“Manda a precaução que não aceleremos o desconfinamento” alerta médico poveiro

0
888

Franklim Ramos, médico com especialidade na área da anatomia patológica, foi o orador convidado da conversa “o Estado da Saúde”, promovida pelo Rotary Club da Póvoa de Varzim. Ao MAIS/Semanário e em exclusivo, o presidente do conselho de administração da Unidade Local do Alto Minho, em Viana do Castelo, abordou o atual impacto da pandemia e reforçou que a necessidade do cumprimento das regras sanitárias .

Na sua atividade, enquanto presidente do Concelho de Administração da Unidade Local do Alto Minho, que balanço/análise faz da evolução da pandemia em Portugal?

Esta é uma pergunta de muita responsabilidade. Vou dizer, no geral, boa. A pandemia de covid-positivo que tivemos, foi uma coisa desconhecida e atingiu toda a Europa, todo o Mundo. Não havia regras, não havia nada estudado para dar resposta a este problema, portanto os Governos, e o nosso em particular, agiu de acordo com aquilo que podia fazer, mediante o conhecimento no momento. Nós percebíamos muito pouco da forma de transmissibilidade, sabíamos muito pouco dos medicamentos que se deviam usar e, de repente, encontram-nos em situações para as quais não estávamos preparados, nem nós, nem ninguém.

Houve aqui, de facto, muitos problemas, mas o que é importante é o Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi capaz de responder muito bem à situação, muito embora haja coisas menos boas. Mas de uma maneira geral, o SNS respondeu bem; conseguiram-se aumentar as camas de cuidados intensivos, de cuidados intermédios; houve possibilidade de se montar novos sistemas dentro dos hospitais com circuitos paralelos para se poder tratar também doentes que não fossem apenas covid positivos. Portanto, houve uma mudança radical da forma de trabalhar dos hospitais, muito rápida! E fomos capazes de responder.

Obviamente, há sempre problemas que vão surgindo e muitas vezes exploram-se essas questões menores e não se dá valor e ênfase às coisas que são fundamentais, no caso, uma resposta adequada do SNS.

O país já enfrenta a quarta vaga de infeções, com pico previsto para o final de julho/ início de agosto. Tendo a zona Norte sido bastante fustigada nas primeiras vagas da infeção e, agora, com o eclodir da época balnear nas zonas da Póvoa de Varzim e Vila do Conde, qual a sua opinião, se nos devemos preparar para um recuo nas medidas de desconfinamento, como já sucede em outros concelhos, ou até manter o nível de desconfinamento?

É sensato ser cauteloso, é sempre bom. O facto de neste momento termos um Rt que anda no 1.09, aqui no Norte, e, portanto, bastante melhor do que na zona Sul e noutras regiões do país, não significa que não possa mudar.

Sabemos que esta variante, a variante Delta é muito contagiosa, já é dominante lá em baixo no Sul e é muito natural que se estenda também ao Norte.

A nosso favor temos alguns aspetos positivos: temos grande parte da população a cima dos 75 anos já em grande parte vacinada, não completamente, mas quase completamente vacinada com as duas doses – portanto também está a ser um bom trabalho na área da vacinação para acelerar este processo e reduzir também a possibilidade de contágios, mas uma vacina não confere uma proteção total. O que a vacina vai fazer é estimular o nosso sistema imunológico e conferir-lhe a possibilidade de responder a um agente, se tivermos uma resposta forte não ficaremos sequer infetados ou, se tivermos uma resposta mais reduzida, seremos infetados de uma maneira mais leve, reduzindo muito o impacto que essa situação tiver.

Mas se a maioria das pessoas idosas já está efetivamente vacinada, a população geral não está. E agora o que tem vindo a acontecer é que a infeção se transmite mais nos jovens, também estou em crer que durante julho e agosto será já vacinada uma franja grande deste espectro populacional, mas manda a precaução que não aceleremos o desconfinamento como estava previsto e tenhamos uma atitude mais sensata, isso sim.

Entrevista completa na edição papel de 7 de julho.

Foto Jsoé Alberto Nogueira