(Sobre)viver depende da nossa imaginação – Opinião de Sara Rocha

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O futuro não depende apenas da ponderação insondável de umas poucas dezenas de pessoas que decidem por nós. Esta é a boa notícia. Outra boa notícia é que o nosso futuro depende, sobretudo, da nossa capacidade de o imaginar.

O mundo natural e as suas forças indomáveis impõem fronteiras físicas às sociedades humanas. Ao longo dos tempos, as civilizações têm germinado do desejo de superar esses limites que não escolhemos, inventando formas de chegarmos ao céu, de atravessar mares e de entrar nos lugares mais recônditos.

Outra fronteira que delimita as sociedades humanas é a imaginação coletiva, essa capacidade de sonhar e desejar, de conceber e inventar uma visão inspiradora que nos move. A imaginação coletiva tem determinado os pontos de viragem que aprofundaram o entendimento sobre nós próprios enquanto espécie. Assim foi com a conquista dos direitos humanos, com as correntes artísticas e de pensamento que determinam a forma como pensamos, sentimos e vivemos hoje.

Contudo, esse “super-poder” – a imaginação coletiva – que nos diferencia de todas as espécies do planeta, está hoje enfraquecido. Muitos apontam a falta de imaginação como a maior causa de crises que vivemos hoje, incluindo a climática. A incapacidade de imaginar uma sociedade pós-carbono pode ter consequências profundas para as gerações futuras e para a sua capacidade de se adaptarem, de terem esperança e de sonharem com um mundo melhor.

Desde logo, precisamos de nos libertar dessa ideia de que a imaginação é um luxo acessível (e aceitável) apenas às crianças ou a artistas que vivem das suas ideias excêntricas. Estimular a imaginação não é supérfluo, é uma necessidade e uma competência essencial para a vida, o canal para a criatividade e curiosidade, para o pensamento crítico e para a resolução de problemas.

Para sentirmos a imaginação como um verdadeiro poder, precisamos de desconstruir a ideia de que o futuro se decide em relatórios de pessoas anónimas, emaranhados numa linguagem técnico-científica que nos faz sentir que nem “burro a olhar para um palácio”. As transformações que os desafios ecológicos atuais exigem às sociedades modernas passam pela capacidade de imaginar coletivamente e de deliberar de forma ativa sobre futuros realistas e desejáveis que nos permitam caminhar para um futuro mais saudável, justo, resiliente, feliz.

Não é objetivo deste texto destrinçar as causalidades da falta de imaginação, essa é uma outra conversa importante. Desta vez, quero fazer-lhe um convite que, se permitir, pode ser um tónico para a sua imaginação.

Nos últimos meses, o Centro do Clima tem vindo a tecer relações, a mobilizar recursos e gerar oportunidades de encontros entre pessoas, vontades e necessidades. Um caminho a fazer com uma paciência impaciente (isto porque o tempo passa e calamidades como os incêndios recentes relembram-nos a emergência climática).

No lançamento da campanha “Vidas em Transição”, um Diana Bar cheio testemunhou o encontro entre pessoas que, de outra forma, provavelmente jamais se cruzariam. Gente de todas as idades e com percursos de vida distintos, que ousaram partilhar um pouco da sua visão e dos seus esforços quotidianos para construir um mundo melhor para todos. Não demorou muito até darmos por nós a falar sobre a Póvoa com que sonhamos. Foi um momento inspirador. Desde então, temos estado a colaborar com algumas destas pessoas para construir ideias de projetos para a Póvoa.

Note que toda esta dinâmica teve como origem as ideias de um grupo informal de cidadãos, o movimento Póvoa em Transição. Pessoas parecidas consigo. Estamos a planear uma apresentação desta campanha nas freguesias do concelho. Até lá, deixo-lhe o convite para espreitar a campanha aqui: www.centrodoclima.pt/vidas-em-transicao/ Também pode ir à Biblioteca Municipal Rocha Peixoto conhecer o novo acervo dedicado à transição ecológica, construído à boleia da criação do Clube de Literacia Climática.

Outro convite. No próximo dia 15 de outubro teremos a oportunidade única e imperdível de ter a visita de Rob Hopkins à Póvoa de Varzim. Rob acredita profundamente que temos a capacidade de provocar uma mudança radical nas nossas vidas e demonstra evidências de que as coisas podem mudar, que culturas mudam, e de forma inesperada – para melhor. Este senhor tem dedicado a sua vida a escrever, comunicar, a ilustrar e a ativar dinâmicas comunitárias de transição ecológica, uma figura internacional reconhecida e que dificilmente voltará a Portugal. O seu último livro acaba de ser lançado em Portugal: “E se… libertássemos a nossa imaginação para criar o futuro que desejamos?” (disponível em www.bambualportugal.pt).

O Rob Hopkins virá à Póvoa para dois eventos que pretendem despertar e tonificar a nossa imaginação, criando oportunidades de viver e sentir o que poderia ser o futuro que desejamos. Aprender a deixar que perguntas começadas por “E se…?” orientem o nosso imaginário. Andámos que nem formiguinhas a trabalhar para o trazer cá e agora chegou o momento de nos ajudar a recebê-lo. Para tal, apareça, traga a sua imaginação e vontade em contribuir para construir o nosso futuro! A participação é gratuita, mas limitada. Pode encontrar mais informações aqui: https://centrodoclima.pt/imaginacao/ Como nos diz Daniel Wahl, “devemos ver as crises convergentes como desafios criativos para crescer e evoluir, para alcançar uma consciência planetária”.

Sara Rocha, Centro do Clima