A carreira da equipa do Varzim tem “encarnado” da melhor maneira que pode, a velha doutrina que nos ensina os alcatruzes das noras: tanto se enchem de água das profundas dos poços, como ficam vazios depois de ficarem livres do precioso líquido. Salvo as devidas diferenças reais, os engenhos (ou noras) varzinistas também variam entre os altos e os baixos na carreira que “assinam” na Liga 3. De início, tudo parecia ser um “passeio dos alegres” para quem sente vibrar um coração alvinegro dentro do peito bairrista e clubista, com a equipa a somar resultados agradáveis que a levaram a ocupar os lugares cimeiros da classificação, na esperança de que a soma de pontos serviria de forte alicerce para que a fase final do Campeonato viesse dar a alegria tão ansiada do regresso aos Campeonatos profissionais. No entanto, quando menos se esperava, tornou-se numa “volta dos tristes”, com os resultados e exibições a ficarem longe dos desejos de todo o mundo varzinista.
O facto de a equipa ocupar presentemente o 3.º lugar da série A (Norte), não pode afligir muito, porque essa posição classificativa, com quatro pontos de avanço sobre o 5.º lugar que fica fora do lote dos felizardos, continua a servir de base para encarar o futuro com menor preocupação. O seu treinador Tiago Margarido, com 13 anos de prática nesse cargo por clubes com menores tradições, dentro da sua juventude (34 anos), no final do encontro que ditou a primeira derrota caseira do Varzim, e quase como em resposta ao desagrado manifestado pelos adeptos que ‘amam o clube do seu coração’, deu a cara ao afirmar sem reticências: “As grandes equipas têm de ter capacidade de ultrapassarem as fases menos boas, e estamos a passar por essa fase no que diz respeito aos resultados. Nos momentos maus é que vemos as grandes pessoas, e eu sei que temos um grupo de grandes homens que vai dar a resposta e, no final, estaremos todos juntos a festejar”. Assim seja, assim desejam os varzinistas.
É que vistas bem as coisas, depositaram nas mãos do treinador, uma batata bastante quente. Repare-se, e é bom que se medite e se tirem as devidas conclusões, que houve uma remodelação radical dentro do clube, só “escapando”, praticamente, o líder diretivo e dois punhados de colaboradores. Basta reparar que do atual plantel de 29 jogadores, só dois transitaram da época passada – o guarda-redes Ricardo Nunes (que se tornou num verdadeiro ex-libris varzinista nos seus “quatro carros” de anos) e o defesa Tiago Cerveira. Os outros 27 entraram pela primeira vez nas portas varzinistas, distribuindo as suas nacionalidades por 6 países – Portugal, Brasil, Guiné-Bissau, Colômbia, Nigéria e Espanha.
Evidentemente que tantas teclas dispersas (de sons e cores diferente), tem forçosamente de criar embaraços a quem tem como missão construir um instrumento musical que dê música agradável a quem ouve (neste caso do futebol a quem vê). E essa missão forçosamente que se torna pesada e preocupante para a liderança técnica, e mais ainda pelo facto da mudança radical atingir o chamado “staff”, quase todo ele oriundo de terras distantes da poveira que alberga tanto amor clubista e bairrista – predicados que tanto mereceram louvores sempre que a equipa se deslocava ou jogava em casa, como, de um momento para outro, causaram amargos de boca bem assinalados no final do jogo frente à Sanjoanense. “Nem tanto ao mar, nem tanto à terra”, apetece dizer dentro duma linguagem que se enquadra com os Lobos do Mar, tão identificativos da Família Varzinista.
O treinador mostra-se confiante que no final do Campeonato hajam motivos suficientes para haver festa rija, como o clube já escarrapachou há anos no seu historial. E nós cá estamos para ver a profecia do cidadão portuense a tornar-se realidade, para agrado de quem vive ou nasceu neste cantinho do litoral situado na ponta norte do distrito centralizado na “capital tripeira”.