Ao longo de 2024, não faltaram factos para uma reflexão mais animada do que uma simples visão pessoal. Trump, Médio Oriente, Eleições em Portugal, Milei, o inevitável estádio de sítio do SNS e aquele novo registo doentio das “breaking news” (qual “nouvelle vague” do clickbait). Mas tirando a espuma dos dias, o que fica para nós portugueses?
Volvidos pouco mais de 9 meses desde as últimas eleições, diria que grande parte das coisas não se alteraram. E não se alteraram não só por culpa dos governantes, mas por culpa de nós mesmos, os portugueses.
Se me parece que todos já estamos cientes dos problemas do Portugal, a verdade é que a maior parte segue receosa e intelectualmente enjaulada, no receio da partilha de soluções.
Em qualquer organização – e o estado português a isso não é alheio – é necessário dar um bom período de análise para que se possa fazer a afamada análise SWOT (ou aquilo que um self-made man diria “deixa-me ir lá ver as coisas e já te digo como resolvemos o problema”) antes da tomada de decisão. Mas, a que custo? Qual o real impacto do imobilismo português? Quanto custa esperar eternamente à espera de uma validação divina (que o equivalente português é um Professor universitário a fazer um parecer) que pouco mais nos dá do que conforto emocional na tomada de decisão?
O receio de falhar e de ser julgado como um perdedor, agrilhoa a sociedade portuguesa que não perdoa as falhas dos demais, onde aí pululam doutores a analisar os erros dos outros e a apontar as falhas dos outros. Reflexamente, este estado de julgamento continuo e permanente sobre o que o outro falha numa ótica destrutiva, ao invés de uma construtiva (o que pode ser feito, como dever ser feito, …) acaba por retirar o ímpeto de mudança. É melhor ficar quieto, do que falhar.
E, raras são as vezes em que perante a falha do outro, ao invés de estendermos a mão, pegamos no martelo e fazemos o julgamento sumário.
Ora, para não correr o risco de me focar naquilo que acuso, aproveito o período natalício e o seu valor para sugerir a mudança que eu acredito necessária para transformar Portugal.
Trocar o princípio da desconfiança, pelo princípio da cooperação.
Por exemplo, no contato entre os particulares e a administração pública, parece haver um receio maior em tomar a decisão e ser acusado de alguma coisa, tendo isso como inevitável consequência que os processos e procedimentos fiquem a marinar.
Ou até, quem sabe, no nosso próprio dia-a-dia, em que quem pretende inovar e fazer diferente tem de lidar com dois desafios: o próprio de ter acertado; e o outro de andar a demonstrar que fez aquilo com o melhor das intenções, por acreditar que é possível fazer diferente.
E, é aqui mesmo, que deve surgir o Natal e os seus valores.
A ideia de fraternidade para apoiar aqueles que acreditam ser possível fazer melhor, mesmo quando falham, através da ajuda mútua e recíproca; a ideia de compaixão, na medida em que quando alguém falha quase nunca é por vontade própria, mas porque o erro faz parte da condição humana; mas, sobretudo, a ideia de numa nova luz e de uma solidariedade entre pessoas, independentemente dos seus credos.
Saibamos ver em cada vizinho e cada parte, uma forma de fazer compromissos e tornar o mundo um lugar melhor para todos nós.
Saibamos, neste Natal, perceber que o futuro de Portugal depende da nossa condição de confiarmos mais uns nos outros e de nos ajudarmos mais uns aos outros. Feliz 2025! Artigo publicado também na edição papel de 18 de dezembro.