Centro de Oncologia do Hospital da Luz disponibiliza “ombro amigo” a utentes (fotos)

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Há dois anos, a vida de Sara Fernandes virou do avesso. Ainda não tinha 30 anos e era-lhe diagnosticado um cancro de mama, sem existir um historial na família. O medo e a ansiedade, naturalmente, surgiram. Contudo, no Centro de Oncologia do Hospital da Luz da Póvoa de Varzim encontrou um “ombro amigo” e o apoio multidisciplinar que necessitava.

“Com 29 anos, não estamos à espera de receber uma notícia” como estas, confessa. Foi informada do diagnóstico num hospital público, onde ainda é acompanhada. “Quando descobrimos que temos um cancro, o ideal era saber hoje, amanhã fazer os exames todos e no dia a seguir estou a fazer tratamento”, diz, mas no sistema público não é tão linear assim, o que “cria um bocadinho de pânico”.

“Não é por mal, é mesmo porque não existe realmente, às vezes, recursos humanos” suficientes, considera a poveira, o que “acaba por criar níveis de ansiedade muito grandes”. Por isso, quando lhe recomendaram o Hospital da Luz da Póvoa de Varzim, não hesitou, até porque “sabia que podia ser um bocadinho mais rápido chamarem-me para tratamento e tinha felizmente um seguro de saúde”.

Atraída pela maior rapidez, ficou ainda mais satisfeita pelo cuidado que encontrou. Segundo Sara, “temos uma doença, mas gostamos de ser olhados como uma pessoa.  Somos uma pessoa individual, e a partir do momento que temos uma médica ou uma enfermeira que ouça as nossas preocupações e nos ampare um bocadinho, acaba por tornar o processo um bocadinho mais fácil”.

Porque quer “viver muitos anos”, Sara confiou na equipa do Centro de Oncologia do Hospital da Luz e viu o stress diminuir. As explicações de todos os tratamentos ao longo do percurso também ajudaram e muito: “a partir do momento que comecei a perceber o que ia ser feito, os níveis de ansiedade também diminuíram”.

“Intervenção multidisciplinar” Matilde Salgado, médica especialista em Oncologia do Centro de Oncologia do Hospital da Luz da Póvoa de Varzim, aborda também esta personalização do tratamento.

“Quando fazemos a nossa formação, somos muito guiados para o tratamento da doença em particular, mas temos de estudar, perceber, conversar com o doente”, diz, até porque “quando estamos a propor um tratamento para o cancro, temos de tratar a pessoa como um todo”. Segundo a médica, “neste caso em concreto, não é apenas um cancro da mama; é um cancro da mama na Sara”.

A Oncologista do Centro é da opinião que este “acompanhamento mais facilitado” é “uma das grandes vantagens do sistema privado”, ainda que o público não o faça de uma melhor forma apenas “porque não tem capacidade para isso” e não porque não há essa vontade.

O enfermeiro especialista Bruno Feiteira concorda, sublinhando a necessária “intervenção
multidisciplinar”. “Nós não tratamos doença oncológica no nosso serviço, cuidamos de pessoas com doença oncológica, que estão rodeadas de uma série de familiares, que também elas precisam muito da nossa intervenção”, frisa.

Por isso, considera mesmo que conjugar a parte humana e emocional é o maior desafio desta profissão, “um desafio contínuo em que não há medicamento nenhum que vá intervir, mas sim a capacidade de nós comunicarmos, de interagirmos, de cuidarmos, na verdadeira essência da palavra, que faz a diferença”.

Acompanhamento é essencial De acordo com Bruno, “nós temos de ser o ombro amigo dos nossos doentes”, aliviando ao máximo a ansiedade. É por isso que a equipa se mostra sempre disponível para esclarecer dúvidas e ouvir preocupações, mesmo que elas surjam a meio da noite – cada paciente do Centro de Oncologia tem acesso aos contactos telefónicos dos membros da equipa médica que a acompanha, e está autorizada a ligar a qualquer hora.

“Se a Sara às 11 da noite tivesse alguma intercorrência, sabia que tinha esse ombro amigo à distância de um telefonema, que rapidamente ia amparar para que não fosse mais um momento de stress, mas que se desconstruísse através do apoio contínuo, e que conseguisse fluir nesta etapa de tratamento”, afirma.

Matilde Salgado reitera: “não lhe resolvemos o problema, mas damos soluções para a pessoa poder melhorar e, acima de tudo, tranquilizamos a pessoa, o que é absolutamente fundamental”.

Do lado do paciente, Sara pode dar o seu testemunho em primeira mão de como este acompanhamento personalizado é importante. “Como é que duas pessoas iguais, até se calhar com o mesmo tipo de cancro e com o mesmo tratamento, uma até consegue e fica curada e outra não fica? Não é só o tratamento em si; todo este acompanhamento, o facto de termos um telemóvel disponível para ligar” é um fator para o sucesso, aponta.

Agora, com 31 anos, Sara já não tem cancro, mas ainda é vigiada e ainda existem receios. Ao retomar a dita normalidade, contudo, vê tudo de uma forma diferente: ter cancro, diz, “é como se fosse uma corrida. Alguma coisa vem atrás de nós, mas nós estamos sempre a correr porque só queremos chegar ao objetivo de ‘ok, isto efetivamente acabou, passou’, o que ainda não aconteceu”.

Família é também ‘intervencionada’ Para além da pessoa com cancro, é importante pensar na família e amigos que também são apanhados de surpresa por este diagnóstico.

Sara lembra-se que, quando partilhou a informação com a irmã gémea, esta “teve uma reação mesmo muito má”, o que acabou por a assustar. O Centro de Oncologia do Hospital da Luz age também no sentido de auxiliar e informar o círculo do doente, para tranquilizar os entes-queridos.

Mesmo quando é preciso dar más notícias, o serviço faz os possíveis para “tentar amparar a ‘queda’ e estabelecer um plano”, apesar de ser “muito duro” para os profissionais de Saúde, que passam “a fazer parte daquela família” e muitas vezes “choram com os familiares”.

Mas, mesmo nos casos negativos, “não é preciso acrescentar dias à vida, mas vida aos dias”, cita o enfermeiro. “A cura é sempre o principal objetivo, porém encaramos como fundamental mais que acrescentar dias à vida, acrescentar vida aos dias dos nossos doentes”, completa a médica.

Mitos e verdades do tratamento no privado Numa abordagem mais técnica, tanto a médica como o enfermeiro lembram que existem vários mitos associados ao tratamento de uma doença oncológica no serviço privado.

Por exemplo, tanto no setor público como no privado, os tratamentos são iguais, orientados por normas internacionais. Como explica Matilde Salgado, “aquilo que é genérico num hospital público é genérico cá, e aquilo que é de marca num hospital público é de marca cá”. E, tal como num hospital público, se se verificar que a patologia seria mais bem tratada numa outra instituição, o doente será encaminhado para lá, seja essa pública ou privada.

Contudo, é verdade que no privado pode haver mais rapidez no início dos tratamentos e mesmo no acesso a medicamentos. No caso de Sara, o processo no público “era mais prolongado até à aquisição do fármaco e o início do tratamento. Cá foi muito mais célere”.

Outro mito é que o tratamento num hospital privado é necessariamente caro. “Se for uma pessoa sem nenhuma convenção, se não tiver ADSE, se não tiver seguro, se for um particular, pode custar alguns milhares de euros o tratamento”, ressalva Bruno Feiteira, contudo há casos em que, com a participação destes planos, a medicação e/ou tratamento podem ficar a custo zero ou perto disso, diz.

Matilde Salgado acrescenta, também, que “não é verdade” que não se façam consultas de grupo multidisciplinares, sendo que o processo de tomada de decisão para o tratamento inclui toda a equipa, o doente e a sua família.

Terminando, garantem que a grande vantagem do setor privado é mesmo a personalização: a possibilidade de ter consultas mais longas ou marcar consultas assim que o pretendem, sem ter de esperar um determinado período, por exemplo.