DAVID SANTOS
Lembram-se da frase de António Costa após uma reunião de negociações com PSD e CDS, ocorrida na sequência das eleições de 4 de Outubro?
“Em cada encontro que tivemos foram deixando cair uma nova surpresa desagradável, que se vai tornar pública um dia”, disse ele, referindo-se a PSD e CDS.
E disse mais: “há um limite para a capacidade do Governo (PSD/CDS) omitir e esconder ao país dados sobre a situação efectiva e real em que nos encontramos”.
Hoje compreendemos o alcance de tais palavras, na altura tão criticadas por alguns responsáveis do PSD e do CDS, que dessa forma pretendiam passar a mensagem de que não corresponderiam à verdade. Começamos agora a saber quais as surpresas desagradáveis que Passos Coelho e Paulo Portas nos deixaram.
É a devolução da sobretaxa do IRS, que afinal não será de 35%, como afirmavam antes das eleições, mas sim 0%, o que nessa altura já era previsível para quem analisasse com seriedade a situação fiscal. Mentiram por razões eleitorais.
É a situação do Banif, que deviam ter resolvido até Março de 2015, e relativamente à qual nunca disseram que tinham apresentado oito planos de reestruturação, todos chumbados por Bruxelas. Situação que traduz a incompetência e manipulação com que este processo foi gerido pelo Governo PSD/CDS. Hoje conhece-se a correspondência trocada entre Bruxelas e a então ministra das Finanças, que confirma que a situação era perfeitamente conhecida e só foi escondida para que pudesse ser simulada uma “saída limpa” do programa de resgate. Encobriram a verdade por razões eleitorais. E todos nos lembramos de Passos Coelho ter dito que o dinheiro injectado neste banco era um bom negócio para o Estado, pois até estava a render juros. Ao que chega a falta de ética e de seriedade intelectual, para manipular os eleitores!
É o processo pouco claro de concessão dos transportes públicos de Lisboa e Porto, acelerado por razões ainda não conhecidas. Um dia destes talvez as venhamos a conhecer.
É a nova recapitalização no Novo Banco, que demonstra a incompetência com que o processo de resolução do BES foi conduzido. Com enormes custos para o país, não apenas financeiros, mas sobretudo em termos de credibilidade perante o exterior, o que não deixará de ter impacto nos outros bancos. Atrasaram este processo por razões eleitorais.
Tudo isto com custos enormes para os contribuintes, que somos todos nós! E, como diz o povo, a procissão ainda vai no adro… Provavelmente outras surpresas se seguirão.
Lamentável é que este embuste tenha sido montado com a cumplicidade de Cavaco Silva, que deveria ser o Presidente de todos os Portugueses e, por conseguinte, o guardião da verdade democrática. Compreende-se hoje a razão de ele ter procurado exigir a António Costa garantias de estabilidade do sistema financeiro. Sabia do que estava a falar! Mas escondeu do Povo o verdadeiro motivo… para assim beneficiar eleitoralmente o seu Partido.
Lamentável é também que o Governador do BdP, Carlos Costa, não tenha sabido manter a independência em relação ao poder político e se tivesse disponibilizado para ser um autêntico “testa de ferro” de algumas decisões do Governo PSD/CDS, contribuindo para o descalabro a que se chegou nos casos do BES e do Banif. Mas foi com esse comportamento de cumplicidade com o anterior Governo que Carlos Costa, a que um jornalista, por razões óbvias, já chamou o “desgovernador”, garantiu a sua recondução no cargo.
Parece já evidente que outras surpresas desagradáveis se seguirão. Será que há ainda alguém que acredite que nestes quatro anos e meio PSD e CDS resolveram os problemas do país? “Saída limpa”, diziam eles. Pois, parecia limpa porque varreram o lixo para debaixo do tapete! E assim se enganam 36,8% dos eleitores… Um autêntico número de ilusionismo político foi o que procuraram fazer Passos Coelho, Paulo Portas e a partenaire Maria Luís.
Nota: o autor escreve de acordo com a antiga ortografia