“Já foram mais de 1 milhão de euros utilizados em apoio social em questões relacionadas com a covid-19”

0
1013

Está perto de fazer um ano que a pandemia se instalou no país e a Póvoa de Varzim também tem sofrido com a situação. Associado à doença, chegou nova crise social e económica, à qual a Câmara da Póvoa de Varzim tem respondido de várias formas. Andrea Silva, vereadora da Coesão Social, explica como a edilidade tem correspondido com meios logísticos e financeiros. Com a pandemia instalada desde março do ano passado, o apoio social da Câmara foi canalizado para várias áreas. Tem o município conseguido responder a todas as situações? Penso que sim. Pelo menos temos tentado responder a todos os pedidos que nos chegam ou são sinalizados de forma muito célere. Existem alguns que desconhecemos e quanto a esses, o que posso dizer é que, quem os conheça, os sinalize junto da autarquia para podermos fazer a devidas avaliação e acompanhamento da situação. Estou em crer que existem situações que ainda não nos chegaram. Desdobramos esforços para que as respostas sejam dadas rapidamente, em tempo útil. Normalmente temos conseguido respostas no próprio dia ou no dia seguinte. A Câmara da Póvoa no seu orçamento tem uma verba de fundo social. Em 2020 o mesmo foi largamente superado. Este ano vai suceder o mesmo? Infelizmente, temo que sim. O período de superação desta pandemia está a arrastar-se mais tempo do que o previsto e com custos enormes naquilo que são as condições socioeconómicas e de saúde das famílias. Temo que o mais grave ainda não tenha chegado. Todos sabemos que o desemprego, as questões de saúde em geral (nomeadamente saúde mental), terão um grande impacto nas famílias e muitos ainda estão a aguentar-se devido ao período das moratórias.

Que meios logísticos, financeiros e até humanos tem a Câmara da Póvoa disponibilizado?

Todos os que existem. A maioria dos meios disponíveis têm estado ao serviço dos nossos munícipes. Temos serviços que naturalmente se encontram com menos volume de serviço e todos os colaboradores se têm disponibilizado para ajudar na área social. Meios logísticos e humanos: transporte, motoristas, assistentes sociais, assistentes técnicos/operacionais, etc. Os meios financeiros, como sabem, até porque temos feito questão de apresentar contas, já foram mais de 1 milhão de euros utilizados em apoio social e questões relacionadas com a Covid 19, tais como: desinfeção de espaços, compra de EPI’s, colocação de dispensadores de álcool gel pela cidade e escolas, etc.

A existência de uma rede de instituições de solidariedade local há vários anos, permitiu que as respostas fossem mais rápidas?

Sem dúvida! Os últimos anos de trabalho em parceria e cooperação com as Instituições Particulares de Solidariedades Social, as Juntas de Freguesia, as escolas, a RLIS, e todos os que fazem parte da Rede Social do município foram fundamentais para que a agilidade fosse quase instantânea.

Tem conseguido em tempo útil o município auxiliado as famílias e as empresas? Muitas vezes o Estado é criticado por demorar a apresentar soluções. Com autarquia tem sido diferente?

O município tem feito um esforço acrescido para dar essas respostas/ajudas às empresas e famílias em tempo útil, substituindo-se, sem dúvida, ao Estado que deixou praticamente de se responsabilizar pelo que quer que seja e não tem cumprido sequer com aquilo que seria da sua competência. Mas a autarquia é o rosto que as pessoas e os nossos empresários conhecem. É connosco que contam para os ajudar. E é isso que temos tentado fazer com as medidas que têm sido implementadas desde março 2020. A isenção do pagamento de estacionamento à superfície, a isenção de pagamento de rendas de espaços municipais, as embalagens para takeaway, as refeições para entrega ao domicílio, as refeições ou cabazes alimentares para quem está em confinamento obrigatório, a entrega de medicamentos, os telefonemas diários aos utentes mais vulneráveis, o apoio da linha psicológica, o apoio/entrega de medicamentos, a criação de 2 estruturas com condições para quem não tem forma de fazer isolamento na sua própria habitação ou para a retirada de utentes das IPSS’S caso se verificasse necessário, pagamento de internet e câmaras para os alunos que não tinham essa possibilidade, o apoio logístico às IPSS’s, Hospital e ACES sempre que solicitado e possível, a criação do Marketplace da Póvoa de Varzim  e ainda o apoio logístico em parceria com grupos informais de voluntariado . Temos tentado, o município da Póvoa de Varzim, responder a todas as solicitações e corresponder a todas as aspirações dos nossos munícipes.

Depois do primeiro confinamento, a Câmara já previa esta segunda e até mesmo terceira vaga, de forma a responder com rapidez?

Para dizer a verdade, o primeiro foi o mais difícil pois era tudo novo. A organização necessária para se começar a funcionar foi um desafio muito grande. Agora estávamos todos mais preparados, foi mais fácil reorganizarmos tudo novamente pois já trazíamos a experiência acumulada da primeira vaga.

A edilidade tem contado com o apoio do Estado para enfrentar localmente a situação?

Na minha opinião, o Estado tem estado muito ausente em tudo. Penso que não seremos os únicos, a única autarquia a pensar que ou agimos rapidamente e resolvemos as questões, ou se estivermos à espera que o Estado arranje solução para as resolver, as pessoas desesperarão.

Adivinha-se que nos próximos meses, o desemprego possa aumentar e a ajuda será ainda mais necessária. O município pode ainda reforçar mais os apoios existentes e até criar novos?

Sim. O Sr. Presidente da Câmara tem assumido desde o início um compromisso com o bem-estar das pessoas e tem reforçado a ideia de que, nestes anos da pandemia, o Fundo Local de Emergência Social não terá limite financeiro. E sim, tal como tivemos de criar novas respostas sociais para combater esta pandemia e esta situação, se nos virmos perante novas situações que exijam novas respostas com toda a certeza que as iremos criar.

No seu caso particular, como vereadora da Ação Social, tem sido desgastante e difícil estes últimos 12 meses? O que ainda espera para este ano?

Em primeiro lugar, nunca imaginaria como qualquer um de nós, passar por uma pandemia. Em particular, como vereadora da Coesão Social, foi dos maiores desafios da minha vida. Tem sido sem dúvida desgastante, mas não só para mim. Para toda a equipa que me tem acompanhado ao longo destes últimos 12 meses e que se disponibilizaram, muitos deles, a nunca ficarem em casa, a trabalharem ao fim de semana, à noite, muitas mais horas do que seria expectável, para conseguirmos satisfazer todos os pedidos em tempo útil. Mas, ninguém baixou os braços e não nos sentimos no direito de estar cansados quando temos médicos e enfermeiros a trabalharem sem ir a casa, ou várias horas diárias. Quando começou este período, reuni a equipa da coesão social e pedi-lhes que, apesar dos medos que todos sentíamos, que iria haver muita gente a precisar da nossa ajuda, da nossa palavra, do nosso conforto, do nosso apoio. E todos disseram logo que estavam disponíveis para o quem fosse necessário! E só assim foi possível. Com uma equipa muito especial que se desdobrou para nunca deixar nada para o dia seguinte.

Com o início da campanha de vacinação, começamos a ter a esperança de recuperar a nossa vida do pré-pandemia. No entanto, a minha expectativa para este ano, é ainda de muita exigência e muitas dificuldades ao nível socioeconómico das famílias. É também a altura, com a visão de uma luz ao fundo do túnel, começarmos a preparar o pós-pandemia.

A pandemia e a gestão global deste processo como vereadora, tem sido o maior desafio da sua vida como autarca?

Tem sido sem dúvida um dos maiores. A pandemia tem sido um processo exigente e a gestão global deste processo também. Mas sinto que essa é a minha obrigação como autarca. É responder às necessidades da nossa comunidade. No entanto, desde que estou na vida autárquica tenho tido vários desafios e apesar de todos serem diferentes, considero que tenho tido alguns desafios relevantes ao longo dos anos. Talvez tenha sido isso que me deu a resiliência necessária para este grande desafio autárquico e de vida como para todos nós. Mas também, só assim faz sentido. Se a nossa ação tiver impacto e marcar a vida das pessoas pelo seu melhor.

Com a administração da vacina, refere-se agora que até final do verão haverá 70% da população portuguesa vacinada, espera-se que na mesma percentagem também estejam os poveiros?

Eu gostaria muito que sim, mas esse objetivo não depende de nós e sim do Ministério da Saúde. No que depender do município, criaremos todas as condições para que assim seja. Venham as vacinas!

A solidariedade dos poveiros

A comunidade poveira alberga centenas de emigrantes. Como tem sido o apoio a essas pessoas?

Quando nos deparamos com o “boom” de pedidos de ajuda em março/abril de 2020, demo-nos conta da grande comunidade Imigrante que estava a residir na Póvoa de Varzim ou que tinha chegado à pouco tempo e que dependia de empregos precários na restauração ou em pequenos negócios locais. Estes foram alguns daqueles que ficaram rapidamente desprotegidos e a necessitar de apoio. Continuamos a acompanhar alguns deles e outros regressaram à sua terra de origem.

Notamos uma grande solidariedade das empresas locais e empresários que ao longo dos meses, nos foram fazendo chegar, pão e outros bens alimentares para distribuirmos pelas famílias mais carenciadas (famílias com crianças do escalão A e B), pessoas isoladas ou confinadas, estruturas de apoio à saúde e seus profissionais. A Póvoa e os poveiros têm sempre demonstrado a sua génese solidária nos momentos mais difíceis.