São já 65 anos de história. No Grupo Desportivo Cultural e Recreativo Senhora do Ó, a “cultura de apoio à comunidade e de serviço” esteve e está presente, nomeadamente nas várias atividades que oferece à população estelense. Jorge Tomé, presidente da associação, conta ao MAIS/Semanário como tem sido gerir a associação durante uma pandemia.
O Grupo foi fundado em 1956 e teve “muito sucesso”. Mas, de acordo com Jorge Tomé, após uma pausa nos anos 80, retomou atividade no início dos anos 90, “com o meu antecessor, José Alberto Eiras”. No início, a “paixão pelo teatro” era o que movia a associação, e houve “cartazes interessantes e grandes peças representadas”. Contudo, foi a partir de 1991 que surgiu “outra dinâmica”; o presidente conta que foi nessa altura que foram promovidas “outras atividades, entre elas e uma das mais importantes o ténis de mesa, mas também a ginástica, aeróbica e outras danças”.
Também os eventos mais pontuais, como a Queima do Judas, o Festival de Papagaios ou as noites de fados, costumam ser celebrados pelo Grupo Desportivo Cultural e Recreativo. Para noticiar e comentar todas estas atividades, em 1995, o Grupo começou o jornal Notícias da Estela. Jorge conta que foi ele “a pessoa que levou a ideia de criar o jornal” e, em 25 anos, o mesmo melhorou a sua essência. “No início era o nosso jornal. Agora, já não temos essa ideia, é o jornal de todos”, afirma.
Foi nos últimos 30 anos, também, que se realizaram várias obras nas instalações da associação. Depois de uma primeira remodelação do telhado e dos pisos, começou uma “outra fase de remodelação, com a ajuda da Câmara e também com bastantes meios próprios”, avança Jorge Tomé. Nessa altura, a estrutura de apoio foi “reconstruída completamente”, mas na estrutura do edifício principal “não mexemos tanto assim”. O projeto mais recente seria criar “uma antecâmara para o auditório”, de maneira a “conseguir ter atividades em simultâneo”. Mas, para isso, são necessárias mais “verbas e recursos”, e, em tempo de pandemia, esse é um aspeto “complicado”.
É complicado os jovens terem “tempo para tudo”
Jorge Tomé garante que “temos uma gestão muito cuidadosa quanto às nossas finanças”, porém a pandemia apanhou a associação desprevenida. “Nós paramos em março e estamos completamente sem atividade e sem qualquer receita”, e, por isso, é preciso “ter alguma reserva”.
Apesar de tudo, o presidente do Grupo defende que “o nosso objetivo é sempre trabalhar e gerir de forma que não necessitemos de apoios permanentes ou subsídios”. Diz mais: “não podemos depender a nossa atividade em subsídios”, até porque, para Jorge, “não faz sentido”. Mesmo com esta mentalidade, não descarta a ideia de pedir um dia ajuda. “Não sei o futuro, e isto não impede de eu num ou outro momento necessitar de um apoio excecional para fazer um grande investimento”, esclarece. É neste sentido, de gerir o património, que algumas das valências da associação tiveram de ser suspensas. Foi o que aconteceu com a música, por exemplo, que, após uns anos, “entrou em prejuízo”. O número de alunos não cobria o preço a pagar pelos professores, o que “não é rentável nem é sustentável”.
Com o ténis de mesa, algo parecido sucedeu. Apesar de ainda existir, a classe “tem perdido muitos praticantes”, fenómeno que, segundo Jorge Tomé, “acontece em todas as associações”. Uma consequência das várias atividades disponíveis às crianças e jovens, que dificultam “ter tempo para tudo”, mas o presidente defende também que “é uma questão de moda. Neste momento, até a PlayStation nos faz concorrência.
“Preferimos não correr o risco”
Com as restrições da pandemia, “nem reuniões temos feito”, comenta Jorge. “Cumprimos escrupulosamente as regras”, mas, mesmo assim, afirma que “uma coisa é criarmos as regras, outra é elas serem cumpridas”.
Esta situação é ainda mais complicada “quando estamos a falar de crianças e jovens adolescentes”. Por isso, o presidente do Grupo defende que “preferimos não correr esse risco”, até porque “não há nada que se possa sobrepor à saúde das pessoas”. Só “muito a medo” abriram algumas aulas, mas “só as classes de adultos, no período em que foi permitido”.
Quanto a aberturas seguintes, coordenadas com o plano de desconfinamento do Governo, Jorge Tomé nota que “é muito difícil fazer previsões”. A época atual “está perdida”, porque “não vamos começar uma época em abril”. As atividades desportivas e recreativas estão, assim, suspensas. “É uma situação que vamos pensar para setembro, para depois do verão, mediante as condições que tivermos na altura”, explica.
“Temos de ser resilientes para voltarmos a ter oferta”
Sobre planos futuros, Jorge mostra-se “muito cético”. Esclarece que “temo um bocadinho que esta pausa nos venha afetar no futuro. E isto não será só com a nossa associação, mas com todas”. Nesse sentido, deixa o apelo a que a população em geral “se cuide, que tenham cuidado com a pandemia para podermos acabar com isto depressa e voltarmos à atividade normal”.
Ao falar em nome do Grupo Desportivo Cultural e Recreativo Senhora do Ó, diz que estão “ansiosos por voltar à normalidade”. Para isso, “temos de ser resilientes” de maneira a “voltarmos a ter oferta, a chamar as pessoas, para trabalharmos todos juntos e podermos oferecer atividades”.
Por fim, deixa o pedido de mais recursos humanos para a associação. “A minha maior necessidade, mais do que meios financeiros, são pessoas”. Refere que “temos uma direção de 13 pessoas, e é preciso fazer o esforço para termos tempo para a associação”. E remata: “Eu próprio tenho muito pouca disponibilidade. Mas aquele tempo que sobra, que fazemos para sobrar, para disponibilizar, é para trabalhar para a causa”.