O agora em que vivemos parece irreal.
Mal habituados que estamos por achar que quase todo o mal se passa lá longe, sendo o nosso país um cantinho do céu.
Está visto que também os cantinhos do céu sofrem como os outros, como todos os outros cantos e cantinhos, deste grandioso planeta.
Agora é o momento em que vivemos confusos, preocupados e assustados com o que aí vem. Devemos tentar abstrair-nos um pouco, das notícias e dos números, que em catadupa, entram todos os dias, nas nossas casas e que nos amarram, sem piedade a uma realidade que mais parece um pesadelo.
Não nos enganemos, este agora, vem para durar algum tempo.
Quem se passeia, sem respeito pelos outros, deve ser punido, sendo que nesse campo, acho que o nosso município está a tomar as medidas exatas.
A todos os que respeitam o isolamento social um grande bem-haja pelo esforço e pelo sacrifício. A todos os que têm saúde, aproveitem para ler, para ouvir música, para refletir sobre os nossos passos, nesta vida que nos ensina continuamente o quão curta é.
Ainda não é proibido sorrir, nem que seja um pouco.
Não é proibido ler.
Não é proibido ouvir música.
Aproveitemos este tempo, para fazer tudo aquilo que nunca tínhamos conseguido.
Possamos arrumar as fotografias que pacientemente aguardam o seu álbum de descanso. Possamos arrumar as lembranças. Possamos aproveitar as novas tecnologias para falar com quem gostamos.
Enquanto escrevo este texto, ouço uma música, que para mim, é uma obra-prima: o Coro da Capela Marta acompanhando o Aurelino Costa a recitar “Georges, anda ver o meu país de marinheiros” 1.
Ao som desta belíssima música, penso no momento em que todos vivemos. Nas preocupações e medos que só conhecíamos dos livros de História e agora, remetidos às nossas casas, ao nosso mundo interior, apercebemo-nos que tudo muda num simples sopro. Agora penso na coragem avassaladora dos pescadores que deixavam tudo para trás e se aventuravam no mar imenso e tantas vezes, pérfido. Agora penso em todos os heróis sem capa: “Bamos com Deus. Ide e voltai com ele.” 2
Neste agora, nesta vaga, em que o barco, no qual navegamos é o mesmo para todos. Sejamos corajosos, honrando também os nossos marinheiros.
1. In: NOBRE, António – Só – “Georges! anda ver o meu país de marinheiros”.
2. Idem.
SOFIA DE AZEVEDO TEIXEIRA