aos varzinistas, estenderam-se os braços para colher amoras, ou melhor, no “silvado” do Amora, clube que tem o seu quartel general para os lados da margem sul do Tejo, com o rio maior de Portugal praticamente a beijar o seu velhinho Estádio da Medideira, local bem conhecido do Varzim do passado, quando lá disputou jogos dos dois maiores Campeonatos de futebol.
Podem tratar-se de dois frutos bem saborosos, os que os responsáveis foram buscar ao Amora FC, do mesmo escalão, na zona sul, da competição onde se insere o clube poveiro. Joca e Nuno Pereira foram os escolhidos. Ambos com fama (e algum proveito) de goleadores. Portanto muito apetecidos para reforçar uma equipa que andou faminta de golos. Os dois evidenciaram-se como os grandes suportes do ataque amorense, com uma soma, em conjunto, de 12 golos na época passada. E como ambos têm idades um tanto maduras, é caso para se dizer que estão numa boa altura para serem “saboreados” no seu novo clube. Nuno Pereira, de 27 anos, é natural de Guimarães e dividiu a sua formação, desde os 11 anos, pelo Avintes, Oliveira do Douro, Candal e Boavista, sendo no clube do Bessa que passou para sénior, e andando depois emprestado pelo Gondomar e Felgueiras, sempre ligado aos axadrezados, tornando-se independente nas suas passagens pelo Sousense, Pedras Rubras, União de Leiria, Louletano, Anadia e na época passada esteve no Amora, onde marcou 8 golos nos 26 jogos.
No caso de Joca (Jorge Pedro Corte Real Samelano Monteiro de seu nome completo), tem uma história bem diferente. Nasceu em Paio Pires, concelho do Seixal, há 30 anos, tem-se cotado como goleador, marcando quatro na época finda nos 21 jogos em que participou. Nos 332 jogos que foi utilizado ao longo da sua caminhada de seniores, no Amora, marcou 107 golos. O mais curioso na sua história é que nunca saiu do seu “berço”. Com 10 anos começou a carreira no Amora e nunca conheceu outras cores que não fosse a camisola celeste de estrela azul no emblema ao peito. Nada menos do que em 21 épocas nunca esteve ligado a outros clubes que não fosse o do seu coração e da terra que o viu nascer. Será a primeira vez que se aventura em subir os degraus do mapa de Portugal para se instalar no Norte onde mora o Varzim, trazido pela mão dos responsáveis pela estrutura do clube poveiro. Uma aventura que se deseja feliz para bem do seu novo clube que tanto procura acabar com um passado recente e que tantas aflições criou por ser de triste memória.
Pelos vistos não é só no apetrecho da equipa principal que assentam os olhares dos responsáveis diretivos e técnicos. Também a equipa B que participa no Campeonato da Elite da Associação de Futebol do Porto, está a sofrer grande remodelação. Principalmente na escolha de jovens jogadores, sem olhar a clubes, nacionalidades e currículos, com a promessa bem estampada numa “aposta em jovens de valor permitindo o seu desenvolvimento na nossa casa”, lê-se nos anúncios publicados nas redes sociais varzinista. Assim uma espécie de barriga de aluguer. Para já foram assegurados seis jovens, prontos para darem nas vistas de forma à cobiça externa dar lucros às finanças do clube. Depois… logo se verá a dimensão do empreendimento.
No que diz respeito aos reforços dos goleadores para a equipa profissional, espera-se que sejam, de facto, amoras saborosas colhidas no “silvado” banhado pelas águas do Tejo. Fica-se à espera. ‘Opinião Luís Leal – ‘O Meu Cantinho’