O presidente da AGROS veio a público defender o Programa de Leite Escolar, que considera ameaçado por algumas forças políticas nacionais. Ministro da Agricultura diz que não há razões para preocupação.
José Capela, presidente da AGROS, criticou na AgroSemana os projetos de lei de PAN [Pessoas–Animais–Natureza] e PEV [Partido Ecologista Os Verdes] sobre o leite escolar, recentemente apreciados no Parlamento. As propostas eram já de si descabidas, acusa, mas o que estranhou ainda mais foi a concordância que, apesar de chumbadas, elas geraram entre partidos supostamente aliados do setor agrícola.
Em julho, o PAN lançou um projeto de lei pedindo o fim da distribuição de leite achocolatado às crianças do pré-escolar e 1º ciclo, algo que José Capela considera ilógico:
“Como é possível que, em plena Assembleia da República, alguém possa desinformar propositadamente e utilizar argumentos falaciosos de ataque ao leite, colocando assim em causa hábitos de alimentação saudável”, questionou. “Já alguém lhes esclareceu que o leite contém açúcar natural, designado lactose? E que em Portugal o leite destinado às escolas possui um valor máximo de açúcar adicionado que é metade do permitido a nível Europeu?”.
Também o PEV, na mesma altura, defendeu que as escolas deveriam passar a incluir uma bebida vegetal. O presidente da AGROS voltou à carga: “Como é possível que na preparação do Orçamento do Estado para 2018, de uma forma sorrateira, estivessem já a retirar 5% do Programa de Leite Escolar para que fosse direcionado para a distribuição destas bebidas vegetais nas escolas? O mais caricato e surreal é que, quando se trata de bebidas vegetais, nem sequer se olha para os níveis de açúcar adicionado”, observou.
Embora as propostas tenham sido rejeitadas, para Capela este episódio pode levar a “precedentes sem classificação possível”. E comentou: “O que nos deixou ainda mais incrédulos foi a proporção significativa de partidos que concordaram com esta bizarra proposta, incluindo, para nosso espanto, os que se intitulam de grandes defensores da agricultura”.
Ministro afirma não haver preocupações
Ora, precisamente o Ministro da Agricultura, Capoula Santos, fez questão de “tranquilizar” o presidente da Agros: “O leite escolar é matéria que está integrada nas políticas comunitárias, sendo de aplicação obrigatória em Portugal e por isso não suscetível de ser alterada nem pelo Governo nem pelo Parlamento”, começou por esclarecer, acrescentando outra achega:
“A UE financia o leite e a fruta escolares. Felizmente o leite tem tido uma boa execução, ao passo que a fruta não. E nós conseguimos, há cerca de 2 anos, que o dinheiro não utilizado nas frutas, em vez de ser devolvido para Bruxelas como acontecia, possa ser usado canalizado para reforçar a componente do leite escolar. Assim, não perdemos dinheiro comunitário, as crianças não saem prejudicadas e ainda há a possibilidade de financiar um consumo acrescido do leite”, terminou.
Na foto: José Capela (esq.) e Capoulas Santos (dir.)