Jovem no futuro, não é jovem, é adulto. Com o cliché “os jovens são o futuro” estamos a pedir-lhes para esperarem pela sua vez, percorrendo pacientemente 12 ou mais anos de escolaridade, enquanto se preparam para serem… adultos. Na realidade precisamos de jovens, não no futuro, mas hoje, trazendo uma energia (e uma exigência) de renovação. Amanhã será tarde demais.
Conheci o Ricardo Bertolino em 2003, num encontro da Fundação Avina. Em 1992 facilitou a criação do primeiro Ecoclube na Argentina e por essa altura já existia uma ampla rede de Ecoclubes espalhados pela América Latina. A filosofia não podia ser mais simples: empoderar os jovens para serem eles próprios protagonistas de mudança nas suas comunidades, ajudando a resolver questões ambientais e sociais. Um tremendo sucesso.
Pouco tempo depois estava a afixar cartazes na Escola de Mindelo com a frase “Procura-se Jovem com um profundo desejo de mudar o Mundo”. Vários responderam e deram origem ao primeiro Ecoclube em Portugal. Com a Associação Amigos do Mindelo para a Defesa do Ambiente, trouxemos o Ricardo a Portugal para uma digressão pelo País, ajudando a nascer novos grupos, ainda hoje ativos. Participamos em intercâmbios e inúmeras ações foram desencadeadas, incluindo a mítica descida do rio Douro em jangadas feitas com resíduos, para chamar a atenção para a poluição.
Até hoje continuo a usar esta simples fórmula – dar voz e poder aos jovens, para que eles sejam instrumentos da mudança que precisamos. Por isso no Centro do Clima estamos a dinamizar o programa “Jovens pelo Clima”, já na sua terceira edição, com início na próxima semana (últimas inscrições disponiveis!).
Também por isso no passado dia 5 de Junho, Dia Mundial do Ambiente, organizamos um encontro de jovens no Passeio Alegre, em que o palco foi inteiramente deles. Milhares responderam à chamada e, claro está, “arrastaram” as suas famílias, amplificando a transformação.
Estamos em plena crise climática – os recordes de temperatura batem-se quase todos os dias, morrem pessoas em incêndios, cheias ou devido a ondas de calor. Os jovens são as primeiras vítimas, pela sua vulnerabilidade e porque irão herdar uma Terra bem mais hostil e poluída, com recursos esgotados e a biodiversidade, sustento de tudo, depauperada. Por isso todos os estudos revelam uma profunda e crescente depressão nos jovens causada pelas alterações climáticas e outras crises sem fim à vista – a maior parte deixou de acreditar no futuro!
Mas os jovens não ficam parados. Seguindo o exemplo de Greta Thunberg, uma sueca de apenas 15 anos, milhões de pessoas juntaram-se às greves escolares pelo clima e ocuparam as ruas em locais por todo o Mundo. Um movimento climático que apenas a pandemia conseguiu esmorecer.
Das ruas os jovens saltaram para os tribunais, e seis jovens Portugueses processaram os governos europeus por inação climática. Infelizmente o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos não aceitou o caso, ainda que abrindo portas para novos processos.
Outros jovens optaram por ações mais radicais, já que nada parece funcionar para travar as crescentes emissões de gases com efeito de estufa. O ano passado invadiram o aeródromo de Cascais e bloquearam um jato privado para denunciar os “voos supérfluos e de luxo dos super-ricos”. A contribuição das viagens aéreas para agravar as alterações climáticas é um problema real e a rota de apenas 20 km entre o aeródromo e o aeroporto de Lisboa é considerada a segunda com maior intensidade carbónica da aviação privada na Europa.
Os voos continuam intocáveis, mas os jovens foram sumariamente condenados a uma pena suspensa de 15 meses de prisão, 135 dias de trabalho comunitário e ao pagamento de uma multa de 5300 euros. Dada a gravidade da mensagem que estes jovens nos trazem, procura-se matar o mensageiro, acusado de ser o “mau da fita”. A criminalização do ativismo climático é uma prática crescente.
Por cá continuamos a procurar resgatar a esperança nos jovens e amplificar os seus desejos para um futuro melhor. O mês passado o Centro do Clima participou no Encontro Nacional Jovem para a Justiça Climática e, juntamente com a rede de Ecolubes, iremos recolher contributos para levar à COP29 (Conferência sobre o Clima das Nações Unidas, que se realiza em novembro no Azerbaijão).
Pelos nossos filhos e com eles, não iremos desistir nunca.
Pedro Macedo, Centro do Clima da Póvoa de Varzim