O arco, o circulo e a corrida

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ABEL MAIA

O arco da governação está prestes em transformar-se em (quase) círculo da governação. Momentos únicos na nossa história politica mais recente. Os resultados eleitorais e a vontade dos partidos mais representativos à esquerda permitem que se encontre uma maioria parlamentar que pode servir de base a uma solução de governo que de algum modo contraria a leitura imediata dos resultados eleitorais. Não se fala em inconstitucionalidade ou em ilegalidade, fala-se em ilegitimidade politica e em tradição, para contestar uma solução que, tendo a maioria dos deputados a favor, se apresenta como a única que essa maioria pretende viabilizar. Outros dizem ser um passo arriscado do PS, do BE e da CDU – ainda não sabemos onde ficará o PAN -. Não sejam eles capazes de se entender e não seja frutuosa a governação que vão viabilizar e a Direita aparecerá em força por muitos anos, é o que vaticinam os mais afoitos defensores do arco. Não tenho essa leitura catastrófica e que no fundo se assusta com uma certa ideia de que há partidos que não são suficientemente alinhados com o status quo para poder estar no centro de uma qualquer solução governativa. Pelos vistos não estarão no governo, mas apenas na base do apoio parlamentar – preferia que estivessem no governo –, o que não diminui a necessidade de manterem posturas de responsabilidade e lealdade com o governo que vier a ser empossado. Como sou por natureza otimista não vejo porque não tenha de funcionar bem e quem sabe, se inaugure uma nova forma de os eleitores e posicionarem na hora do voto. Serão tempos difíceis e todos temos incertezas, mas também por isso o entusiamo e a esperança devem persistir. Em Vila do Conde, os motores começaram a aquecer para que as rodas circulem na corrida autárquica. A presidente da Câmara colocou-se já ao volante, numa espécie de primárias internas. Disse, por agora, algo do género, estou disponível, assim o PS o queira. Não disse mais do que qualquer socialista com responsabilidades diria. Mas disse com a vantagem de ter sido a primeira a fazê-lo e com a vantagem de ter feito a corrida anterior. Ainda faltam dois anos e não me parece que o PS vá decidir tão cedo. Nunca o fez a tanta distância, embora a tanta distância nunca ninguém duvidara no passado de quem seria. Porque será que agora as certezas não são tantas?