Mário Almeida propõe auditoria às contas do Rio Ave dos últimos 10 anos

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Mário Almeida, que exerceu funções como presidente da Assembleia Geral do Rio Ave durante 35 anos, até 2017, escreveu na sexta-feira um texto na sua página na rede social Facebook, onde revela a sua preocupação pelo atual momento e futuro do clube. O antigo presidente da Câmara de Vila do Conde explica no extenso escrito, as razões da sua saída como dirigente rioavista, na altura “com uma elogiada gestão”.

Para analisar os prejuízos atuais, Mário Almeida propõe que tudo seja esclarecido através de “uma rápida auditoria financeira aos mandatos da SDUQ entre 2013 e 2023, constituída por uma comissão de três associados competentes e insuspeitos, como são os anterior e atual Presidentes do Conselho Fiscal, Dr. Carlos Costa e Dr. Ilídio Lacerda e o Provedor do Adepto Dr. João Paulo Meneses, com possível recurso a uma pontual consultadoria se o entenderem como conveniente”. Leia a seguir, e na íntegra o texto publicado por Mário Almeida na tarde de sexta-feira 20 de outubro.

O momento do nosso Rio Ave FC. O texto que aqui hoje deixo tem como único objetivo prestar rigorosas informações que considero serem meu dever e que possa ter um papel agregador nos associados, já que todos não somos demais para um Rio Ave FC maior.

É público que o Clube vive uma situação delicada, o que é motivo de preocupação para muitos de nós e que exige uma sintonia generalizada entre todos para que tal crise possa vir a ser debelada e não se venha a traduzir futuramente em consequências profundamente negativas. A tarefa da nova Direção sabe-se ser complicada, pelo que todos devemos colaborar no possível e desejado. Se o caso da bancada destruída é estruturalmente um problema e se o impedimento de inscrever novos jogadores até janeiro é perigoso nos planos desportivo e classificativo, o conhecimento da existência de um significativo défice financeiro é muito grave.

Como se sabe, face ao que a legislação estipula, o Clube teve e tem de integrar uma sociedade, nomeadamente uma SDUQ em que é sócio único ou uma SAD em que entram investidores privados. Esta lei foi publicada em 2013 e o Rio Ave FC, através da sua Assembleia-Geral, decidiu por unanimidade constituir uma SDUQ, elegendo-me como seu representante nessa Sociedade a par dos elementos designados como gestores pela Direção do Clube.

Até final de 2017 tudo decorreu bem e com normalidade, registando-se nessa data “um total de rendimentos e ganhos de 25.701.484,72 euros”, indicando-se no balanço, o que era excelente, um ativo de 35.595.120,07 euros e um capital próprio no montante de 9.377.871,52 euros”. Refira-se que tal correta e elogiada gestão possibilitou ao Rio Ave FC ter nessa época um plantel de excelente qualidade que veio a obter o 5º lugar na I Liga e o apuramento para a Liga Europa, bem como a presença na Final da Taça de Portugal e na Supertaça.

Esta boa situação financeira era uma garantia para o futuro, pois havia ainda vultuosas verbas a receber das transferências já realizadas de Ederson e Roderick, a par do enorme aumento no pagamento anual que nos era feito pelas transmissões televisivas, o que passou de 2.200.000,00 euros pela SPORT TV para 5.500.000,00 euros pela MEO.

Perante estes dados é incompreensível o que surgiu depois, embora eu o receasse e o manifestasse quando nesse mês deixei de ser Presidente da Assembleia Geral, lugar que vinha ocupando há 35 anos. Nessa altura deixei uma mensagem aos associados e simpatizantes, afirmando que “Saio quando se diz tudo estar bem. Mas, para mim, o presente só é bom quando dá garantias para um futuro melhor. Não me sintonizando com a estratégia apontada e com recentes acontecimentos que vejo serem para continuar, saio para que, quem pensar de forma diferente, o venha a assumir. Não admito poder vir a ser responsabilizado por algo em que não estive envolvido”. Infelizmente para o nosso Rio Ave FC e para nós, hoje vê-se que eu tinha razão nas minhas fundadas apreensões.

Perante a inesperada e perigosa situação atual a que se chegou, duas hipóteses se podem colocar: se deve manter-se a SDUQ nos moldes em que agiu entre 2013 e fins de 2017, corrigindo o que de mal foi feito entre 2018 e 2023, ou se antes se deve optar por uma SAD com um investidor capaz sob adequadas condições prévias que sejam garantia para o futuro do nosso Clube.

Os dados agora conhecidos relativos ao Relatório e Contas da época 2022/23 confirmam o desacerto da gestão da SDUQ com os inerentes prejuízos para o Clube no decorrer do mandato. Para tudo isto ser esclarecido e para se informar com total rigor os associados sobre o que se passou nestes últimos anos, fundamental será a realização de uma rápida auditoria financeira aos mandatos da SDUQ entre 2013 e 2023, para se verificar como bem se procedeu no primeiro período e se evidenciarem as anomalias verificadas depois. Sugeri à Presidente da Direção que tal pudesse ser feito por uma “Comissão constituída por três associados competentes e insuspeitos, como são os anterior e atual Presidentes do Conselho Fiscal, Dr. Carlos Costa e Dr. Ilídio Lacerda e o Provedor do Adepto Dr. João Paulo Meneses, com possível recurso a uma pontual consultadoria se o entenderem como conveniente”, o que teria custos reduzidos por estar certo que o farão por amor ao seu e nosso Clube.

Só com estes dados concretos é que existirão condições para participar seriamente na análise profunda do problema quando a Direção o suscitar, já que o determinante é saber-se como surgiu e porquê o tal “buraco” financeiro. Expressei recentemente na Assembleia Geral de 4 de Agosto e no Conselho Geral de 1 de Setembro, onde proferi duas intervenções sobre a situação do nosso Rio Ave FC (que não tiveram a devida divulgação pelo Clube nas redes sociais), as quais obrigatoriamente ficaram a constar das atas e podem ser solicitadas ao Clube pelos associados. Até hoje, dois meses e meio depois, ainda não recebi qualquer resposta da Direção!

Se tal for feito de forma transparente e com respeito pelos associados, sem pretender apontar culpados ou responsáveis, ficaremos então, todos, em condições de equacionar o que melhor será para o Rio Ave FC, garantido-se a autonomia, o futuro e a viabilidade do Clube. Isto é, se será a SDUQ nas condições em que funcionou entre 2013 e fins de 2017 ou uma SAD em que o Clube seja maioritário e sem qualquer possibilidade de no futuro o deixar de ser por via de um aumento de capital ou por qualquer outra forma, com um investidor credível que apresente garantias bancárias para que os projetos do Plano Estratégico Desportivo e de Investimentos a constar de um Acordo Parassocial sejam concretizados em tempo estabelecido e para que o nosso Rio Ave fique dotado com meios financeiros que suportem os orçamentos de duas épocas seguintes a um eventual, inesperado e injustificado abandono por parte do investidor. Infelizmente existem casos como este em que os clubes praticamente desapareceram! Recordo que tal assunto, a pedido de anterior Direção do Clube, foi analisado profundamente por mim como Presidente da Assembleia Geral, pelo reputado economista e então Presidente do Conselho Fiscal Dr. Carlos Costa e pelo reconhecido jurista e grande capitão Dr. Duarte Sá, concluído com um trabalho que foi entregue à Direção e que deverá ser naturalmente ponderado no caso da opção dos associados vier a ser uma SAD.

Nestes seis anos nunca me pronunciei sobre o nosso Rio Ave FC, limitando-me a acompanhar os jogos pela televisão, sofrendo tanto ou mais do que quando constantemente ia ao estádio e ao balneário. Agora senti a obrigação e o dever de manifestar o meu pensamento, face ao momento delicado que o nosso Clube vive, o que faço com o devido respeito por todos e com a enorme consideração que me merecem os fundadores e os associados que ao longo de décadas sempre disseram “presente”.

Neste momento tão delicado, importante é estarmos todos unidos à volta da nossa equipa profissional, incentivando-a a vencer em Torres Vedras e seguir na Taça de Portugal e, mais fundamental que isso, a ganhar os dois jogos seguintes da I Liga no nosso Estádio perante o Farense e o Boavista.

Saudações rioavistas, com a esperança e a confiança da manutenção na I Liga, que a reconstrução da bancada demolida e os necessários melhoramentos no estádio venham a ser oportunamente concretizados e que a solução viabilizada para o futuro do nosso Rio Ave FC seja a que melhor venha a servir o Clube e Vila do Conde. Mário Almeida.