Numa altura em que parece que temos um “novo normal”, temos e devemos virar a bitola para saber o que queremos do futuro. A grande questão que se deve colocar neste momento é: que Portugal queremos daqui a 10/20 anos?
Para dizer a verdade nunca dependemos tanto do projeto europeu como agora, ou como alguns lhe gostaram de chamar, da “bazuca europeia”. Seguindo essa temática vai, por isso, importar perceber como vai disparar a “bazuca” e se Portugal terá capacidade de dar “o corpo às balas”.
Mais do que olhar para o dia seguinte, temos que ter a preocupação de olhar estruturalmente o país. Devemos por isso promover investimentos que façam de Portugal um país de sucesso face às suas capacidades, e não, como temos feito na generalidade, um país na cauda da Europa.
E nada melhor para ver como iremos projetar Portugal no mundo do que olhar a proposta de Orçamento de Estado recentemente apresentada. Temos novamente uma proposta virada para o curto prazo, não deixando as melhores indicações para o futuro. Quem estaria à espera de ver uma proposta de Orçamento com medidas impulsionadoras de desenvolvimento, da economia e das empresas, viu certamente as suas expectativas defraudadas. Esta proposta de Orçamento continua a saga de outros Orçamentos passados, em que Portugal apresenta a maior carga fiscal de sempre e está, numa altura em que proteger o emprego se torna ainda mais premente, a dificultar a vida às empresas. Temos uma proposta de Orçamento que empurra para a frente as responsabilidades, e diria que ninguém sequer se terá questionado sobre quem as irá pagar no futuro.
No rescaldo da apresentação da proposta de Orçamento, foi percetível que à esquerda do Governo pedia-se maior concretização de apoios e maior investimento público, sendo que à direita se salienta a parca resposta que a proposta dá às efetivas necessidades das empresas e à não redução da brutal carga fiscal existente. Além disso, quer da área da cultura, quer da área do turismo, entre outras, já vimos várias queixas a serem apresentadas. Assim, fica no ar a questão sobre a quem servirá este Orçamento, se não à própria máquina do Estado.
Em conclusão diria que temos uma proposta de Orçamento manifestamente insuficiente face às necessidades de um ano extremamente exigente, sem qualquer estratégia, e pior que isso, vemos o atual Governo voltar às suas manobras de diversão, e quando o debate se devia centrar no documento mais importante da vida do país no próximo ano, o Governo lançou mais uma cortina de fumo, a discussão sobre a obrigatoriedade de uma aplicação de alerta do COVID-19 nos telemóveis.
Enfim, mais um faits divers como gostam de fazer. E Portugal ficará mais uma vez adiado…
Rita Miranda Coelho