O meu artigo desta edição prende-se com um tema que muitos já ouvimos, repetidamente, falar na televisão, mas que muito poucos sentimos, efetivamente, acontecer.
Apoio da Banca às pequenas e médias empresas!
O momento que vivemos é único e revestido de uma enorme incerteza. Será que o confinamento a que estamos obrigados, por força das atuais circunstâncias, resolverá o assunto como um todo? Será que a economia voltará a “respirar” em maio e junho e teremos uma recuperação económica vigorosa? Será que teremos uma segunda vaga de infetados que levará a que tenhamos um segundo semestre cheio de hesitações e cheio de condicionantes na nossa acção diária?
Podemos refletir sobre todos estes pontos e muitos outros, mas a minha maior dúvida e preocupação, neste momento, é entender como estão a ser geridos os auxílios e apoios públicos para as empresas e para a manutenção do emprego.
Todos sabemos que o crescimento económico e a criação de emprego estão hoje em dia interligados. Vejamos o exemplo de Portugal que registou em 2018 e 2019 um dos índices mais baixos de desemprego da última década, fruto do que era o crescimento económico e a dinâmica de investimento e de expansão económica. Momentos em que a banca era ágil a aprovar linhas de financiamento e créditos ao consumo, sem precedentes. Em 2019 batemos record de endividamento privado no crédito ao consumo, fruto de uma estratégia de estímulo a este nível.
Hoje, pelo contrário, é importante refletirmos sobre o comportamento da Banca Portuguesa para com a realidade desencadeada pela crise provocada pela pandemia COVID-19.
Os relatos que tenho recibo de centenas de empresários não são os mais animadores e não nos deixam muito satisfeitos.
O apoio bancário nunca foi tão importante para a economia e para as empresas, pois vivemos momentos únicos de quebra de tesouraria proveniente do encerramento forçado dos nossos negócios. Vivemos momentos em que as empresas precisam de ter um auxílio na obtenção de margem de tesouraria para fazer face aos seus custos diários que continuam a existir e para suprir a falta de receitas, visto que a maioria dos negócios estão encerrados.
Assim, interrogo-me se a banca vai olhar para os empresários como parceiros, se vai orientar-se pelas indicações do Governo e pelo apoio do Senhor Presidente da República e vai aprovar linhas de financiamento. Não! Um redondo não!
A banca não está a ajudar. A banca tem tido um comportamento inaceitável! Tem exigido o encerramento de contas de 2019, quando todos sabemos que as contas têm obrigatoriedade legal, este ano, de serem apresentadas ate final de junho. A banca tem exigido documentos e mais documentos, numa excessiva exigência face ao que é a garantia do estado e a garantia das entidades públicas, em caso de mora ou não pagamento.
O estado, e bem, apresentou um modelo de financiamento com garantia como uma medida de apoio às empresas e essa medida até poderia apresentar-se como uma solução válida se existisse aprovação rápida, eficiente e com juros controlados.
Temos relatos de vários empresários com taxa de juro de 3.25%, quanto todos sabemos que há bem menos de dois meses os bancos aprovavam com 1.5% ou menos. Isto não será oportunismo da banca?
Temos recebido relatos e queixas de que o estado está a cobrar imposto de selo nestes créditos. Não seria o mínimo o estado, neste momento excecional, não onerar os empresários a pagarem mais uma taxa? Obrigar as empresas que estão a ser estimuladas a solicitarem créditos para manterem empregos, a terem de pagar imposto de selo sobre esse crédito?!
Não sinto que seja justo colocar o empresário refém da banca e numa constante ida e vinda de documentos para solicitar um apoio que o Estado na televisão o anuncia como sendo simples e rápido.
Não tem sido assim!
O número de empresas apoiadas tem sido muito baixo e o número de empresas a necessitar deste apoio é elevado. Urge que se faça algo no sentido de a banca ser justa e agora ajudar a economia a crescer. Porque nunca me irei esquecer que na crise de 2008 obrigaram todos os contribuintes a dar dinheiro aos bancos e todos os portugueses cooperaram e participaram com os esforços do seu trabalho para ajudarmos a banca. O mínimo que se exige agora é que a banca não se esqueça do que lhe fizemos.
Para concluir gostaria de dizer que este momento que vivemos é muito especial e gostaria de apelar a todos os bancos e todos os banqueiros que sejam mais humanos, mais sensíveis e mais céleres.
Todos somos poucos para contribuir para este momento invulgar.
Ajude você também e faça com que o seu contributo seja crucial no desenvolvimento do comércio e da economia local.
AJUDE QUEM O AJUDA!
RICARDO SANTOS
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL
E INDUSTRIAL DE VILA DO CONDE