Depois de mais de um ano, o país parece voltar a reabrir e muitas das restrições têm sido, gradualmente, levantadas. Para uns, este processo peca não só por tardio, mas também pela sua lentidão; enquanto outros pedem cautela para evitar novas vagas do número de infetados que possam obrigar a dar vários passos atrás. A Diretora Geral da Saúde, Graça Freitas, fez recentemente apelos para a população não baixar as medidas de segurança, afirmando que “a pandemia ainda não acabou”, reforçando que não descarta novo confinamento se surgirem novas e mais agressivas variantes do vírus COVID.
Caso se continue a verificar o cenário atual de redução das restrições, espera-se que o país volte, por completo, à “normalidade”. Mas muitos dos novos hábitos e tendências que se criaram e cresceram durante a pandemia têm forte probabilidade de continuar na realidade pós-COVID em Portugal. Como todas as crises, as disrupções provocadas pela pandemia abriram portas a novas oportunidades e muitas empresas, em diversos sectores da economia, aprenderam a adaptar-se às novas exigências dos consumidores.
Teletrabalho. E tele-namoro?
Talvez uma das mudanças mais icónicas aos hábitos dos portugueses durante a pandemia, o teletrabalho, antes residual no país, passou a ser adotado por várias empresas. Mas a transição para o mundo virtual não ficou apenas pelo trabalho. Confinadas às suas casas, e com os estabelecimentos de restauração fechados e a ausência de eventos culturais durante vários meses, muitas pessoas foram “empurradas” para as plataformas de encontros online, sejam sites de encontros ou aplicações móveis.
Uma indústria em crescimento nos últimos anos, as plataformas de encontros online tiveram um crescimento quase exponencial durante a pandemia. As empresas fornecedoras deste tipo de serviços rapidamente adaptaram-se não só fluxo de novos clientes, mas também às novas exigências dos consumidores. A demografia dos utilizadores destas plataformas é variada, assim como os motivos pelos quais são atraídos a esta nova forma de interação social, quer seja por procurarem relações duradouras ou de curto prazo ou simplesmente novas pessoas com quem partilhar os seus interesses.
Depois de adaptados a esta nova realidade, muitos utilizadores afirmam que vão continuar com os encontros online após todas as restrições terem sido levantadas e mesmo depois da pandemia ser uma memória de um passado distante. Especialmente para os primeiros encontros, as conversas por chamadas de vídeo são, para muitos, mais práticas, antes de ambas as pessoas concordarem em fazer a transição para um encontro offline.
Analogamente, muitas empresas agora adaptadas à realidade de teletrabalho, continuarão, certamente, a implementar este regime de trabalho quando possível. Existe também a alternativa “mista”, em que o trabalhador se apresenta nas instalações da empresa ocasionalmente, ficando em casa os restantes dias. Trata-se de um compromisso entre empresa e trabalhador que pode beneficiar ambas as partes – à empresa por redução de custos, ao trabalhador pela melhor qualidade de vida.
O crescimento imparável do comércio online
As restrições da pandemia forçaram a esmagadora maioria das lojas físicas a fechar e as marcas a reforçarem a sua estrutura de vendas online. Em 2020, as compras online apresentaram um crescimento impressionante de 33%. Para muitas empresas, o consumo dos seus produtos pela internet serviu de bote salva-vidas, já que as suas vendas em lojas físicas representavam a principal fonte de lucro. Em Portugal, 2020 registou o maior aumento nos últimos 20 anos da percentagem de utilizadores do comércio electrónico, de acordo com o INE.
A estimativa para 2021 prevê um crescimento mais modesto, com o comércio convencional a voltar a abrir e muitas pessoas a preferirem sair à rua para fazer as suas compras. Ainda assim, os valores apontam para um aumento bastante positivo em cerca de 15%. É inquestionável que a relação entre o comércio online e os consumidores mudou consideravelmente devido às consequências de uma pandemia mundial que surpreendeu de igual forma governos e empresas. O crescimento do mercado digital foi de tal forma acelerado pela pandemia, que é previsto que, no fim de 2021, feitas as contas, as vendas online perfaçam cerca de 150 milhares de milhões a mais, caso a pandemia não tivesse existido.
Muitas vezes, as pessoas são resistentes a mudanças. O vírus COVID-19 acabou por ser o empurrão para novos hábitos. Da mesma forma que muita gente espera poder voltar às suas rotinas passadas, outras mudanças estarão para ficar.