Por diversas vezes, dou por mim, a pensar em como seria, se os nossos antepassados por cá passassem de novo. Mesmo tendo saudades imensas dos meus que já partiram e de outros familiares que nem sequer cheguei a conhecer, compreenderia que se tal regresso, fosse possível, que a estadia não seria muito duradoura. Basta pensar que se todos quiséssemos a mesma coisa, como diz um velho senhor que conheço: Já não cabíamos cá todos! É um facto. Daí que a estadia, seria mais como que uma pequena visita. Como seria? Quanto espanto e surpresas sentiriam, ao ver, por exemplo, as profundas alterações, pela qual a freguesia de Argivai passou ao longo dos tempos.
Já ouvi, por diversas vezes, pessoas referirem-se ao Anjo, como estando descaracterizado, por não ser nem aldeia, nem cidade, obviamente. Em parte, tem um fundo de verdade, porque de facto a terra de grandes lavradores, ainda o é, embora que haja cada vez mais zonas habitacionais e por estar tão perto da Póvoa de Varzim, parece uma continuação da cidade. Claro que com a nova organização administrativa das freguesias tornou-se um processo mais complexo e delicado, o preservar da identidade de cada freguesia. Acredito porém, que este trabalho de preservar a identidade cabe a cada um de nós.
Mas, independentemente de como está agora, independentemente de como as fronteiras se confundem, independentemente do que parece ou não, é fundamental saber-se a história toda. Preservar e manter o passado, lembrando a profunda importância que Argivai sempre teve e terá na história do concelho, sendo que a Póvoa é filha de Argivai e não o contrário. Argivai é única e com identidade muito própria.
Sendo que Argivai ficou conhecida entre outras coisas, como terra de espancadores e tenham calma, os que leem estas linhas, lembro que este nome advém da antiga tradição do jogo do pau, que foi praticado por estas bandas. É certo porém que segundo os mais velhos, graças a essa habilidade exímia, os argivaienses, afastavam os que queriam vir “roubar” as nossas donzelas. Homens de garra, sem dúvida alguma!
No entanto os tempos mudam, o relógio da vida continua nas suas voltas incessantes e poucos são os que se lembram do muito que por cá havia.
Há que lembrar!
Por respeito aos vindouros, por respeito a nós mesmos e muito em especial por respeito aos que já partiram, mas que com os seus diversos atos/feitos/atitudes contribuíram para a nossa história comum.
Se passarmos agora pela Capela da Nossa Senhora do Bom Sucesso e virmos o quão bela está a ficar, graças ao restauro ainda em curso, penso em muitas pessoas, penso nas fotografias antigas com o meu avó paterno, junto a um dos andores em dias de festa, são tantas as memórias que acorrem ao meu pensamento.
Lembro-me sobretudo de uma senhora em particular e do quanto ficaria satisfeita, se cá viesse fazer uma visita. Uma senhora muito especial assim como os seus conterrâneos que tudo fizeram, para que de uma simples cruzinha surgisse uma capela. Como se sentiria Mariana Lopes ao ver que uma comunidade inteira se está a unir para preservar um passado, um presente e um futuro que é de todos?
Sofia Teixeira