Foi há meio século!… – opinião Luís Leal

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Parece que foi ontem e já lá vai meio século em que a Póvoa de Varzim deixou de ser vila para se tornar em cidade. O foral do Rei D. Dinis, atribuído à então vila Euracini e datado de 9 de Março de 1308, deu lugar à decisão governamental de 16 de Junho de 1973, assinado pelas altas esferas da Nação Portuguesa, ficando como uma das últimas decisões do Governo considerado “do tempo de Salazar”, com Marcelo Caetano seu seguidor, até ao 25 de Abril de 1974, data em que houve uma mudança (quase) radical nos destinos de um País que nem sempre soube aproveitar a abertura das portas da Liberdade. Mas isso são outros contos. Para já o que interessa para os poveiros é que a sua Querida Póvoa de Varzim tem um estatuto de cidade com meio século de existência. Estatuto justificado oficialmente pelo facto de na Vila de então existir “diversos serviços e instituições de interesse coletivo, de natureza social, educacional, cultural e económica”. Daí que fosse alterado não só o estatuto, como também as cores do estandarte do concelho, deixando de ser uma bandeira branca com o escudo do município a meio (parecia um lençol), para dar lugar aos “moinhos de vento” azul/ branco que prevalecem.

Neste ano de 2023, foram reconhecidas todas essas virtudes, no dia da Cidade, numa sessão solene promovida pela Câmara Municipal como ponto alto das comemorações anuais. O velho Teatro Garrett, que é o exemplo vivo da transformação da própria terra, serviu de palco para passar gradas figuras da vida poveira, a colaborar numa homenagem a três, em que o município reconheceu o valor dos seus servidores. Juntou duas entidades ligadas à agricultura e bem-estar, com o ouro nas medalhas, a outra que tem a sua atividade bem reconhecida na área sanitária, e perpetuada com a prata dependurada no colar azul e branco. Uma ligação que se enquadra bem: de um lado, o valor de “encher a pança” com produtos da terra; do outro lado, uma forma de a esvaziar. Duas vertentes que fazem parte da vida dos cidadãos. Mas que requer muito trabalho, muita canseira. Tudo isso foi enaltecido nas intervenções que se ouviram no remodelado Garrett. E escutado por centenas de pessoas, de vários quadrantes sociais que não regatearam aplausos para quem os merecia. No meio de tudo isto, houve um momento de extrema ternura, quando os três filhos de Américo Campos, um dos homenageados, tiveram uma intervenção recheada de reconhecimento, sentimento, ternura, por tudo quanto o seu progenitor fez pela vida, subindo a pulso, desde simples funcionário a empresário de sucesso como é agora. Um empresário que se podia esconder nas suas “tamanquinhas” e olhar só para o seu umbigo, sem importar de quem o rodeia. Nada disso. Américo Campos tem-se mostrado um homem a merecer a consideração de todos os poveiros, de toda a comunidade onde está inserido, com esforço, com uma colaboração (financeira e laboriosa) em tudo que retrate a grandeza de uma comunidade. Citar pormenores, seria tarefa dispendiosa, tal é o número de alvos atingidos pelo seu dinamismo. Tudo ficou estampado nas palavras que ressoaram pela sala de espetáculos de excelência da Cidade Poveira, com altas figuras locais a serem os principais intérpretes.

Mas a festa de consagração dos homenageados escolhidos para fazerem parte das comemorações dos 50 anos de elevação a cidade da Póvoa de Varzim, não serviu só para enaltecer o trabalho da Cooperativa Agrícola da Póvoa de Varzim, sediada em Amorim, da Fundação Centro Social S. Pedro de Rates, e do empresário Américo Campos, mas também como polo de convívio para muitas pessoas que enchiam o Salão de Ouro do Casino num jantar onde se reuniram vários estratos sociais. Quantas saudades foram trazidas às mentes de homens e mulheres e transmitidas em calorosas cavaqueiras nos grupos que se formavam à volta das mesas recheadas de repasto. Pessoas desconhecidas umas das outras que formaram amizades, criando outros conhecimentos, sempre com o espírito de colaborar salutarmente numa festa/homenagem onde não faltou animação musical para todos os gostos. Foi um convívio agradável, para encerramento de uma homenagem a três que marcou o meio século de existência da cidade da Póvoa de Varzim. Fica para a posteridade. Porque, neste momento, não interessa só falar do passado e da transformação que o Município sofreu, assim como toda a Nação, mesmo depois de terem sido criados certos vícios nos interesses dos que queriam subir os degraus da vida de qualquer maneira, como há exemplos bem espalhados principalmente na área imobiliária, a encher os bolsos dos menos escrupulosos, em prejuízo da imagem da própria terra. Mas… adiante, já que o travão foi acionado, embora sem a rigidez que se desejava e mais interessava à comunidade.

Opinião Luís Leal – ‘O Meu Cantinho’. Foto CMPV