A COP28 morreu. Viva a Póvoa em Transição! – Opinião de Pedro Macedo

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A ação climática vai no adro. No passado dia 30 de novembro a Assembleia Municipal aprovou a constituição da associação “Póvoa em Transição – Associação pelo Clima da Póvoa de Varzim”. Levantaram-se questões sobre a importância de existir um Centro do Clima, quando aparentemente pouco se pode fazer. Aqui fica a resposta necessária.

Antes de falarmos do Centro do Clima, vamos às COPs. Terminou na semana passada mais uma, a COP28. Desta vez foi no Dubai que os países de todo o Mundo se reuniram para debater as alterações climáticas. Assim como o Dubai parece retirado de um qualquer filme futurista, também esta COP foi profundamente surreal. Liderada por um magnata do petróleo, o desfecho estava definido à partida: anunciar mudanças para que tudo fique na mesma. Como nos alerta Al Gore, que foi Vice-Presidente dos Estados Unidos e por isso sabe bem do que fala, as nossas democracias foram pirateadas pelos interesses económicos.

Vamos à Póvoa de Varzim. Após uma aprovação unânime na reunião de Câmara, no passado dia 30 de novembro a Assembleia Municipal aprovou a constituição da associação “Póvoa em Transição – Associação pelo Clima da Póvoa de Varzim”. Esta associação irá ser responsável pelo Centro do Clima que iniciou trabalhos no passado mês de julho. Foram colocadas duas questões pertinentes na Assembleia – mas afinal o que é isto do Centro do Clima? E porque haveria a Póvoa de investir na ação climática se o seu contributo para o problema (e para a solução) é tão pequeno dada a dimensão global?

Vamos à primeira questão. O Centro do Clima é um “centro colaborativo de experimentação em ação climática e resiliência comunitária”. Um “centro” no sentido de que se trata de uma infraestrutura concreta, com uma equipa multidisciplinar. “Colaborativo” no sentido que é sustentado e dinamizado por um conjunto simbiótico de organizações e indivíduos. “Experimentação” porque se pretende um foco na investigação-ação, uma abordagem rigorosa e que potencia o melhor conhecimento científico existente, aliada ao foco em intervenções operativas que realizem mudança concreta, tangível e duradoura.

O critério fundamental para as intervenções recai na sua capacidade de contribuir para a “resiliência comunitária”. Este conceito traduz a capacidade de resistir a choques imprevisíveis que advém de uma comunidade coesa e solidária, enraizada no território, conhecedora e orgulhosa das suas origens, motivada e capacitada para regenerar recursos e gerir a transição. Por outras palavras, uma comunidade com elevadas competências adaptativas.

Muito teórico, certo? Vamos a coisas práticas. Lançamos a rede de Bosques pelo Clima, espaços florestais que podem resistir melhor aos incêndios, prevenir cheias, proteger a biodiversidade e gerar receitas nos novos “mercados de carbono”. Estamos a lançar Comunidades de Energia Renovável para tornar a Póvoa dona da sua própria energia, garantindo o abastecimento a preços controlados numa época de incerteza. Foi criado um grupo de cidadãos que está a dinamizar formas de mobilidade ativa e estamos a trabalhar com os ‘jovens pelo clima’. Na semana passada lançamos o programa “Escolas sem Plástico”, como resposta a um desafio da Associação de Pais e Amigos do 1.º Ciclo e Jardim de Infância de Rates.

Em 2024 iremos iniciar projetos na área da alimentação, apoiar as organizações no seu processo de transição, lançar um documentário, abrir um espaço de economia circular, preparar um plano municipal de ação climática de forma participativa e muitas outras coisas.

Vale a pena o esforço e o investimento, como foi questionado na Assembleia Municipal? No contexto atual de mudanças globais, procurar garantir acesso livre a energia barata e renovável, proteger a nossa soberania alimentar e os recursos hídricos, apoiar as empresas nos mercados emergentes, preparar a comunidade para lidar com eventos climáticos extremos… não devem ser encarados como objetivos menores e muito menos como uma causa perdida. Seria demasiada irresponsabilidade, para com as gerações atuais e futuras e o todo da Vida no Planeta que nos sustém.

Não será a COP29 que nos vai ‘salvar’. Será a nossa capacidade de perceber que cada cêntimo investido em ação climática tem um altíssimo retorno em qualidade (e garantia) de vida para os Poveiros, para além das poupanças que gera. E com tantos fundos climáticos existentes, seria uma tolice não os aproveitar. O grande objetivo do Centro do Clima é alavancar o movimento “Póvoa em Transição” – o que vamos fazer juntos em 2024? Pedro Macedo, coordenador do Centro do Clima da Póvoa de Varzim. Artigo que pode ler também na edição papel de 20 de dezembro.