Eu também gosto muito de animais!

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JOSÉ ANDRADE

É verdade! Eu também gosto muito de animais. E reservo-me de não destacar neste meu gosto, o género humano. Sobre estes, animais, racionais, pois claro, colecciono uma série incontável de estórias, e histórias, de e com, quer como protagonista, autor, agente, sobressalente, e sobrevivente. Gosto mesmo muito de animais. Já os tive. Isto é, foi o seu dono e responsável. Eram uma coisa minha. Dos homens prezo e defendo a liberdade… como homem livre.

Já tive animais, mas nunca me passou pela cabeça obrigar os outros a gostar do que eu gosto. Uma questão de racionalidade, razoabilidade, convivência cívica, respeito, para ser respeitado, liberdade de escolha, responsabilidade social.

Já tive animais, repito, e nunca me passou pela cabeça, obrigar os outros a gostar ou desgostar, e muito menos a inventar pretextos para solicitar e receber subsídios, ou esmolas. A liberdade de escolha tem um preço, e por nunca é admissível que sejamos os demais a pagar. Nem sob a capa de piedosa ajuda, nem encapotado amparo.

Sejamos claros. Aquela ‘ajuda’, ‘oferecida’ pela Autarquia poveira, tendo como fundo um ‘amor pelos animais’, é um ataque cobarde uma atração e tradição com muitos anos na Póvoa de Mar, as corridas de toiros. É um filme mal contado. – Para quem tiver dúvidas, e independente de testemunhos locais, basta ler o que sobre este tema foi divulgado em comunicado por um empresário, tão ou mais responsável que muitos outros em diferentes áreas, que na cidade também ganham com a realização destas eventos. Por moda, preconceito, frustração, ou até cobardia, podem não gostar, ninguém os obriga, não intentem obrigar os outros. Como Poveiros, têm o dever de de respeitar a memória, a tradição, a cultura, e a liberdade de escolha de quem gosta. Podem tentar reescrever uma parte da história, mas não podem apaga-la toda. Há quem venda a alma, mas também há quem não tenha medo de viver o presente, respeitando o passado. A autarquia pode, e deve, ajudar quem entenda. O respeito pela gestão dos valores que lhe estão confiados, é uma prova de confiança na sua capacidade de administrar com responsabilidade. Quem pede sabe ao que vai. Quem dá, sabe o que quer em troca.

Mas eu gosto muito de animais. Já tive um cachorro. Ao obrigá-lo a viver, a penar, num apartamento sabia o que ele sofreria, por isso dei-o a um amigo. O mesmo aconteceu com os dois gatos que lhe sucederam. Apesar de ser um aficionado, estas foram duas experiências, dois breves momentos, o fim do deleite da minha boa consciência de animal racional, pensante. A natureza animal em liberdade é dura, é uma vida de luta e de lutas. Mas uma vida dos humanos não é também uma vida de luta(s)?

Mas eu gosto mesmo muito de animais. Tanto, que agora cultivo uma profunda e sólida relação com uma pequena colónia de formigas, uma lagartixa, uns quantos caracóis, e dois pares de andorinhas. É o que ganho em viver frente a um campo. Ao visitá-los, naturalmente que sofro ao ouvir os gemidos, os latidos, os uivos de choro dos cachorros que povoam os andares e varandas dos meus vizinhos, e não só. É uma dor de alma, e também uma dor de ouvidos e de cabeça, perante tantos e tão pungentes latidos. Lamentos que incomodam, física e emocionalmente, mas isso deve ser um daqueles problemas que só acontecem aos que ‘não são amigos dos animais’. Os ‘amigos’, os que se arrogam o ‘direito’ de querem decidir o que é bom e mau, categoria essa onde não me situo, esses, basta terem o seu ego satisfeito. Não me enche o ego, mas satisfaz-me, ver como vivem felizes as formigas da pequena colónia, a lagartixa, os simpáticos caracóis, e o tais dois pares de adoráveis andorinhas.

Na Póvoa, já se foram os barcos, da sardinha, da pesca do alto, os lanchões. Fruto da modernização das pescas, dizem. Permaneceu como relíquia, em tempo de oportunidade político/eleitoral, aquela velha lancha, que jaz no meio da barra, em dias de festa, sozinha. E como eu gosto de animais com raça, trapio, nobreza e bravura!