A ansiedade é uma resposta natural ao perigo, caracterizada por sentimentos de preocupação ou medo. Embora seja uma emoção comum e, em muitos casos, adaptativa, torna-se problemática quando interfere com a qualidade de vida. Os idosos tendem a expressar a ansiedade através de queixas físicas, chamadas queixas psicossomáticas.
Estas queixas podem incluir dores corporais, dificuldades respiratórias, ritmo cardíaco acelerado, problemas intestinais ou sensações de tontura. Devido a estas manifestações, a ansiedade pode ser confundida com condições médicas, como doenças cardíacas, vertigens ou problemas digestivos, levando a um subdiagnóstico do problema, mas também a um aumento da ansiedade. Além disso, a preocupação excessiva com a saúde e o receio do futuro podem amplificar os sintomas de ansiedade, tornando o quotidiano mais desgastante e menos prazeroso. A preocupação excessiva com a saúde pode levar a visitas médicas frequentes ou, pelo contrário, ao evitamento das mesmas.
Entre os fatores que podem desencadear a ansiedade nesta faixa etária podemos ainda incluir a perda de pessoas próximas ao idoso bem como o medo de ficar sozinho, a transição para a reforma ou para um lar, o isolamento social e preocupações com a autonomia.
A ansiedade pode levar a comportamentos evitantes, como evitar sair de casa, resistir a pedir ajuda ou a iniciar novas relações sociais, o que agrava o isolamento.
Também pode manifestar-se através de irritabilidade, impaciência e queixas constantes. Além disso, pode interferir no sono, gerando pensamentos repetitivos que dificultam o adormecer e provocam despertares noturnos, resultando em fadiga e intensificando a ansiedade num ciclo vicioso difícil de ultrapassar.
A identificação precoce dos sintomas e a implementação de estratégias de gestão são fundamentais para melhorar a qualidade de vida e promover um envelhecimento mais saudável e equilibrado. Há duas abordagens em terapia que nestes casos fazem sentido: a Terapia Cognitivo-Comportamental é uma das abordagens mais eficazes para a ansiedade em qualquer fase da vida, ajudando na identificação e modificação de padrões de pensamento que contribuem para a ansiedade. A Terapia de Aceitação e Compromisso também pode ser uma ferramenta útil, pois foca-se na aceitação das emoções, em vez de tentar eliminá-las. Esta abordagem incentiva a realização de atividades significativas, mesmo diante do medo ou insegurança.
Paralelamente, a adoção de hábitos saudáveis pode contribuir significativamente para a redução da ansiedade, promovendo o equilíbrio entre o bem-estar físico e emocional. A prática regular de atividade física desempenha um papel essencial no alívio da ansiedade. Exercícios como caminhadas diárias, hidroginástica, pilates e alongamentos suaves ajudam a relaxar o corpo, melhorar o humor e aumentar a sensação de bem-estar.
Para fortalecer os laços sociais e reduzir o sentimento de solidão, é fundamental incentivar a participação em grupos comunitários ou centros de dia, manter um contacto frequente com a família através de visitas regulares ou utilizar a tecnologia para interações à distância. Além da socialização e da atividade física, manter uma rotina estruturada é também fundamental para proporcionar segurança e reduzir a incerteza que pode intensificar a ansiedade nos idosos.
Em suma, a ansiedade na terceira idade é um problema muitas vezes negligenciado, seja por ser atribuída ao envelhecimento natural, seja por se manifestar de formas menos óbvias. No entanto, compreender e identificar os seus sinais é essencial para garantir um suporte eficaz e promover um envelhecimento mais saudável. A intervenção deve ser abrangente, combinando abordagens psicoterapêuticas, apoio familiar e mudanças no estilo de vida.
Artigo escrito por Inês Loio, Psicóloga e Amiga da Associação de Solidariedade Social de Santa Cristina de Malta (SANCRIS).