Bruno Nogueira, 37 anos, poveiro, é enfermeiro nas urgências do Centro Hospitalar Póvoa de Varzim-Vila do Conde (CH) e também integra a viatura do INEM de Suporte Imediato de Vida que serve o mesmo hospital. Em tempo de pandemia, há cerca de dois meses que não tem contacto direto com a família por forma a prevenir eventual contágio.
“A época que atravessamos põe à prova toda a nossa força e resiliência. Este vírus surgiu em forma de tempestade, desconhecido, sem aviso e invisível”, descreve. Bruno conta que o combate ao novo coronavírus levou a alterações profundas na forma de trabalhar. Fez com que houvesse necessidade de ajustes enormes em serviços, mobilização de profissionais, abertura de novos serviços e áreas dedicadas à Covid-19.
O facto de se prestarem cuidados a doentes suspeitos e positivos fez com que “o medo da fácil transmissão” obrigasse os profissionais a utilizar um elaborado equipamento protetor, tanto em contexto de urgência como em pré-hospitalar de INEM. Um equipamento que “sufoca e causa claustrofobia”, descreve o enfermeiro, acrescentando o trabalho horas a fio naquele autêntico “efeito estufa”. Um material de proteção “tão desconfortável quanto indispensável”, pois é ele que previne o contágio, lembra.
Para além deste “desassossego constante”, ainda “temos de reestruturar toda a nossa vida familiar, o núcleo duro, o porto de abrigo”, desabafa Bruno. “O medo de os infetar leva-nos a abdicar do conforto do seio familiar, do abraço e do carinho de quem mais gostamos. A questão dos afetos ficou adiada. Decidi não contactar pessoalmente com ninguém da minha família e amigos. E há dois meses que não o faço, apenas de forma pontual, usando uma máscara e sempre do lado de fora do portão ou por videochamada”.
De notar que, apesar de ter atendido e trabalhado com vários doentes Covid, Bruno, como muitos outros profissionais, nunca realizou o teste de despiste.
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