Carlos Mateus, advogado nascido em Angola e com longa carreira profissional na Póvoa de Varzim, já terminou o seu 4º livro de ficção e vai oferecê-lo aos poveiros. Por causa da pandemia Covid-19, a obra não será publicada pela editora mas sim lançada em formato digital através do MAIS/Semanário.
O seu mais recente trabalho chama-se «A Revolta de Villa Euracini» e foi um dos livros submetidos ao prémio Fundação Dr. Luís Rainha da passada edição do Correntes d’Escritas que decorreu em fevereiro deste ano. A narrativa tem a Póvoa de Varzim como pano de fundo, abrangendo “lugares bem familiares de todos os poveiros”, revela o autor, anunciando “uma mão cheia de personagens com histórias próprias e independentes que depois acabam por se cruzar”. O final “pode surpreender”, deixa no ar.
O coronavírus dificultou a questão logística de editar o livro em capa dura e de ter livrarias abertas para as pessoas o comprarem, além do prolongamento geral do isolamento. Por isso “resolvi fazer em formato PDF e oferecer aos poveiros espalhados por todo o mundo”, decidiu o autor.
Carlos Mateus tem 61 anos e é advogado, uma área onde a palavra deve ser o mais rigorosa e menos ambígua possível. Já a escrita de ficção é o contrário. “A literatura é para mim uma forma de deixar fluir a imaginação. A escrita dá-nos o poder de criar histórias e personagens de raiz, e dar-lhes vida. Isso liberta-me daquilo que é a lei do precedente à qual o advogado tem de obedecer. Por isso eu gosto tanto da ficção”, frisou.
Quando se senta para começar a escrever, Carlos Mateus já tem planeado o início e o fim. O resto vem-lhe naturalmente à medida que enredo ganha forma.
Pandemia não pára processos urgentes na justiça
Não se pode fugir ao tema do momento. Quisemos saber de que forma é que a pandemia da Covid-19 tem impactado a classe dos advogados. Carlos Mateus responde: “A justiça continua a funcionar porque os crimes também não pararam. Os processos urgentes continuam a decorrer. De resto, lidamos com os clientes via internet ou telefone, apenas deixámos de ter um contacto físico mais direto com eles e com os tribunais, uma vez que os julgamentos não-urgentes, esses sim, foram adiados”, analisa, com mais uma achega: “Esta é uma crise que poderá, contudo, cimentar ainda mais as dificuldades que a classe tem porque cada vez há mais advogados inscritos (o que é legítimo) e, por outro lado, as pessoas tendem cada vez mais a recorrer-se de plataformas como google em vez de acompanhamento especialista. Mas temos de nos adaptar”.