Está a finalizar o mandato como presidente de junta. Qual o balanço do mesmo? Foi um mandato a três tempos. Primeiro a organização da junta em termos de gestão financeira e de procedimentos. Depois a implementação do nosso programa e avançar com as obras nas freguesias e depois infelizmente a reorganização do nosso eixo de atuação, para responder às dificuldades provocadas pela pandemia. O balanço é sinceramente positivo, porque houve sempre uma grande entrega à causa pública e a perceção geral, pelos funcionários e membros do executivo, de que podíamos fazer a diferença.
Qual a vertente que predominou neste seu mandato, em particular na cidade? Na cidade como em Beiriz e Argivai, implementei o conceito de uma Junta aberta, disponível para ajudar na resolução dos problemas do dia a dia das pessoas. Isto era o mais importante. A Junta nestes 4 anos teve um papel de grande colaboração com a Câmara e com as associações. Assumiu ainda responsabilidades em áreas que normalmente não intervinha. Um exemplo disso é a grande importância que demos à questão ambiental. Colaboramos na captura de colónia de gatos, realizamos ações de sensibilização com campanhas nas escolas dos Dias de recolha dos Monstros Urbanos, ações de Limpeza das Praias, sinalética para a recolha de resíduos nas freguesias, reduzimos a aplicação de herbicidas e recolha de verdes ao domicílio, passamos a fazer a seleção de resíduos em todas as delegações. Não posso apontar vertentes predominantes, mas o ambiente foi com certeza uma nova área de intervenção.
Outra nova área de intervenção foi a preocupação com os mais jovens. As Juntas tradicionalmente dedicam-se aos seniores. Além de várias atividades, nas três freguesias a União de Freguesias instalou em 4 anos, 4 Parques Infantis.
Criou diversas atividades e apoios para os cidadãos poveiros, nomeadamente com a academia sénior. Satisfeito com a adesão das pessoas? A Academia sénior tem o mesmo conceito dos Centros Ocupacionais e do Desporto Sénior. São atividades gratuitas na Póvoa de Varzim, Beiriz e Argivai, destinadas aos maiores de 65 anos ou reformados. Podem inscrever-se de setembro a julho no Yoga, no Pilates, na informática, iniciação ao inglês, Escrever um Conto, Venha conhecer a sua Freguesia, Oficinas de artesanato, pintura e desenho. Antes da pandemia tínhamos anualmente 500 inscrições. muitas dessas atividades eram inter-geracionais e todos os eventos de Magusto, Sardinhada e Carnaval passaram a apelar a que trouxessem os netos. Todos os eventos da Junta, muito devido à forma descomplexada e ambiente familiar que promovemos, são muito concorridos. Participei na nossa atividade de limpeza das praias e em dois dias tínhamos o número máximo de inscrições permitido pela DGS.
Decidiu incentivar e divulgar as tradições poveiras (siglas, jogos tradicionais, entre outros) junto das escolas e da população em geral. Porquê destas ações culturais? Uma importante responsabilidade da junta é a do fortalecimento do sentido de comunidade. É junto das crianças que temos de procurar construir o sentimento de pertença à sua terra, às suas tradições e às suas raízes. Isto sempre foi acontecendo pela influência dos pais e dos avós, o que é o meu caso. Hoje em dia, a principal influência das crianças são a televisão e os jogos. É preciso incutir-lhes a nossa riquíssima cultura, tornando-a apetecível para os mais novos. Por isso, as siglas são apresentadas como uma caderneta de cromos, daí a razão de termos entregue centenas de bancos e bolas da pela, sticks e bolas da boiada, um verdadeiro Kit de Jogos Tradicionais às Escolas. A linguagem secreta dos Erguinas de Beiriz foi apresentada em forma de jogo de tabuleiro. A Camisola Poveira aparece com a Ceia de Natal Poveira num livro infantil: “O Pai natal Poveiro”, entregue a todas os alunos do 1º Ciclo. Organizamos no Verão, Natal e Páscoa as “Férias Poveiras na Junta” para miúdos dos 6 aos 12 anos. Não se trata duma colónia de férias vulgar, é mais uma escola de poveirinhos: visitar o farol da Lapa, subir ao Farol de Regufe, almoçar no Chapéuzinho, visitar o Museu, jogar aos Jogos Tradicionais, desenhar a história do Cego do Maio, criar uma embalagem de conservas, Bordar uma lancha Poveira em Ponto de cruz, visitar um armazém de redes, treinar com os jogadores do Varzim, conhecer o estaleiro naval, fazer vela, brincar na praia.
Todas estas e outras atividades visam criar um futuro com o mesmo sentimento de amor à Póvoa que temos agora.
A Junta apoia e incentiva a divulgação da cultura. Porquê? Como disse a cultura é o principal fator de agregação de uma comunidade. Não é à toa que continuam a existir Casas dos Poveiros no Rio, em São Paulo, em Toronto. Isto quer dizer que mesmo fora da sua terra, os poveiros continuam agarrados à sua identidade, não a abandonam. A Junta decidiu investir na promoção, divulgação e facilitação de acesso à cultura, especialmente da cultura popular. Todos os anos investimos na Recuperação do Património Cultural das Associações Poveiras, daí surgiu o CD do coro Capela Marta e a Opereta Poveira das Tricanas Poveiras.
Não se tratou apenas da cidade, mas uma ação concertada em Beiriz e Argivai com a comemoração dos dias das Freguesias, o apoio às grandes iniciativas populares como a visita do Rancho de Sta. Eulália aos Açores, ou o Apoio à obra de Restauro da Capela do Bom Sucesso. Obras como a reconstrução dos Tanques de Lavadeiras de Belém, da Pedreira e da Fonte Nova em Beiriz ou a criação de um Parque Natural de árvores autóctones em Argivai, numa clara alusão às antigas matas do Anjo, pretendem dar oportunidade às próximas gerações de conhecer o modo de vida dos seus avós e as suas origens.
A vertente social não foi esquecida? O primeiro ano de mandato ficou marcado, como não podia deixar de ser, pela criação de vários regulamentos na sua quase totalidade aprovados por unanimidade por todos os partidos da Assembleia de freguesia. Um dos primeiros foi o de Apoios Sociais. Estabeleceu-se como, quando e em que condições se podia e devia ajudar. Daí resultou uma série de medidas como o Cabaz de Emergência, o Banco de ajuda à Infância (recuperação e reutilização de vestuário, calçado, mobília, brinquedos), Obras ao domicílio, Gabinete de Psicologia, Balneário Social, Roupeiro Social, Apoio ao emprego, Bolsa de Cuidadores, Apoio de Fraldas Geriátricas, Banco de ajudas técnicas (Camas articuladas e Cadeiras de rodas).
No segundo ano de mandato, aumentamos o apoio financeiro anual das IPSS (Beneficente, Mapadi, Madre Matilde e Maria da Paz Varzim) para 40 mil euros.
Criamos os Mercados Sociais de Natal e Páscoa, convidando as Associações a colocar os seus produtos à venda na Junqueira. Estabelecemos parceria com o Mapadi para escoamento dos produtos hortícolas do seu centro de trabalho protegido, cedendo um lugar gratuito na Feira das Moninhas. Todos os anos integramos preferencialmente, na Junta, através de Contratos Emprego Inserção pessoas com deficiência, dando-lhes oportunidade de exercer uma profissão.
Serviços como Junta ao domicílio, que permite fazer a prova de vida em casa ou de Junta ao Cidadão, que consiste em ajudar as pessoas a utilizar os sites dos Registos e Notariado, Finanças, Serviço Nacional de Saúde, são um apoio diário a quem não consegue utilizar as plataformas informáticas.
Não só a vertente social não foi esquecida, como tenho a certeza absoluta que há muitas famílias nestas três freguesias que nunca mais se esquecerão desta Junta.
Uma grande parte deste mandato desenrola-se durante a pandemia da covid-19. A junta conseguiu adaptar-se a esta nova situação da sociedade e responder aos problemas dos cidadãos? A Junta de Freguesia da Póvoa, Beiriz e Argivai nunca fechou. Só neste aspeto já fizemos a diferença face a muitos outros serviços públicos. No terceiro e quarto ano do meu mandato, a atividade de apoio social intensificou-se. A pandemia veio validar muitas das opções que tínhamos tomado e a Junta tem trabalhado de forma muito coerente com o Pelouro de Ação Social da Câmara Municipal. O centro logístico das centenas de cabazes de emergência ficou em Argivai. Criamos em Beiriz um Centro COVID para receber pessoas que não conseguiam fazer o seu isolamento em casa. É preciso não esquecer que, se as Juntas foram a primeira linha de apoio, nesta União de freguesias trabalhávamos para 34.000 pessoas, metade da população do Concelho. Como tinha dito, decisões que tomáramos nos primeiros anos capacitaram a junta para dar uma resposta rápida.
A carrinha de 9 lugares adquirida em 2018 passou a distribuir cabazes, a levar as compras a quem estava confinado. A carrinha de caixa aberta comprada em 2019, foi adaptada, para se poder fazer com o trator, a desinfeção dos espaços públicos. Graças à nova Loja dos CTT em Beiriz, recém-aberta em 2019, foi possível pagar as reformas sem que os pensionistas tivessem que se deslocar à cidade. A grande adesão a atividades da Junta pelos seniores, tinha produzido uma base de dados com 1500 utentes que continuamos a contactar e monitorar. A pandemia não acabou e apesar de haver claros sinais de desaceleração, continuam a surgir novos problemas. A Junta tem a responsabilidade de lhes dar resposta. Neste momento é a Junta que tem assumido o transporte de pessoas, com dificuldades de mobilidade, à vacinação.
A Junta da Póvoa de Varzim está espalhada por três locais da cidade (norte, matriz e sul). No futuro poderá existir um único edifício que permita desenvolvimentos de outras atividades? O meu compromisso com os poveiros e com a Câmara Municipal foi o de provar que podemos ser mais do que uma repartição onde se passam atestados. Para fazer atestados não é preciso mais do que as 5 ou 6 salas que neste momento são as instalações da Junta da Póvoa de Varzim. No meu mandato a Junta assumiu outro tipo de papel na cidade e precisa de instalações dignas para a sua atividade. Foi muito difícil implementar 12 atividades seniores, algumas com 20 alunos em simultâneo, em salas que eram constantemente montadas e desmontadas, ora para cursos de informática ora para atividades desportivas.
O Gabinete de Ação Social e Inclusão precisa de condições para sessões de esclarecimento, para sessões de terapia, para formação, até para consultas de psicologia e atendimento. Na verdade, encontrei melhores instalações de Juntas em Beiriz e Argivai do que aqui na Póvoa de Varzim. Temos recorrido ao Turismo para as nossas exposições das Formações em artesanato e ao Diana Bar para apresentações de Livros e outros eventos. Falta espaço para assumir outras responsabilidades, pois rapidamente esgotamos a capacidade das atuais. Falta espaço, por exemplo, para nos dedicarmos a workshops e atividades de divulgação da cultura poveira com as crianças. Estávamos a utilizar a Escola de Nova Sintra para as Férias Poveiras da Junta, mas foi agora remodelada para outras funções. É bom espalharmos o nosso trabalho pela cidade, mas é muito complicado em termos logísticos e em muitas situações pura e simplesmente não é possível avançar com os projetos. Tudo isto são coisas boas e só quer dizer que a Junta pode ser maior, fazer mais.
Tenho comunicado esta situação ao Presidente da Câmara, que apresentou uma solução para o problema. A concretizar-se, irá de uma vez por todas resolver esta situação e colocará sobre os ombros do presidente da Junta da cidade uma ainda maior responsabilidade.