Tenho a certeza que ninguém que no início do ano brincasse com os ‘Loucos Anos Vinte’ esperaria que essas palavras fossem tão literalmente aplicadas a 2020 e que este fosse um ano tão caótico. Agora que o desconfinamento vai, de forma mais ou menos rápida, começando um pouco por todo o mundo, há que virar a batuta para o futuro, e pensar como irá Portugal sobreviver a este ano. E muitos pensam que o pior já passou.
Ao contrário do que aconteceu na crise de 2008, o Coronavirus atingiu o motor de todas as economias – as pessoas. Se em 2008 Portugal se pôde virar para as exportações, e, assim, reerguer a economia, esta crise é em tudo pior, os nossos parceiros externos estão também eles desfeitos pelo vírus.
A economia foi forçada a paralisar num choque e abrandamento sem precedentes, quer do lado da oferta, quer do lado da procura. Portugal terá de se reinventar e a economia depois do Covid-19 nunca mais será igual. Crer que o início do desconfinamento é a solução para a nossa economia não passa de uma ideia romântica e vã. Aguardar pela vacina é solução para as pessoas, mas não para a economia.
Entre um sistema nacional de saúde que viu os seus problemas crónicos serem expostos, uma segurança social a rebentar pelas costuras, um país assente no turismo que de um momento para o outro parou e famílias e empresas a endividarem-se acima do desejável, Portugal lá terá de sobreviver.
E o grande alerta que realmente importa agora é que há mais de 340 mil desempregados e um universo potencial de 1 milhão de trabalhadores em layoff. Em pouco mais de três meses mais de 100 mil empresas recorreram ao layoff e nos próximos meses o expectável é que muitas de facto não reabram, nomeadamente muitas ligadas ao turismo e à restauração.
Entre estimativas mais que negativas, e que para o PIB apresentam números de -7% até -12%, e que para a taxa de desemprego apontam entre 9% e 15%, a verdade é que estes são apenas números mais ou menos casuísticos porque nunca estivemos numa situação como a que hoje vivemos, pelo que estas estimativas ainda podem vir a ser, e muito, ultrapassadas pela realidade.
Assim, desculpem o pessimismo, mas efetivamente o pior começa agora!
Rita Miranda Coelho