Onde colocar a nossa fé em 2025? – Opinião de Pedro Macedo

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Neste final do ano não faltam razões para estar pessimista quanto a 2025. Mas se olharmos para o todo do nosso sistema, com atenção e visão ampla, podemos descobrir locais onde colocar a nossa esperança. Vamos explorá-los juntos?

O modelo dos três horizontes (ver imagem), amplamente utilizado na definição de estratégias empresariais e não só, permite ver para além do óbvio. Em cada momento coexistem diferentes perspetivas ou modelos de desenvolvimento, todos eles importantes e necessários. Se queremos garantir o nosso futuro, há que ter bem presente as nossas prioridades.

O modelo atualmente predominante (H1 na imagem) baseia-se na utopia do crescimento ilimitado e na utilização “ao desbarato” dos recursos naturais. Este modelo trouxe-nos a época dourada da Humanidade, com enormes avanços da ciência e da nossa qualidade de vida (veja-se o crescimento da esperança de vida). Com o tempo, o modelo levou-nos onde estamos hoje: os recursos estão depauperados, as desigualdades e injustiças são gigantescas e crescentes. Segue-se o colapso ecológico e as guerras inevitáveis pelas sobras dos combustíveis fósseis, água e outros recursos. A menos que…

Simultaneamente, um novo modelo de desenvolvimento está a tentar singrar (H3 na imagem). Ainda é pouco expressivo, mas já vem a caminho. Tem como objetivo, não o lucro imediato de alguns, mas a regeneração do todo, com foco no planeta e em cada um de nós. Parece utópico, e é. Assim como o H1 começou do nada, o H3 está a dar os primeiros passos e parece impossível. Mas ele está lá. Quer conhecê-lo?

Para revelar o H3 aos olhos do mundo, o Centro do Clima trouxe a Portugal o documentário Alter Nativas. Como resultado da digressão nacional, produzimos um documentário, Caminhos da Transição, que mostra exemplos de H3 por todo o País. Porque não aproveita este período para alimentar a sua esperança num mundo melhor, vendo o documentário, em família ou com amigos? Basta ir a https://centrodoclima.pt/documentario/ Também pode aproveitar para rever a palestra que o Rob Hopkins deu na Póvoa de Varzim, e perceber como podemos explorar juntos este novo modelo de desenvolvimento https://centrodoclima.pt/imaginacao/

Para evoluir do H1 para o H3, sem colapsos ou surpresas desagradáveis, existem as estruturas de apoio à transição, como o Centro do Clima. O movimento Póvoa em Transição não é mais do que o modelo H2 (ver imagem) em ação. O nosso papel é olhar para o modelo H1 e revelar o que precisa de ser abandonado. Por isso, inevitavelmente, incomodamos os interesses instalados, e somos chamados de radicais. Por isso, há quem nos atire areia para a engrenagem.

Queremos também olhar para o modelo H1 e ajudar a preservar o que é importante. A nossa cultura ancestral de respeito pela Natureza, o nosso sentido de Comunidade, o património Cultural… E a água nas torneiras, a energia nas tomadas, o dinheiro a circular, a comida nas prateleiras, as urgências hospitalares abertas e as escolas a funcionar. Para manter tudo isto, temos de evoluir.

Quando se sentir sem fé e desamparado, não ache estranho. É normal. Estamos a fazer o luto do H1, que ainda cresce, mas irá desaparecer rapidamente, porque simplesmente não é viável. Temos também de estar atentos porque é o momento em que hienas e abutres se aproximam e procuram tirar vantagem do momento, com histórias populistas de encantar. Para recuperar a esperança, temos de investir a nossa atenção, e a nossa ação, no H2 e no H3. Faça deste propósito o seu objetivo para 2025: olhar em frente e não para trás.

O Plano Municipal de Ação Climática da Póvoa de Varzim será o grande instrumento de política para apoiar a transição. Para saber mais e poder participar pode ir a https://centrodoclima.pt/pmac/ 2025 será ano de eleições autárquicas. Avalie as propostas dos diferentes partidos e veja o que defendem: mais investimentos em H1, H2 ou H3? Todos são importantes, mas uns são mais importantes do que outros.

Em plena época natalícia, podemos também colocar a nossa atenção, e fé, no exemplo de Jesus. Nasceu numa humilde manjedoura e nada lhe faltou, sendo venerado por pastores e reis. Há história mais bela do que esta?

Pedro Macedo, Centro do Clima