Passeios na história“ O Regalga”

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Ao escrever a meia centena de crónicas “Passeios na história” e pedindo aos meus leitores mais ou menos assíduos as desculpas pelo tempo que lhes roubei e pelos erros e má escrit a que a elas emprestei juro a todos que aqueles não foram intencionais e que esta é só resultado de um deficit de aculturação. Após esta introdução vamos então hoje abordar um grupo de amigos que, por costume, se encontravam bebendo alguns copinhos numa mercearia da nossa terra. Um certo dia a esse grupo se juntou, por chamamento da sua “pituitária”, pois a vinha lhe cheirava, coisa que ele muito apreciava, homem conhecido por “Regalga”que tocava cornetim. Depois do aquecimento natural e da discussão sobre a  capacidade  musical   daquela   gente,combinaram sair para a noite com um bombo, caixas, pratos, trombone e, claro, com o cornetim do “Regalga” indo colocar-se frente ao portão de ferro do cemitério no Largo das Dores começando aí o ensaio da música e do canto propiciando um barulho infernal.Ao terminarem o primeiro ato, desafinando um pouco e, fazendo uma pausa, ouviram do lado de dentro das paredes do cemitério um ruído enorme e, de seguida, alguma coisa que saíra deste, passou e roçou as pernas de alguns dos tocadores fazendo o medo tomar posse daquela valente gente fazendo-os fugir desordenadamente deixando perdidos os instrumentos tendo todos desaparecido.No dia seguinte, o “Regalga” bateu todas as portas da sua zona de moradia procurando os instrumentos uma vez que ignorava mesmo o seu amassado cornetim sem que alguém lhe desse alguma notícia. Dirigindo-se então ao Largo das Dores alguém o informou que o bombo havia aparecido próximo, a caixa estava no campo do Zé do Poço, os pratos, um aparecera no Regato da Moita e o outro nos Fiéis de Deus tendo os restantes instrumentos sido encontrados na areia, junto ao Paredão…Volvidos alguns dias voltaram a encontrar-se os membros da música brava na casa do costume refeitos já do pesado susto mas com sérias dificuldades em falar sobre o assunto que lhes fazia tremer as pernas e bater forte os corações.Veio a saber-se mais tarde que o grande causador de tal alvoroço havia sido o felino do falecido mestre Viana professor oficial da Aula do Conde Ferreira, gato esse que “tinha por costume andar de noite por aquele local em busca de ratos e corujas por ali abundantes.Assim terminava a música brava do “Regalga” pois os instrumentos foram aparecendo em condições de seguirem para a sucata…

                    Paulo Veríssimo