Há uns meses atrás, corria ainda, o ano de 2017, fui a Vila Real e dirigi-me à central de autocarros da nossa cidade, onde esperei naturalmente, como as outras pessoas, que ali se encontravam, pelo autocarro que nos levaria ao destino pretendido. Estando cada um dos passageiros, perdidos nos seus pensamentos, como é natural. Mesmo assim, sempre atentos, ao que e a quem nos rodeia.
Aquele dia, não foi exceção.
Entre os presentes, um senhor, que se encontrava com outros familiares, um pouco mais afastado do banco de madeira, onde eu me encontrava, olhou e sorriu para mim. Eu pensei e disse-o de imediato: – Ah, conheço-o! Há tanto tempo que não o via!
Ali começou despreocupadamente e descontraidamente, uma interessante e saudosa conversa, que durou até Vila Real. Tornou-se por isso, uma viagem de imenso agrado para mim, onde foram lembrados momentos e tempos já passados.
Tive a felicidade de ir sentada, ao lado do Sr. Santos, que foi carteiro durante trinta e quatro anos, na minha freguesia de Argivai e também na freguesia de Beiriz.
De facto, há muitos anos que já não o via e foi curioso, como sempre o é, quando encontramos alguém, assim por acaso. Nota-se que o dia fica saudavelmente preenchido.
Ele lembrava-se bem mais de mim, em pequena, mas reconheceu-me bem pelo rosto.
Entre sorrisos, entrecortados pela paisagem que se vislumbra através da janela e pelas perguntas que eu própria, lhe fui fazendo, este passageiro especial, foi também ele, discorrendo um pouco, sobre a profissão de carteiro.
Até ao 25 de abril, os carteiros deixavam as cartas e as encomendas nas lojas das aldeias e depois as pessoas, ao irem à respetiva loja, levantavam o que lhes pertencia. Só após este período, é que o país começou a evoluir em muita coisa, nomeadamente, ao ser obrigatório às ruas terem nomes, e às casas, terem obrigatoriamente números. Aí sim, começou a verdadeira tarefa dos carteiros, ao terem de, na sua cabeça, desenhar mapas de topónimos, de casas e de rostos, de toda uma comunidade.
“Ser carteiro leva-nos a conhecer ao pormenor toda uma comunidade. Aos poucos, vamos aprendendo a decorar ruas, lugares e naturalmente, o mais importante de tudo: as pessoas, a quem queremos, que cheguem as cartas tão desejadas. Eu, por exemplo, lembro-me bem de ver os teus irmãos, o José e o Vasco a irem para o liceu, fizesse chuva ou fizesse sol e pensava sempre, com carinho, nos teus pais, por terem conseguido a incrível façanha de dar um curso superior a 9 filhos. A tua irmã Helena reconhecia bem o som da minha mota e vinha logo a correr, era aliás, quase sempre ela que com muito gosto, recebia as cartas. Claro que também te conheci em pequenota, andavas por lá discreta, entre tantos irmãos e irmãs, uma grande família. Guardo muitas lembranças e muitas pessoas povoam o meu pensamento. Quando vou na rua é comum, as pessoas também se lembrarem de mim”
Ainda hoje, encontra-se na Junta de Freguesia de Argivai, uma espécie de armário em madeira, dividido em vários compartimentos que distinguem ruas e códigos postais. Esse armário, conhecido como régua, foi feito pelo Sr. Santos. É utilizado para organizar todas as cartas, envelopes, revistas e correio em geral, para que depois o atual carteiro ou responsável, possa fazer a correta distribuição pela aldeia.
Todas as viagens são enriquecedoras, basta que as aproveitemos ao máximo.
Sofia Teixeira