JOSÉ ANDRADE
Enquanto as ‘boas almas’ reclamam contra a prisão do luso-angolano que, dizem, e eu nesta coisa de ‘dizem’, vindo de um tirano, travestido ou reciclado, sou sempre todo ouvidos, de acreditar, com fé inabalável, dizem, com mais uns outros quatorze rapazes, ‘preparava um golpe contra o grande democrata Eduardo dos Santos’, outras almas, menos boas, e menos dadas a esta coisa de baixos assinados contra prisões, vivem atormentadas com os ‘gemidos’ dos eleitos no passado dia 4 de Outubro. Gemidos que, são mais ou menos pungentes, consoante a cor e o paladar, sendo que o ‘chupa-chupa’ tem por base o mesmo açúcar de um único pote. Um tormento este resultado da expressão nas urnas da vontade popular do indígena nacional/portuga. Tormento, porque uns perderam a maioria. Aflição, porque outros, cansados de manifestações de indignação e outras coisas violentas, como passear um cartaz a dizer baboseiras, acham que é tempo de saborear o remanso do poder. E, entre aflições, tormentos e outros sofrimentos que tais, esgrimindo a ‘ética’, o ‘passado’, a ‘tradição’, sempre com os ‘superiores interesses do povo e de portugal’ em lugar destacado na lista palavras bonitas a usar nestas circunstâncias, a nova vaga vai de filhos do sistema, abrindo caminho com troca de cartas, umas visitas em comitiva ás sedes partidárias, e um coro insultos à inteligência, matemática e sensatez. É a ‘alta política’ portuguesa em todo o seu esplendor. Os bares e restaurantes, penso que por culpa da troika e da sua sucedânea, a crise, obrigou também a classe possidente que vagueia por Lisboa, a ter de fazer escolhas mais dentro das suas posses. Gente boa esta! Como diria um impoluto autarca, ‘gente do povo’, gente que ouve o povo, bem, desde que o povo seja o deles, vote neles, os mantenham lá, perto do pote. Mas, o tal povo, esse, anda preocupado com o clima político que desta ida ás urnas no dia 4 de Outubro resultou?
Penso que não! Como diria alguém: – o povo é sereno. Manso.
Uma mansidão que disfarça a cobardia, o comodismo, o gosto pela canga. E também, porque quem não tem tempo, nem vontade de participar, ainda que pelo voto em branco ou nulo, não deve tem direito a ter achaques de preocupações, por maior açorda política que o país viva. O voto é secreto, dirão as boas almas! Pois é. Felizmente, nuns casos, infelizmente, em muitos mais. O voto é secreto, a ignorância uma bênção, e a conta a pagar, fica sempre por conta dos mesmos. os que acreditam nas almas boas, ainda que saibam que de promessas está o inferno cheio, e a realidade um filme de suspense e terror.
O anedotário popular português tem uma expressão menos delico-doce que a brasileira ‘chorar sobre o leite derramado’, para dizer, que ‘não vale a pena lamentar o que já passou’. Portanto, não adianta, ou de nada adianta, vir agora dizer, ‘se eu soubesse!’. Na Zâmbia, perante a crise instalada, o presidente pede que rezem. Cá, uma boa solução, é rezarem pelo presidente.
Contados os votos, conferidos os resultados, decididamente somos um pais de gente ‘fina’, superiormente ocupada, saudavelmente interessada na sua vida. Duvidas?! Aí está o generoso e saudável aumento da percentagem dos abstencionistas nas recentes eleições.