O luto antecipatório nos idosos – Opinião de Elisabete Bento

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O luto é considerado um processo natural e universal face a uma situação de perda, seja ela a perda de um vínculo, objeto ou morte. Por sua vez, o luto antecipatório é um processo que acontece antes da perda em si, ou seja, no caso da perda por morte, pode iniciar-se quando o indivíduo se depara, por exemplo, com um processo de doença grave terminal ou mudanças significativas na vida. Na literatura existe alguma controvérsia quanto ao contributo do luto antecipatório para a elaboração do luto pós-morte.

Nos idosos, que muitas vezes se deparam com iminente perda de amigos, familiares ou mesmo a própria saúde, o luto antecipatório pode assumir características específicas e complexas. No entanto, na literatura, é notável a falta de estudos sobre este assunto.

Existem vários aspetos específicos do luto antecipatório em idosos que deverão ser considerados. De um modo geral, os idosos estão mais conscientes da sua própria finitude. O envelhecimento gradativo certifica a finitude e concretiza a morte como uma realidade cada vez mais próxima. E esta, por sua vez, pode gerar um sentimento de impotência e ansiedade.

Por sua vez, a deterioração da saúde pode agravar a sensação de perda iminente e impactar a capacidade de o idoso lidar com o seu próprio processo de luto antecipatório. São comuns perdas orgânicas, envolvendo aspetos como a acuidade visual ou auditiva, alterações na autoimagem, dificuldades cognitivas como queixas de memória e /ou outras doenças crónicas ou degenerativas. Para além da perda do status social e laboral, a autonomia, a produtividade e os recursos financeiros. A solidão ou a necessidade de institucionalização são, por vezes, consideradas como perdas bastante significativas.

Por outro lado, as experiências de perdas acumuladas ao longo das suas vidas também poderão influenciar a forma como enfrentam o luto antecipatório, podendo haver casos que se sentem mais preparados emocionalmente e outros que sentem a perda de forma mais intensa.

Por todos estes aspetos, com o intuito de facilitar o luto preparatório nos idosos é importante fomentar a expressão emocional dos idosos. A comunicação da sua experiência emocional (medos, anseios, expectativas), através de conversas com familiares e amigos; ou noutro espaço seguro, onde possam compartilhar experiências e receber algum suporte e orientação.

A “preparação para a perda” pode passar por tarefas mais práticas como o envolvimento do idoso na organização de documentos, testamentos ou mesmo uma despedida consciente; ou por tarefas mais emocionais, como uma reflexão sobre a vida.

De modo a reduzir a sensação de desesperança e a promover um sentido de propósito durante o processo de luto preparatório, é igualmente importante manter os idosos envolvidos em atividades gratificantes e significativas.

Não obstante, ao longo do processo de luto preparatório, a intervenção de profissionais de saúde mental como psicólogos ou psiquiatras pode ser particularmente valiosa.

Independentemente da complexidade e singularidade do processo de luto antecipatório, o suporte contínuo de familiares, amigos e profissionais de saúde é fundamental na forma como os idosos vivenciam e elaboram o luto antecipatório.

Elisabete Bento, Psicóloga e Amiga da Associação de Solidariedade Social de Santa Cristina de Malta (SANCRIS)