Isaac Braga, presidente da Junta de Freguesia de Vila do Conde, em entrevista ao MAIS/Semanário, explica como tem sido o trabalho da entidade que lidera no combate à covid-19, agora que na última semana os números na cidade e em particular na zona de Caxinas aumentaram. Agora, com a segunda quinzena de agosto, em que há mais gente de férias, o autarca pede que não haja ajuntamentos
Como presidente de Junta, qual é a sua preocupação dado o número de pessoas infetadas na cidade e na zona de Caxinas?
Terei de afirmar que a “preocupação” é um estado inerente às funções que exerço, estando permanentemente “inquieto” ou “em alerta” para qualquer urgência e necessidade, expressa ou latente, no seio da comunidade, nas diversas dinâmicas da freguesia, identificando as suas fragilidades, atuando com base nas possibilidades conjugadas com as suas potencialidades.
A preocupação com a situação epidemiológica provocada pelo novo coronavírus SARS -CoV-2 e pela doença COVID-19, tem estado presente em todos os momentos, desde os seus primeiros indícios, da declaração do estado de emergência, durante as suas renovações, da declaração de situação de calamidade, contingência e alerta, na atualidade e continuará presente enquanto estiver vigente o perigo e a ameaça.
No atual contexto epidemiológico, pelos dados que nos foram disponibilizados numa reunião entre vários parceiros, no dia 10 de agosto, na freguesia de Vila do Conde estavam confirmados 87 casos de infeção pelo novo coronavírus, pelo que a nossa prioridade é que estes casos não se convertam numa incidência persistente, focando-nos obviamente no decréscimo do número de novos casos na freguesia, sendo a nossa prioridade poder colaborar para a interrupção de cadeias de transmissão do vírus SARS-CoV-2 e da doença COVID-19, cooperando, de acordo com as nossas idoneidades, com as autoridades de saúde e das equipas de saúde pública e de proteção civil, na pronta satisfação de solicitações que justificadamente sejam feitas pelas entidades competentes, reforçando junto da comunidade, cidadãos e a demais entidades, o dever de colaboração, nomeadamente no cumprimento de ordens ou instruções das autoridades de saúde, dos órgãos e agentes responsáveis pela segurança interna e pela proteção civil.
O que tem sido feito nessa zona, no sentido de acautelar que a epidemia não seja propagada?
De um ponto de vista mais micro para uma perspetiva mais macro, começaria por destacar a importância do comportamento individual e da responsabilidade para com o outro.
Convertendo a preocupação em missão e compromisso, todos os membros do executivo da Junta de Freguesia e os nossos colaboradores, para além da adoção das medidas de prevenção e da implementação no quotidiano dos serviços da Junta de Freguesia, nas suas Delegações, respeitando as orientações e as normas emanadas pela Direção Geral de Saúde, têm atuado como “Agentes de Saúde Pública” de combate à pandemia, procurando promover as boas práticas como higiene das mãos e etiqueta respiratória, colaborando na divulgação e na partilha dos materiais de informação, mantendo-se informados (recorrendo a fontes de informação de Instituições Oficiais como DGS, SNS, INEM), estando melhor preparados para combater informações enviesadas ou contraditórias junto dos cidadãos e, perante relatos ou testemunhos de manifestação de eventualidade de quadro sintomático da COVID-19, saber informar sobre como proceder (contactar o SNS24, através do 808 24 24 24 e seguir as recomendações que lhe forem dadas).
A pandemia têm exigido o envolvimento de todos, pelo que a aceitação desta nova realidade e de uma excecionalidade deste “novo” presente é essencial para que as medidas de prevenção sejam adotadas e incorporadas num quotidiano, no nosso dia-a-dia.
A Junta de Freguesia tem procurado ser uma voz ativa e próxima, junto dos cidadãos, fazendo uso de todos os meios e canais de comunicação (presencial, à distância, com recursos às plataformas digitais e às redes sociais, entre outros, apelando à adoção de regras básicas de manutenção do distanciamento físico, etiqueta respiratória, higienização de mãos e utilização de máscara.
Complementarmente a estas medidas de saúde pública, tem sido aconselhada a não concentração de pessoas em espaços públicos, apelando-se à cooperação também dos proprietários dos estabelecimentos, bem como tem sido recomendada a não concentração de pessoas na via pública, apelando à dispersão das concentrações de um número significativo de pessoas, salvo se pertencerem ao mesmo agregado familiar, nos termos das regras de proteção da saúde individual e coletiva dos cidadãos decretadas pelo Governo.
No cumprimento do disposto do quadro legal, a Junta de Freguesia tem estado vigilante na garantia de cumprimento do disposto no atual quadro de alerta e respetiva contingência, no que respeita igualmente à limitação ou condicionamento de certas atividades económicas.
De igual modo, temos apelado ao cumprimento das medidas de confinamento obrigatório a doentes com COVID -19, a infetados com SARS -CoV -2 e aos contactos próximos em vigilância ativa, apelando ao bom senso e reforçando que a desobediência e a resistência às ordens legítimas das entidades competentes constituem crime e são sancionadas nos termos da lei penal, bem como temos disponibilizado o nosso Banco de Ajudas para mitigação de necessidades ou carências, prestando ajuda de natureza solidária ou social (ex.: apoio alimentar, auxiliar na compra de bens alimentares, na aquisição de medicamentos, na recolha de lixo, realizar passeios com os animais de companhia, entre outras..), ajudando a enfrentar os desafios colocados pela situação.
Numa recente ação, que espero concertada e coordenada com representantes da autoridade de saúde local, câmara municipal, juntas de freguesia do concelho de Vila do Conde, foi fornecida informação relativa à situação epidemiológica do concelho, por freguesia, tendo sido avaliada a necessidade de ativação de medidas integradas no plano de emergência de proteção civil, do qual resultou a suspensão, ainda que temporariamente, das visitas a lares de idosos e a Unidades de Cuidados Integrados em Vila do Conde e Póvoa de Varzim, tendo ainda sido reforçado o compromisso de vigilância e de cumprimento das medidas em vigor, bem como de eventuais medidas adicionais e de exceção decretadas pelo Governo que se configuram como indispensáveis ao controlo da pandemia da doença COVID -19.
A epidemia começou na empresa Gencoal e já se alastrou a outras atividades. Confirma a situação?
Não possuo dados que possam sustentar uma resposta à questão colocada. Poderei, no entanto, referir que cada vez mais difícil identificar cadeias de transmissão, segundo os especialistas, mas naturalmente os responsáveis pela saúde local trabalham todos os dias para quebrarem e isolarem estas situações.
Porque nunca é demais realçar o que a evidência científica atual nos diz, atrevo-me a destacar onde “tudo (re)começa”, lembrando que o vírus que provoca a COVID 19 transmite-se principalmente através do contacto direto pela disseminação de gotículas respiratórias produzidas quando por exemplo, uma pessoa infetada tosse, espirra ou fala, e podem ser inaladas ou pousar na boca, nariz ou olhos de pessoas que estão próximas (<2 metros) e/ou através de contacto indireto, através do contacto das mãos com uma superfície ou objeto contaminado com o vírus e que, em seguida, contactam com a boca, nariz ou olhos.
Sejamos todos agentes de saúde pública.
As pessoas infetadas são assintomáticas?
Efetivamente podemos estar infetados sem que tenhamos sintomas claros da doença, lembro também que o vírus pode estar incubado 48 horas e nós já sermos um vetor de transmissão. No meio de tantas variáveis o respeito pelas regras de segurança são o único meio, disponível até ao momento, para que a segurança do outro comece em cada um de nós. Se tiver dúvidas, use primeiro a Linha Saúde 24, 808 24 24 24.
Deve ser implementado um plano mais apertado na freguesia e em particular nas Caxinas?
Os números podem variar com muita facilidade, as autoridades competentes estão também elas acompanhar os desenvolvimentos, certamente se um dia esse cenário fosse equacionado, os decisores o tomariam para proteger a população.
Em tempo de veraneio e com a segunda quinzena de agosto em que há habitualmente mais gente de férias e nas Caxinas, pode ser preocupante?
Esta é uma preocupação que todos autarcas de freguesia e as entidades de saúde apresentam, sabemos que quanto maior for o número de pessoas num local mais fácil é criar aglomerados. Aqui é imperativo controlar estes aglomerados, mais uma vez estar no terreno e analisar caso a caso. Não podemos esquecer que cada cidadão é também um agente de saúde pública, não podemos apenas olhar para o lado, temos de ser ativos nesta luta que é de todos, quer a nível local, nacional e mundial.
Como autarca era para estar de férias e decidiu não as realizar para acompanhar a situação. Confirma?
Sim tinha umas férias previstas para este mês que as cancelei, numa altura em que sentimos a população preocupada e que procura a Junta de Freguesia de Vila do Conde, o Presidente da Junta deve ser o primeiro a estar presente. Temos divulgado vários apelos, de diversas formas, todas nunca serão demais. Estar no terreno e sensibilizar casa caso um a um só é possível com pessoas que querem trabalhar e deixo o agradecimento ao meu executivo que têm sido incansáveis nesta resposta.