Aceite pedido de certificação da Camisola Poveira

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O pedido de registo da Camisola Poveira no Registo Nacional de Produções Artesanais Tradicionais Certificadas recebeu o parecer positivo da Comissão Consultiva. O anúncio foi publicado na sexta-feira em Diário da República, tendo ficado definido um caderno de especificações para a produção da peça de vestuário.

Segundo este documento, a Camisola Poveira é “uma icónica peça de traje festivo masculino, feita em lã, no seu tom natural de ovelha branca, decorada com emblemáticos bordados a ponto de cruz que ostentam uma iconografia própria e marcante pelas suas cores preto e vermelho” e “um dos ex-líbris da Póvoa de Varzim”.

É estabelecido que, embora a peça esteja “associada, fundamentalmente, aos limites geográficos da freguesia da Póvoa de Varzim”, a delimitação geográfica da produção da Camisola Poveira engloba todo o concelho. Isto porque, diz o anúncio, tal “é um fator indispensável à manutenção desta produção artesanal tradicional e ao seu desenvolvimento futuro”.

A produção certificada exige que as Camisolas sejam feitas “exclusivamente” em tradicional lã de ovino, “de forma a respeitar a origem histórica”. Por outro lado, no que toca aos motivos bordados, pode ser utilizada a lã de ovelha, fios de algodão mercerizado ou fios de fibras sintéticas.

Inovações precisam de aprovação

“As cores permitidas para a ‘Camisola Poveira’ e os seus bordados são as usadas tradicionalmente e com maior frequência”, lê-se, no entanto, podem ser utilizadas cores mais escuras na camisola com ajustamento nas cores dos bordados. Por exemplo, a Camisola poderá ser vermelha, com bordados pretos, ou azul-marinho, com bordados brancos e vermelhos.

O que não pode ser alterado ou “inovado” é a estrutura da camisola e os motivos bordados, que devem ser “inspirados nas tipologias e desenhados de acordo com as regras” do caderno de especificações. Mesmo assim, as inovações devem ser submetidas a aprovação pela comissão de acompanhamento do processo de certificação da produção artesanal.

Quanto à efetiva produção da Camisola, fica assente que tal deve ser feita através da técnica do tricot ou malha. Como apoio à confeção, pode ser utilizado uma máquina de tricotar doméstica não automatizada. Já os bordados têm de ser feitos manualmente, em ponto de cruz.

Peça ressurgiu pelas mãos de criador do Rancho Poveiro

No documento, é incluída uma secção sobre a história da Camisola Poveira, onde é ressalvado o trabalho do etnógrafo poveiro António dos Santos Graça, que selecionou a indumentária para o Rancho Poveiro, depois de anos ‘esquecida’. “António dos Santos Graça colocou em evidência esta peça de traje, que se destacava pela sua singularidade, tanto mais que fazia parte do traje masculino de outrora”, é relembrado.

Nos anos seguintes, a Camisola foi posta em evidência ao redor do mundo, através de exposições, publicações (como na revista National Geografic, em 1938), e filmes (‘Ala-Arriba’, de Leitão de Barros, em 1942).

“Na sua difusão nacional e internacional há a considerar o facto de a mesma constituir uma peça de traje cómoda, alegre, original, fácil de executar e, em simultâneo, possuir afinidades com as camisolas de lã em moda a partir da década de 20 do século passado, aspeto que motivou uma lenta e progressiva utilização por locais e visitantes”, continua.

Mais recentemente, a Camisola Poveira voltou a renascer com a polémica datada de março de 2021, em que uma estilista americana se apropriou da peça e a vendia como criação sua. Apesar de um pedido de desculpas, Tory Burch foi posta em tribunal pelo Ministério da Cultura do Estado Português, para que a estilista “não se demita das suas responsabilidades e corrija a injustiça cometida, compensando a comunidade poveira”. Entretanto, foi aceite um acordo entre as duas partes.