O ‘motorista dos campeões’ foi o amuleto da sorte das modalidades poveiras que subiram de divisão

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Há dez anos que Francisco Postiga é o motorista das equipas de Póvoa Andebol e Clube Desportivo da Póvoa. Já acompanhou grandes momentos de conquista, incluindo o último mês de setembro, em que quatro equipas seniores poveiras subiram de divisão: andebol, hóquei, voleibol masculino e feminino. Também transportou o basquetebol, que acabou por não subir. Francisco Postiga, de 39 anos (na foto a conduzir a carrinha), residente na Póvoa de Varzim e natural das Caxinas, trabalha no Grande Colégio e Colégio de Amorim como motorista. Nessas instituições, existe um protocolo para que também realize serviços de transporte para o Póvoa Andebol e o Clube Desportivo da Póvoa. Há 10 anos que o faz. Nesta altura, por causa da pandemia, só há transporte de seniores mas, fora disso, o seu trabalho abrange todos os escalões.

Chamam-lhe o “motorista dos campeões” desde julho do ano passado, quando fez o transporte dos infantis do Póvoa Andebol que conquistaram o título nacional em Portimão. Desde então, cada vez que as equipas me veem entrar autocarro, dizem: ´Estamos safos’, sorri. “Já olham para mim quase como o amuleto da sorte”, sorri. E agora ainda mais, depois das conquistas recentes.

O Póvoa Andebol, que confirmou a subida Nazaré, é um “caso especial” porque esta não era a primeira vez que tinham hipótese de subir de divisão. “Era até algo que ambiconavam há alguns anos, ou seja, as emoções e expectativas antes dos jogos já não eram novidade, embora, claro, houvesse sempre alguma ansiedade normal. A viagem para a Nazaré foi tranquila, ficámos num hotel em Alcobaça e o ambiente era espetacular. Vi a equipa unida e senti mesmo que era desta”, conta Francisco.

Na viagem de regresso o autocarro quase que passou a ser uma discoteca. Muita música, festejos, lágrimas de alegria, e também uma grande vontade de chegar à Póvoa porque havia pessoas amigas e familiares à espera de os receber.

Um pormenor que lhe saltou à vista foi “a calma do treinador”, tanto nos momentos mais complicados como no fim da festa. “Sempre muito calmo e claramente com a equipa na mão”. Essa foi uma diferença para as outras tentativas de subida.

“Foi pena o Basquetebol, mas haverá outras oportunidades”

No voleibol, em Matosinhos, a equipa sénior masculina estava “extremamente confiante”, observou. “Notava-se que tinham feito bem o trabalho de casa e que só muito dificilmente não iriam subir de divisão. Mesmo nas conversas de autocarro dava para perceber isso. Nas meninas havia um nervosismo mais miudinho mas também têm jogadoras calejadas nestas andanças”.

Quanto ao hóquei, em Ponte de Lima, confidencia: “É a equipa que mais transportei e que conheço há muitos anos. Já os transportei pelo país todo e sabia que, neste caso, estavam tranquilos e cientes de que o seu lugar não era na 2ª divisão”.

Sobre o basquetebol, que acabou por não subir, diz: “Surpreendeu-me, à saída para Coimbra numa sexta à tarde, a quantidade de pessoas que estavam lá para incentivar. Normalmente isso acontece no futebol, nunca o tinha visto numa modalidade amadora. Só foi pena a equipa não ter conseguido subir, foi a única equipa que não consegui ‘devolver’ em festa à Póvoa mas haverá outras oportunidades”.

“Agora gosto mais das modalidades do que de futebol”

Mas a vida na estrada “é isto”, acrescenta: “Conversa-se de tudo um pouco, não apenas do desporto mas da vida em geral”.

Hoje em dia, Francisco é um adepto fervoroso destas equipas e vive-as com “intensidade”, sublinha. “Posso dizer que, à custa deste trabalho, agora gosto mais das modalidades do que de futebol. Ver um jogo de futebol para mim tornou-se monótono”.

Ser motorista em tempos de pandemia tem sido um desafio: “Quando começou o confinamento, os colégios fecharam e eu tive que parar. Lentamente, estamos a regressar à normalidade, embora agora ainda não haja transporte dos escalões de formação”.

Antes de trabalhar nos colégios e clube, Francisco Postiga era camionista de rota internacional.