Na passada sexta-feira, a minha tarde foi dedicada a ouvir especialistas e a refletir sobre o Índice de Sustentabilidade Municipal, com enfoque especial sobre as questões ambientais, ou não estivéssemos nós na semana da COP27.
A COP27, conferência das Nações Unidas sobre as alterações climáticas, decorreu ao longo de mais de duas semanas, uma conferência com resultados muito aquém do esperado, em parte causado pela crise energética que vivemos, derivada em grande parte pela guerra na Ucrânia, uma conferência onde se pedia mais, onde se pedia um esforço redobrado por parte dos principais emissores.
A Guerra da Ucrânia causou uma crise global de inflação, energia, alimentos e cadeia de suprimentos, que obrigaram vários países a reduzir as suas metas climáticas no curto prazo, mas, podemos também olhar para este problema como uma oportunidade, uma oportunidade para que os países se tornem cada vez mais autossuficientes em matéria de energia, e isso também pode ser uma oportunidade para os Municípios, como para qualquer cidadão, é acima de tudo uma oportunidade para termos mais e melhor consciência ambiental.
António Guterres não escondeu a sua desilusão nesta conferência, afirmando mesmo que “esta COP não respondeu à diminuição radical das emissões”.
Mas nem tudo foi negativo, esta COP trouxe algo de positivo, segundo Jorge Cristino (especialista em Sustentabilidade ambiental e alterações climáticas) na sua rúbrica da Visão Verde, desde logo, o facto de os EUA e a China se terem sentado à mesa das negociações. Em segundo lugar, a intervenção de Lula da Silva, que se revelou segundo os presentes no “Game Changer” da conferência. Anunciou o fim do “desmantamento” na Amazónia, cobrou aos países desenvolvidos o financiamento em falta do Fundo de Adaptação, e candidatou-se à organização da COP30, em 2025, em suma veio dizer que o Brasil está de volta à luta pelas alterações climáticas, e que falta o Brasil fazia.
Estes últimos dias, o Ambiente e os seus problemas fizeram a abertura da maioria dos telejornais, levando a que cada vez mais, tenhamos, com exceção de alguns negacionistas, a consciência que a mudança climática está aí, e que para além de fazer todo o possível para reduzir as emissões e diminuir o ritmo do aquecimento global, os países também devem se adaptar às consequências climáticas para que possam proteger os seus cidadãos. Os efeitos variam de país para país, de região para região, de concelho para concelho, pois estes variam de acordo com a localização, e isso pode significar no futuro o risco de mais incêndios, ou mais inundações, ou maiores períodos de seca, dias mais quentes ou mais frios ou ainda o aumento do nível do mar e dos rios.
Não podemos falar sobre estas questões sem articular com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Nas palavras de Ban Ki-moon, à data secretário-geral da ONU, esta agenda consiste em 17 objetivos para transformar o nosso mundo, isto é, “são uma lista de coisas a fazer em nome dos povos e do planeta e um plano para o sucesso”
Portugal teve à data uma participação fundamental no processo de definição desta Agenda 2030, com destaque na defesa de sociedades mais inclusivas, de erradicar todas as formas de discriminação e violência, bem como a conservação, e gestão dos seus recursos de forma sustentável. Hoje importa voltarmos a reforçar esta necessidade, voltar a reforçar a necessidade de numa escala mais local, as Autarquias medirem os seus índices, caso contrário como podemos saber se estamos no caminho certo? Se não conseguirmos quantificar, como poderemos monitorizar, como poderemos determinar as nossas ações, mas acima de tudo como poderemos saber qual o caminho para a melhoria contínua da nossa ação no território, bem como as nossas iniciativas junto das populações?
A nossa resiliência ambiental não pode passar apenas pelas questões macro, mas também, pelas questões micro, por iniciativas que podem ser postas em prática num curto/médio prazo, projetos como por exemplo, o Corredor Verde do Rio Leça que uniu os Municípios da Maia, Matosinhos, Santo Tirso e Valongo, são o exemplo daquilo que se pode fazer ao nível local no combate às alterações climáticas, ou em projetos mais pequenos como por exemplo o “Projeto todas as ruas com árvores” do Município de Valongo, onde se pretende plantar árvores em todos os arruamentos possíveis, ou a construção de novos Parques Verdes, como por exemplo o novo parque da Estela na Póvoa de Varzim, ou por último o projeto “Asprela + Sustentável, que constitui um laboratório vivo e que está destinado a auxiliar a cidade a mitigar as alterações climáticas, entre muitos outros exemplos.
Todas estas ações contribuem para a resolução dos problemas ambientais em que vivemos, mas nada disso será possível sem a ajuda de cada um de nós, sem a consciência de que temos de agir já, criando uma cultura de cidadania, de participação ativa e de responsabilidade partilhada.
Este é um compromisso que deve ser assumido por todos!