Tempo esquecido

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Se há coisa que a quarentena nos tem permitido é em pensar no quão, pequenos somos. Os que se acham mais do que os outros, os que se acham menos, os que não acham nada. Na hora da verdade somos todos iguais! O covid 19 não escolhe nem classes, nem idades, nem credos. Pomos as mãos à cabeça sobre o que nos está a acontecer. Ainda preocupados com os imbecis que não cumprem as regras para a segurança de todos.

Mas pensemos nos homens que foram para a I Grande Guerra, para a Segunda Grande Guerra, para a Guerra Colonial, sabendo que os que se salvaram, nunca mais vieram os mesmos. Pensemos nos homens e mulheres que viveram em pleno crash de 1929. Pensemos nos homens e mulheres que passaram pela fome. Pensemos nos homens e mulheres que passaram pela gripe espanhola. Devemos concluir que não somos diferentes de outras épocas nem de outras tragédias.

Nos Registos Paroquiais é possível ler, ao longo dos séculos as múltiplas causas de morte de tantos desconhecidos e desconhecidas. Desde “amanhecer morta” ou morreu de “maleita”. Os nomes atribuídos são apenas nomes nas intrincadas tentativas de explicação para o que não conseguimos controlar.

O Covid 19 é mais um nome que vai constar das fileiras de doenças e que será explicada por futuros professores de História. Graças à Ciência, apesar de pouco, sempre sabemos mais dos que os nossos antepassados, sabiam de outras doenças que enfrentaram. E no entanto a nós só é pedido que fiquemos o mais possível em casa, que lavemos com mais frequência as mãos, que usemos máscara, que espirremos para o cotovelo.

É assim tão difícil? Estamos a viver um tempo que não pensávamos viver. Estamos a reviver um tempo que pensávamos esquecido, um tempo que a História ciclicamente nos lembra que tem de acontecer. Seja para afunilamento populacional seja para acalmar o ritmo louco e acelerado da nossa vida.

O que irá mudar? Como será o depois?

Sofia Teixeira