“CENTROS DE DIA, NOVOS LARES” – Opinião de Marisa Ramos

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Em Portugal tem-se verificado um aumento acentuado da população idosa ao contrário da população jovem que tem vindo a diminuir. O exposto deve-se ao aumento da esperança média de vida, à diminuição das taxas de mortalidade e à diminuição da taxa de fecundidade.

No que diz respeito ao apoio desta população, poderemos ter dois tipos de estruturas/redes de apoio social: a informal e a formal.

O suporte social informal diz respeito, em particular, à família, sendo esta a rede preferida de assistência e ajuda. O papel de cuidar, frequentemente, é atribuído à mulher. Esta, primeiramente cuida dos filhos, mais tarde dos pais e por fim, tendencialmente, cuida do marido.

Contudo, a entrada da mulher no mercado de trabalho levou a que mesma tivesse cada vez menos tempo para o seu papel de cuidadora, consequentemente, a necessidade de recorrer à rede de suporte formal, como as instituições, aumentou.

De forma a dar resposta à realidade mencionada surgiram os serviços de apoio formal permanente (unidades residenciais, residências assistidas, unidades de cuidados continuados) e os serviços de apoio formal em regime de ambulatório (centros de dia, apoio domiciliário, centros de convívio).

Nos dias de hoje, as famílias vêem-se cada vez mais obrigadas a recorrer à institucionalização dos seus familiares, dado que, tendo em conta a crise económica que se atravessa, não podem abdicar dos seus empregos para cuidar dos idosos.

Face ao exposto surge, aquilo de que intitulo de “centros de dia, novos lares”. Deparamo-nos com utentes que, em função das suas necessidades e grau de autonomia, a resposta mais adequada seria a inserção numa estrutura residencial para idosos. Contudo, é percetível no discurso dos familiares que não encontram disponibilidade nessa resposta perto da sua zona habitacional o que os leva a abdicar de tal, uma vez que se torna impossível visitar frequentemente o seu familiar. Por outro lado, no setor privado a disponibilidade também se encontra muito escassa e quando é existente os valores apresentados tornam-se incomportáveis. Assim, de modo a assegurar os cuidados ao seu familiar, sem abdicar dos seus empregos, procuram respostas como o Centro de Dia.  A frequência de um utente nesta resposta pressupões, face aos objetivos do mesmo, um nível mínimo de autonomia física-motora, e cognitiva. Contudo, deparamo-nos com a procura de Centro de Dia para pessoas com bastante dificuldade de mobilidade, sendo necessário uma constante ajuda humana para andar e evitar quedas. Além do mencionado, necessitam de ajuda para atividades básicas de vida diária como cortar os elementos da alimentação em porções mais pequenas, dar a refeição e auxílio no WC. Por fim, no que diz respeito a dinamização de atividades de animação sociocultural torna-se, em vários casos, ineficaz qualquer tipo de estimulação dado o elevado estado de prostração e falta de reação do próprio utente.  Face à realidade relatada, torna-se impossível, a equipa evitar situações de dependência e promover a autonomia, bem como promover relações pessoais e entre as gerações tal como pressupõe um Centro de Dia, levando a um sentimento de impotência por parte da equipa.

Em suma, é urgente refletir nos valores de pensão atribuídos em Portugal, no propósito de cada resposta social, bem como assegurar o suporte de diferentes respostas em todas as áreas geográficas do país, em especial as Estruturas Residenciais para Idosos.

 

Artigo escrito por Marisa Ramos, Educadora Social da Associação de Solidariedade Social de Santa Cristina de Malta (SANCRIS).