A subida dos preços e o envelhecimento do setor são dois dos problemas que a agricultura tem a braços, atualmente. Neste Dia Mundial da Agricultura, para falar sobre os desafios que o setor agrícola enfrenta de momento, o MAIS/Semanário contactou José Campos, presidente da Cooperativa Agrícola Leiteira do Concelho da Póvoa de Varzim, e Manuel António Silva, presidente da Horpozim.
“A nossa maior preocupação de momento é toda a campanha que está a ser feita para os preços da alimentação e que somos nós os culpados. Não é a verdade”, afirma José Campos. De acordo com o dirigente da Cooperativa, os “preços pagos à produção só podem baixar se os fatores de produção tiverem uma queda que nos permita baixar os preços dos produtos vendidos ao mercado”.
Há que ter em conta este fator, para além da lei da oferta e da procura e do ano de seca que “fez com que as produções caíssem”.
O mesmo diz Manuel António Silva, da Horpozim. “Nas prateleiras dos supermercados, vemos preços dos hortícolas muito caros porque dependemos da importação e há uma oferta limitada de momento. Mas a primavera está a chegar e já se começam a colher as primeiras cebolas, a couve-penca, a alface”.
Mas, “se por um lado o agricultor já tem o que colher e fazer dinheiro”, assiste-se também a “um abuso de quem detém a procura. Quem compra acaba por ser face àquilo que é a oferta esmagar os preços pagos à produção. Não interferindo na comercialização, na Horpozim vamos sempre tentando que quem tem poder de decisão possa minimizar aquilo que são os custos da atividade e tentar que a cadeia de valor não seja tão injusta como tem sido. Os negócios, para serem bons, têm de o ser para ambas as partes”, sublinha.
Nesse sentido, “se não for possível cobrir os custos de produção, vai haver abandono”, algo agravado por “não haver rejuvenescimento dos empresários que estão na atividade”. Este contexto “na próxima década vai agravar”, avisa, e “vai fazer com que na próxima década tenhamos que pensar naquilo que queremos para a agricultura enquanto estratégia para a soberania alimentar”.
“Se de momento o consumidor já se queixa que os preços são altos, se não houver agricultores o problema vai ser ainda maior”, conclui Manuel António Silva.