O ano letivo 2020/21 já começou, e os alunos voltaram à escola depois de meio ano em casa. Luís Diamantino, vice-presidente da Câmara da Póvoa e vereador da Educação e da Cultura, acalma as ânsias e garante que “as escolas são o local mais seguro para os nossos filhos”.
O que pediu aos diretores escolares, no arranque do ano letivo, sabendo que tudo é diferente devido à pandemia?
Eu não pedi essencialmente nada aos diretores dos agrupamentos escolares porque não é preciso pedir, eles sabem o que devem fazer. Sabem-no conscientemente e estão mais do que preparados para enfrentar o momento que estamos a viver, logicamente. Aliás, são os parceiros únicos neste momento, porque temos de contar com eles e, sobretudo, com a sua experiência. São todos muito experientes no que estão a fazer, na direção das suas escolas e agrupamentos. Tivemos algumas reuniões. Uma das últimas reuniões foi com a presença do senhor delegado de saúde e de uma médica que também estava a acompanhar este processo e que vai fazer a ligação com todas as escolas do conselho.
Quisemos criar um canal muito aberto entre as direções das escolas e a autoridade de saúde da Póvoa de Varzim. O senhor delegado, uma pessoa inexcedível, quis estar presente e estivemos a conversar sobre os problemas que poderíamos enfrentar, a projetar o que seria o futuro próximo, que é sempre quase impossível de prever. Estivemos a esclarecer algumas situações, se acontecessem como deveriam ser resolvidas.
Penso que foi bom para todos nós, embora haja sempre muitas dúvidas, mesmo com as normas sanitárias que temos. Portanto, é isso que se tenta fazer, na possibilidade daquilo que temos, das escolas que temos, do pessoal não docente, do número de professores que temos.
É um apelo à responsabilidade dos alunos, pais e professores?
Exatamente. Temos tido uma excelente colaboração das Associações de Pais, que são pessoas que compreendem perfeitamente tudo o que se está a passar e que fazem parte da solução e nunca do problema. Eu peço sempre que os pais e as associações façam passar a mensagem de que é preciso não entrarmos em alarme despropositado e que ficar infetado pode acontecer a qualquer um de nós. Portanto, não devemos ostracizar os jovens, as crianças, as famílias que por acaso estejam infetadas. Pelo contrário, devemos ajudar, apoiar, colaborar. É isto que a Câmara e a comunidade têm feito ao longo destes últimos meses. Os pais compreendem isto perfeitamente e os professores também. Portanto, a escola em si é um dos lugares mais seguros para os nossos filhos, isso sem dúvida nenhuma. As regras estão estabelecidas, planos de contingência existem e foram aprovados pela autoridade de saúde. Tentamos fazer tudo que fosse possível e impossível para que tudo esteja em ordem.
Temos visto como os professores trabalham com os meninos pequeninos. Começam por sensibilizar, por mostrar o que deveriam fazer sempre que chegam à escola, dizem que têm os seus espaços fixos. É evidente que cada um de nós tem de se preocupar, sobretudo, em defender a si e aos outros, e praticar todas as normas que nos são continuamente ditas através dos órgãos de saúde. Mas, sobretudo, as crianças também têm direito à brincadeira. Os psicólogos todos dizem isso. Têm direito a estar com os seus amigos. Nós não podemos cortar isto, é o mínimo que elas precisam. Por isso, entendo que a DGS não obrigue que os meninos tenham o uso de máscara e tudo mais. Mas sabemos que há escolas que pedem isso.
Acredita que as crianças podem ficar marcadas por esta fase mais negativa?
Se nós refletirmos profundamente sobre isto, podemos tirar várias conclusões positivas e negativas. Eu e os pais sabemos que os nossos filhos, as crianças, conseguem ultrapassar todas as dificuldades. Há um poder de adaptação extraordinário. E depois, quando as coisas se revertem, elas também conseguem adaptar-se novamente. São fantásticas, não ficam com bichinhos na cabeça como os adultos ficam, de uma forma geral. Eu penso que, quando isto passar, e tem de passar, as crianças vão conseguir ultrapassar tudo. Nos mais velhos é que será um pouco mais complicado, sobretudo nas idades mais avançadas.
Como verificamos, o número de consultas nos psicólogos aumentou extraordinariamente. As pessoas vivem momentos de sofrimento devido à solidão. Nós andamos até agora a dizer aos nossos idosos que saiam de casa, vão praticar desporto, encontrem-se uns com os outros, vão para centros de dia. Não fiquem em casa porque é prejudicial. E, neste momento, o que estamos a dizer? Fiquem em casa, não saiam de casa, estejam sozinhos. Felizmente, a Câmara Municipal tem feito um acompanhamento todos os dias aos utentes que iam aos centros de dia, telefonando, conversando. Temos recebido emails e bilhetes escritos dos nossos utentes a agradecer o acompanhamento. Para muitos deles, aquela conversa diária já os anima e lembra-os que vão poder voltar a frequentar os centros com os seus amigos.
As escolas são locais seguros?
Há pessoas que dizem que as turmas deviam ser todas pela metade. Ora, isto iria fazer com que o país precisasse do dobro das escolas, dos professores, e mais do dobro do pessoal não docente. Isto não é possível. Toda a gente sabe que há escolas que têm muitas turmas de 28 alunos. Agora, a maior parte conseguiu que certas salas fiquem só para certas turmas, para ser sempre o mesmo aluno a sentar-se sempre no mesmo lugar. Mas isto não impede que na mesma mesa estejam dois alunos. Para mim, isto não é o mal.
As escolas são, de facto, o lugar mais seguro para os nossos filhos. A minha filha já esteve, para a preparação dos exames, dois meses na escola, sem problemas. Fez os exames e tudo mais. E agora volta para a escola novamente, e está numa turma de 28 alunos. Na escola, há o plano de contingência e todos os elementos da escola sabem a sua função. Não há grandes intervalos, por isso não há grande ligação entre todos, e é tudo higienizado.
A questão estará, talvez, na rede de transportes…
Nem tem a ver com os transportes. Tem a ver essencialmente com a vida que se faz fora da escola. Os nossos jovens, durante o verão, estavam todos na brincadeira, o que também é necessário. Estavam na praia, nos parques, nos cafés, todos juntos e sem máscara. Agora que vão para a escola, onde está tudo normalizado, é isso que mete medo? O resto não metia medo?
Regra geral, sabemos que os jovens são assintomáticos ou não são atingidos fortemente pela doença. O que vai acontecer é que se vão detetar, com certeza, jovens e crianças infetados porque a família está infetada. Faz-se logo a ligação. Não é a escola em si, são estas ligações.
Tenho tido reuniões com a autoridade de saúde e tem-se visto que grande parte das infeções não passam pelo local de trabalho, mas são importadas. Tem sido nas festas familiares e jantares de amigos, porque as pessoas estão mais desprevenidas, à vontade, mas não vivem todas no mesmo agregado familiar. Depois, as coisas acontecem.
Fala-se muito da escola, mas ela será o reflexo daquilo que acontece cá fora. O que eu peço sempre é que mantenhamos todos a calma. As coisas estão todas regulamentadas e vão acontecer naturalmente, no contexto em que estamos. Temos que enfrentar tudo isto, desta forma.
Mas na rede de transportes, está tudo assegurado?
A rede de transportes é transporte público. Tivemos uma reunião também com as transportadoras. O meu colega responsável pela mobilidade tem estado sempre em ligação com a Área Metropolitana do Porto, que é a autoridade dos transportes na região. Pedimos sempre aos diretores para, em conjunto com as transportadoras, tentar fazer com que o horário se adapte. Agora, não podemos exigir que se vá buscar um ou dois alunos para os trazer para a escola. Mas temos de ir vendo como as coisas vão resultando. Vai ser avaliada esta primeira semana e, na medida do possível, vamos resolvendo.
“Investimento de 14 milhões de euros”
A vida continua, e o município continua a fazer investimentos, nomeadamente nas infraestruturas escolares. É uma aposta para continuar?
Nunca houve tanto investimento na Educação neste município. Não é só nos últimos anos, é nunca desde que conhecemos a Póvoa como Póvoa. Quando falamos em cerca de 14 milhões que estamos a investir da Educação nestes dois anos, falamos numa aposta. Temos uma forma de pensar diferente do que muitos municípios de Portugal.
Houve uma moda, que passou logo, que era de fazer mega agrupamentos, grandes escolas para levar os meninos todos para lá. Houve Câmaras que fizeram isso e transportavam os miúdos das várias freguesias para lá. Nós nunca fizemos isso e continuamos a achar que estamos certos nesta decisão.
Não podemos deixar desaparecer a escola de proximidade, que é muito importante. É uma referência, e defendo que deve ficar pelo menos uma escola por freguesia. Assim, os alunos que queiram ir almoçar a casa vão a pé ou alguém da família vai buscá-los e, no fim do dia, a mesma coisa. Se tivéssemos tudo concentrado na Póvoa, desenraizávamos estas crianças ao ponto que os amigos, a família e a terra não lhes iam dizer nada. Assim, as crianças participam nos clubes de desporto da sua terra, nas associações culturais da freguesia. Não podemos deixar que essa identidade desapareça e se torne tudo igual. Por isso, o concelho da Póvoa de Varzim foi o único da Área Metropolitana do Porto que não fez mega agrupamentos.
Acho que estamos no caminho certo. Vamos continuar a melhorar as condições. A escola da Giesteira está em concurso, na primeira fase. Vamos lançar o concurso da escola das Machuqueiras, em Laúndos. Entretanto, no Natal, vamos fazer na escola do Fieiro mais um arranjo. Já colocamos uma nova sala, mas vamos fazer um arranjo a nível externo, com a pintura, e também a nível interno, com a criação de uma sala dos professores como deve ser. Na escola do Desterro, fizemos um espaço muito bom para crianças com dificuldades de locomoção e uma sala para os professores. Estamos atentos e a responder sempre que somos instados, mas não ficamos à espera que nos desafiem. Vamos aos locais ver o que é preciso e vamos melhorando sempre cada vez mais. Estamos sempre preocupados em dar o máximo de conforto e qualidade aos nossos cidadãos.
Na obra da escola de Aver-o-Mar e na obra em que estamos a lançar novo concurso para a escola Flávio Gonçalves, a Câmara fez um investimento do seu orçamento, que deveria ser do orçamento do Estado, que ultrapassa os 6 milhões de euros. É uma verba muito significativa, mas necessária. Temos alguma verba que vem da União Europeia, que era para as escolas do primeiro ciclo, e nós mandamos para as escolas EB 2/3. São os nossos meninos e temos de zelar por eles.
Nestes investimentos tem havido um atraso significativo na Flávio Gonçalves. É uma situação que o preocupa?
Já me tirou muitas noites de sono, mas é algo que nós não conseguimos controlar. É burocracia, é o tempo de espera para o lançamento de concurso, para a abertura das propostas, para a audição, a assinatura do contrato. Poderiam ser mais céleres. Mas é assim que funciona e nós estamos sujeitos a essas normas. Também estamos dependentes das empresas, como se viu tanto em Aver-o-Mar como na Flávio Gonçalves. Em Aver-o-Mar, correu bem da segunda vez, na Flávio Gonçalves ainda não chegamos lá.
Acredita que à terceira seja de vez?
Eu acredito em tudo e quero acreditar. Espero que sim. Vamos ter de fazer a escola o mais depressa possível. O senhor presidente da Câmara espera que, no próximo ano, os nossos meninos tenham uma escola completamente renovada.
Com todas as condições que a Flávio proporciona aos alunos e aos docentes, consegue levar isto avante mais um ano?
Sim. Nós temos lá, como disse a senhora diretora, contentores que já funcionaram o ano passado. Vamos ter mais contentores para pegar naquela obra e levá-la para a frente de uma vez só. O meu desejo é que a empresa que pegar naquilo, pegue como a empresa da escola de Aver-o-Mar, que acabou com uma antecedência de dois meses. Ficou uma escola fantástica, confortável, lindíssima, e que deixa o diretor e os pais satisfeitíssimos.
Todos queremos ter uma casa muito boa e confortável, mas uma casa não são só paredes, telhados e janelas. Uma casa é a gente que a ocupa. As pessoas que estão dentro da escola é que a fazem. A prova é que a escola de Aver-o-Mar, ao longo dos anos, tem melhorado nos rankings nacionais, graças às pessoas que lá vivem. Os professores, os funcionários, a direção.
É o que acontece também na Flávio Gonçalves. Eles estão ali, não desistem e vamos todos conseguir, em parceria constante. A Flávio Gonçalves tem esses contentores que têm ótimas condições, com ar condicionado e tudo. Logo ligado à Flávio, temos o pavilhão municipal, onde os meninos fazem a atividade física e desportiva, que tem condições excelentes, sempre melhor do que qualquer pavilhão escolar.
Eu sei que pais, direção, professores, funcionários e Câmara Municipal estão todos no mesmo lado, para conseguirmos o melhor possível. Tenho a certeza que, no próximo ano, vamos todos para a escola renovada.
Em termos da manutenção das cantinas escolares, do apoio escolar, mantém-se como nos anos anteriores?
Sim. A nível da alimentação, investimos para cima de meio milhão de euros por ano, para primeiro ciclo e pré-escolar.
E no apoio aos livros?
Também temos apoio ao material dos alunos do primeiro ciclo. Aliás, passamos um voucher que eles levam às livrarias que quiserem. O material escolar é cerca de 13 mil euros. Também damos as fichas dos livros, porque o Ministério da Educação disponibilizou os manuais, mas não as fichas que vêm com eles. Para os alunos de primeiro escalão, pagamos a ficha; para os alunos de segundo escalão, pagamos 50% da ficha; para os outros, eles têm de pagar porque podem pagar. Eu defendo e sempre defendi que quem pode pagar os livros e o material escolar, deve pagar. Quem não pode, não paga. É a isto que chamo justiça social. Não é dar uma coisa que eu não preciso, porque posso pagar. Eu não quero que o Estado dê os livros da minha filha, eu pago.
O autarca Luís Diamantino é uma pessoa confiante para este ano letivo?
Eu sou um vereador confiante, nunca tive razão para desconfiar das pessoas que trabalham comigo na Póvoa de Varzim. Confio inteiramente em todos os diretores das escolas da Póvoa, porque são pessoas que sabem o que fazem. Cada agrupamento de escolas tem o seu rumo, a sua imagem, que se confunde muitas vezes com o diretor. Isso não é mau, porque as pessoas que lideram as instituições são aquelas pessoas que indicam o rumo. É preciso que haja uma referência. Cada vez mais, temos as nossas escolas mais bem preparadas a nível de equipamentos, mas também a nível de direções. Há um crescendo, e vejo isso todos os anos nos resultados escolares, em comparação com períodos análogos anteriores. Quando é assim, só me posso sentir satisfeito.
Também temos os pais e as associações de pais que compreendem as dificuldades, que tentamos resolver sempre em conversa e consenso, nunca em disputa. Estamos todos do mesmo lado, o lado da Educação e das nossas crianças. Há coisas que não conseguimos resolver imediatamente, mas nunca desistimos.