A tradição piscatória da Póvoa de Varzim e de Vila do Conde continua a ser uma das marcas mais fortes da identidade destas comunidades costeiras. A expressão “Ala-Arriba!”, gritada ao puxar os barcos à terra, simboliza a comunidade unida dos pescadores poveiros, uma tradição retratada no cinema da década de 1940. Aos mercados chega diariamente uma enorme variedade de espécies que sustentam não apenas a gastronomia local, mas também a economia de centenas de famílias ligadas à pesca.
Nos mercados e em alguns restaurantes locais, encontramos uma variedade que espelha a riqueza da nossa costa: a sardinha, rainha das festas populares e presença obrigatória nas brasas do verão; as fanecas, de carne delicada, muito apreciadas em frituras caseiras; o carapau e a cavala, peixes outrora considerados “pobres”, mas que hoje ganham destaque pelo sabor e valor nutricional; a pescada, tão versátil e nobre, presença constante em receitas poveiras; o polvo, estrela da nossa cozinha; a raia, tão versátil, usada quer em pratos de tacho, fritura e grelhados e ainda os linguados, azevias e línguas, que exigem mãos experientes para realçar o seu sabor. A esta lista somam-se o biqueirão, a sarda, o rodovalho, o pregado e o robalo — espécies que completam a oferta e dão expressão à diversidade da costa.
Cada um destes recursos marinhos tem o seu valor gastronómico e económico, mas também os seus períodos críticos de reprodução que estão protegidos por força legal através dos chamados períodos de defeso. De igual modo, existem restrições e a fixação de tamanhos ou pesos mínimos de captura que visam proteger o peixe imaturo ainda não suficientemente crescido.
O defeso não é uma imposição arbitrária. Ele existe para proteger os ciclos naturais de reprodução e crescimento das espécies. Ao deixar o polvo repousar entre julho e agosto, ou a sardinha recuperar até ao início do verão, estamos a dar ao mar o tempo que precisa para se regenerar. Sem esse cuidado, as capturas seriam cada vez mais escassas, as espécies mais frágeis e o futuro da pesca e espécies ficaria em risco.
O defeso consiste precisamente nesta interdição temporária da pesca, que pode variar de espécie para espécie. O objetivo é permitir que os recursos marinhos se regenerem, garantindo a reposição dos stocks e a continuidade da atividade pesqueira. A fiscalização é feita de forma rigorosa e o incumprimento pode resultar em coimas pesadas. Mas acima de tudo respeitar o período de defeso e os tamanhos mínimos de captura contribui para que o peixe que chega ao consumidor seja de melhor qualidade, mais saudável e de tamanho adequado, valorizando assim o produto.
A sardinha é talvez o exemplo mais conhecido. Rainha das festas populares e símbolo da gastronomia portuguesa, esteve durante anos em risco devido à sobrepesca. A imposição de quotas rigorosas e de um defeso que geralmente se prolonga até maio permitiu recuperar os stocks e hoje a sardinha regressa às mesas com maior abundância, mais qualidade, sem comprometer a sua sustentabilidade.
O polvo, de grande importância para a pesca artesanal na nossa zona, encontrou-se em defeso na Zona Ocidental Norte de 17 de julho até 15 de agosto. O carapau, a cavala, a pescada, a raia, o linguado ou o robalo estão sujeitos a regras de captura, seja através de tamanhos mínimos, seja através de restrições temporárias que procuram proteger os períodos de maior vulnerabilidade.
Respeitar os defesos é, acima de tudo, respeitar o mar. É dar-lhe tempo para se regenerar, assegurar que as espécies se reproduzem e que as gerações vindouras terão peixe nas redes e nas mesas.
Mas é também uma responsabilidade comunitária: cada pescador que cumpre as regras, cada consumidor que exige pescado nacional, fresco e dentro da sazonalidade, está a contribuir para uma economia mais justa e para uma gastronomia mais autêntica.
Ignorar estas regras não é apenas cometer uma infração: é enfraquecer a economia local, desvalorizar o produto e pôr em causa a imagem de toda a pesca. Cada barco, cada rede e cada pescador que cumpre o defeso está a contribuir para um compromisso coletivo com o mar.
Se não houver peixe amanhã, não haverá também pescadores, nem lota, nem tradições como o “Ala-Arriba!” que tanto marcam a identidade poveira.


