Do medo ao excesso de confiança

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A 2 de março de 2020 registam-se os dois primeiros casos de COVID-19 em Portugale com a chegada do vírus chega também o medo, a desconfiança, a necessidade de alterar as rotinas e mais tarde a obrigatoriedade de isolamento social. Seguiram-se meses difíceis.

Nos telejornais chegavam-nos todos os dias notícias desoladorasdetoda a calamidade vivida nos nossos países vizinhos–Itália, Espanha e no Reino Unido–e presenciamos, ainda que em menor proporção, o mesmo em Portugal.Após duasrenovações doestado de emergência,a 4 de maioinicia-se o desconfinamentoe com ele uma falsa sensação de normalidade. Por um lado,temos a presença indesejada do vírus, que obriga àindispensável proteçãoindividual; por outro lado, uma grande necessidade de voltarmos à nossa rotina “pré-COVID”.

A solução não consiste em nenhum extremo. Éimpossível ficarmos em casa até serencontrada uma vacina, contudo é perigoso e negligente voltarmos a viver despreocupadose a ignorar que ainda há um risco muito grande. Este novo estado de normalidadenão pode cursar com uma amnésia seletiva dos últimos meses.

Ovírus ainda existe e continua a ser perigoso, sendo entãoimperativo aprendera viver nestes novos tempos.Foram criadas medidas de segurança que permitem um desconfinamentoprogressivo e gradual, para se retomar em segurançaa atividade económica do país.Porém, estas medidas não são uma máquina do tempo que nos transporta para o dia 1 de Março. O risco de contágio é ainda uma realidade à qual não podemos fechar os olhoseé importante manter os cuidados de higiene e o distanciamento social recomendado.Observam-sediariamente os excessos:as ruas voltaram-se a encher, naspraias as distâncias de segurança sãomuitas vezesignoradas, os convívios e os jantares comamigos regressaram e até são anunciadas “festas de desconfinamento”e de “despedida do vírus”.

A mesma população portuguesa que viveu meses confinada às paredes de casa, que levou o vírus a sério e conseguiu conter a ameaça principal é a mesma que agora pode deitar tudo a perdercom o excesso de confiança. A possibilidade de uma segunda vaga, registada já em alguns países, é uma realidade também para Portugal e dependeda evolução dos casos. Por muito boas que sejam as medidas apresentadas, uma nova vaga depende principalmente e quase exclusivamente do cumprimento dessasmesmas regras desegurança. Viver com medo do vírus não é uma opção e é inevitável o regressoàs ruas.

É de extrema importância continuar com ogrande sentido de responsabilidadeque se sentiu no início da pandemia em Portugal, não descorando de um dia para o outro todo o esforço comum que foi feito, por vezes com muitos sacrifícios e privações, para que desta forma não corrermos o risco de deitarmos tudo a perder e enfrentarmos no futuro não apenas um inimigo –o vírus –mas também as consequências que o isolamento obrigatório está a ter a níveis sociais, económicos e culturais.

Margarida Curval