Segundo dados da PORDATA, mais de 2.5 milhões de pessoas a residir em Portugal são idosas, o que corresponde a cerca de 23.6% da população portuguesa (+/- 10.6M) com tendência para aumentar.
Vivemos mais anos, a inovação tecnológica a nível da saúde evolui de forma a dar resposta aos problemas de saúde que vão surgindo e no entanto, nem sempre é uma velhice de qualidade no que diz respeito ao modo como se vive.
Aumenta a probabilidade de sermos dependentes dos cuidados de alguém e por vezes esse alguém não existe ou não quer ter esse papel.
No passado o idoso tinha um papel importante na sociedade – era o ancião – validava decisões numa família e por vezes numa comunidade. Era conselheiro, sábio, mestre…bem cuidado e estimado pelos mais novos.
Atualmente ser idoso é sinónimo de velho, inútil para uma sociedade que vive de consumos e de interesses materiais, que teve de se adaptar rapidamente a toda esta evolução tecnológica não permitindo que todos a acompanhássemos; aí se incluem os idosos.
A internet que ligou o mundo e tornou-o numa aldeia global acabou por isolar as pessoas e a prendê-las a dispositivos eletrónicos aos quais nem todos têm habilidade ou capacidade para aceder. E aqueles que não acompanham esta evolução acabam por se isolar. Nesse mundo encontramos os idosos, sem literacia tecnológica. Foram afastados dos restantes membros da família, porque não fazem publicações, não veem vídeos, nem sabem tirar uma selfie. Mas carregam experiência de vida, conhecimento e acima de tudo têm todo o tempo livre para dar aos outros.
Por outro lado, temos esta sociedade que não os questiona, que os ignora, que não os inclui, acabando por os abandonar mesmo partilhando a mesma casa.
A família tem o papel mais importante para pôr termo a toda esta exclusão. Incluir um idoso na família, promove o seu bem-estar físico e psicológico, dando-lhe qualidade de vida…qualidade no final da sua vida.
Como pode a família resolver esta questão?
Cabe à família incluir o idoso nas tarefas familiares como é o caso da preparação de algumas refeições, perguntando como preparavam alguns pratos, questionar o que gostam de comer, conversar sobre temas que o idoso domine, mais relacionados com a sua antiga atividade profissional, questões politicas, futebol, ouvindo a sua opinião.
Incluí-los em jogos familiares. Muitos idosos gostam e sabem jogar às cartas, xadrez, damas ou outros jogos de estratégia. No fundo é ir ao encontro dos seus interesses e das suas capacidades. Incentivar à ocupação dos seus tempos com atividades para as quais tenham mais habilidade, como por exemplo: andar de bicicleta, fazer jardinagem, croché, costura, bricolage, entre outras.
Respeitar a sua autonomia. Dar a oportunidade de o idoso tomar decisões, sentir-se independente e apoiá-lo sempre que seja necessário. Acompanhar o idoso às compras, saber o que precisa quais os produtos que prefere.
Dar-lhe atenção e ouvi-lo. Demonstrar interesse sobre o que pensa sobre um determinado assunto. Fazê-lo sentir-se importante e valorizado enquanto elemento da família e enquanto indivíduo.
Grupos de apoio. Durante o dia, enquanto a restante família está ocupada entre o trabalho e a escola, incentivar o idoso a frequentar um Centro de Dia que tenha atividades adequadas à estimulação cognitiva, que possa conviver com outras pessoas com idades próximas da sua, com recordações de tempos antigos, ouvir músicas da altura em que era mais jovem e não esquecer a promoção da atividade física.
Ambiente e o espaço da casa. Frequentemente a família é alertada para eliminar barreiras arquitetónicas que possam pôr em risco a mobilidade de um idoso mais debilitado, prevenindo quedas e as consequências que essas podem trazer. Ao eliminar alguns objetos, tapetes, colocar barras de apoio nas casas de banho, promovemos a segurança do idoso e o seu conforto no lar e também garantimos que possa deambular em todas as divisões da casa evitando que se isole no seu quarto, incluindo-o na família reunida.
Não infantilizar. Um idoso não é uma criança em tamanho crescido. A comunicação deve ser sempre de uma forma adequada, clara, dando tempo ao idoso para responder.
Alimentação e hidratação. O idoso tem necessidades nutricionais muito diferentes de uma criança. É muito comum vermos idosos que têm um regime alimentar pobre em termos proteicos, fazendo refeições semelhantes às crianças com papas, apenas sopa e fruta ao jantar. Cada idoso tem um metabolismo diferente do outro, no entanto as necessidades calóricas devem ser respeitadas e deve fazer várias refeições ao longo do dia e ingerir todos os nutrientes da roda dos alimentos, desde que não haja qualquer restrição na sua dieta. A ingestão de água deve ser incentivada porque o idoso tem menor sensação de sede, prevenindo-se assim situações de desidratação associados à toma de alguns medicamentos como diuréticos e laxantes, e a diminuição da ingestão hídrica, pode originar infeções urinárias (que são muito frequentes nos idosos), quedas com prováveis sequelas graves e internamentos hospitalares prolongados.
Higiene. É do senso comum que no passado os cuidados de higiene eram escassos. As pessoas tomavam banho com menos frequência não aplicavam qualquer tipo de creme hidratante. O envelhecimento, a perda de mobilidade, o medo de cair com a perda de algum equilíbrio, privam muitos idosos de manterem a sua higiene pessoal de forma autónoma. Cabe à família o papel de dar apoio, de incentivar os cuidados de higiene sem que o idoso se sinta sem privacidade naquele momento. Adaptar a casa de banho para as necessidades que o idoso apresenta pode ser o suficiente para que este consiga cuidar da sua higiene pessoal de forma autónoma, só necessitando de alguma supervisão. A aplicação de um creme hidratante pode ser um momento relaxante para o idoso aproveitando-se para massajar algumas partes do corpo que sofrem alguma pressão e aproveitar para vigiar o estado da pele das zonas com proeminências ósseas.
Direitos. Com o envelhecimento surgem algumas incapacidades físicas ou mentais que devem ser avaliadas por uma equipa médica especializada. Desta avaliação pode resultar um relatório que ateste um determinado grau de incapacidade ao idoso o qual poderá beneficiar de um complemento de incapacidade que pode ser de 1º ou de 2º grau. Em caso de ter um baixo rendimento pode candidatar-se ao complemento solidário para o idoso, solicitar produtos de apoio como cadeira sanitária, cama articulada, colchão anti escaras, entre outros, e quando começar a perder capacidades cognitivas, de memória deve-se reunir toda a família e iniciar o processo de regime de maior acompanhado, de forma a garantir que o idoso através de uma pessoa designada por si ou em conselho de família veja assegurado todos os seus bens e interesses.
Para um idoso sentir que vive em família é inclui-lo em toda a dinâmica familiar; é fazer parte da mesma tendo a sua opinião tanto peso como a de qualquer outro elemento.
Estas estratégias contribuirão para um envelhecimento mais feliz, incluído no seio familiar, onde mora o amor. Amor esse que nasceu há muitos anos atrás quando ainda jovens, construíram famílias e que hoje só precisam que esse amor seja retribuído cuidando deles como cuidaram dos seus. Querem ver os seus filhos serem bem-sucedidos nas suas atividades profissionais, ver os netos crescerem.
Querem amor, companhia e compreensão nesta fase das suas vidas que apesar de serem de declínio, podem ser vividas em família e não de forma isolada.
Artigo escrito por Sofia Tavares, Enfermeira e Amiga da Associação de Solidariedade Social de Santa Cristina de Malta (SANCRIS).