Um novo ciclo e um compromisso renovado com o mar

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As recentes eleições autárquicas trouxeram uma nova realidade política à Póvoa de Varzim. Cada novo mandato abre um ciclo de expetativas e responsabilidades, sobre- tudo no que toca à relação entre o município e os setores que dão vida à cidade. Entre esses, o setor das pescas continua a ser um dos mais representativos e estruturantes da identidade poveira.

A Póvoa tem um mar maravilhoso, que faz parte da nossa história e da nossa paisagem. Mas o mar poveiro não é apenas sinónimo de praia e turismo — é fonte de trabalho, sustento e cultura. É dele que vivem muitos poveiros e é nele que assenta uma parte importante da economia local. Por isso, neste novo ciclo autárquico, é essencial que o município reforce a sua ligação à comunidade piscatória, mantendo um contacto direto, constante e privilegiado com quem vive do mar.

Mais do que planos ou intenções, é a presença e o diálogo que fazem a diferença. Conhecer de perto a realidade de quem trabalha no setor é o primeiro passo para encontrar soluções eficazes e sustentáveis. O mar tem múltiplas vozes — a dos pescadores, que enfrentam o esforço diário da faina e a dos armadores, que assumem o investimento, os riscos e a criação de emprego. Ambos merecem ser ouvidos e valorizados. Só com uma relação de proximidade e respeito mútuo será possível manter viva a frota poveira e garantir o futuro da nossa pesca.

Ao mesmo tempo, o poder local pode e deve ser um canal de comunicação privilegiado na defesa do setor junto da administração central. A experiência de proximidade da autarquia permite-lhe identificar com clareza os problemas concretos, as necessidades reais e as oportunidades de crescimento. Quando o município se torna um interlocutor ativo junto das entidades governamentais, reforça a capacidade de intervenção do setor e contribui para políticas mais ajustadas à realidade das comunidades piscatórias.

Outro eixo essencial é a pro- moção e valorização do pesca- do local. O peixe da Póvoa é um produto de excelência, reconhecido pela frescura e qualidade, mas que ainda carece de maior divulgação. A autarquia pode ter aqui um papel decisivo, apoiando campanhas de promoção, projetos educativos e eventos que aproximem o público do produto e dos produtores.

É igualmente importante dinamizar e incentivar a restauração poveira, que é a montra natural do nosso pescado. A Póvoa tem poucos — mas excelentes — restaurantes de peixe e marisco e é fundamental apoiá-los, criar condições para o seu crescimento e promover a gastronomia local como fator de atração e de desenvolvimento. Valorizar o peixe poveiro é também valorizar a restauração e, com isso, reforçar a ligação entre o mar, a economia e o turismo sustentável. Falta voltarmos a sentir, nas ruas, o cheiro a peixe grelhado à porta dos restaurantes, esse traço tão típico das cidades costeiras e de tradição piscatória, que aqui parece ter-se perdido.

O futuro das pescas depende de cooperação, presença e visão. O mar não pode ser apenas um cenário bonito — tem de ser entendido como um ativo estratégico e uma responsabilidade comum.

Neste novo mandato, esperamos que a autarquia coloque o mar no centro das suas priori- dades, reforçando o contacto com as associações do setor, ouvindo quem trabalha e envolvendo toda a comunidade nas decisões que dizem respeito ao seu futuro.

Acreditamos que só com proximidade, diálogo e compromisso será possível preservar o que temos de mais genuíno: a nossa cultura marítima e o valor das pessoas que todos os dias enfrentam o mar.

Porque a Póvoa de Varzim só será verdadeiramente completa se continuar a ser, com orgulho, terra de pescadores e de mar.